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Fórum debate universo do software livre

Eram pingüins, gnus, raposas e javalis. A bicharada rolou solta na capital gaúcha na semana passada. Símbolos de programas colaborativos de computador, esses mascotes foram onipresentes nas palestras, bate-papos regados a cerveja e reuniões de negócios dos engravatados na oitava edição do Fórum Internacional de Software Livre (Fisl), que ocorreu de quinta-feira a sábado.

E não faltaram ativistas da causa. Um batalhão de “nerds”, que formou longas filas no primeiro dia do evento, trazia estampado nas roupas o seu comprometimento com a causa. Parecia até um desfile.

Camisetas de todos os tipos chamavam a atenção para softwares livres como o sistema operacional GNU/Linux e o navegador Firefox, além de repudiar o “monopólio da Microsoft”.

Visitantes também usavam bonés com os símbolos bem conhecidos por essa galera. Mas o maior sucesso mesmo era uma camiseta que trazia um pingüim – símbolo do Linux – vestido de gaúcho. Custava R$ 30 e dava direito a participar do “churrasco dos nerds”, que rolou na sexta-feira. “A camiseta se esgotou no primeiro dia”, disse o vendedor.

Na opinião do carioca Bruno Wallone, de 21 anos, vestir-se dessa maneira é uma forma de se expressar. Ele trazia nas roupas os dizeres “Linux Inside”, um trocadilho com o famoso slogan da fabricante de processadores Intel. “É uma maneira de mostrar a sua filosofia de vida”, destacou o italiano Vicenzo Tozzi, de 26 anos, que vestia uma camiseta surrada com o desenho de um pingüim.

Mais do que um programa gratuito, o software livre é uma ideologia. Nesse universo, o desenvolvimento dos aplicativos não fica nas mãos de empresas, mas, sim, a cargo de uma comunidade mundial, que trabalha de forma voluntária. Podem fazer parte dela desde usuários comuns até grandes companhias. E o Fisl teve várias palestras destinadas a esclarecer esse conceito.

“Esse tipo de software é um trabalho de autoria coletiva, onde a comunidade tem acesso a tudo: desde os códigos usados na programação até a liberdade de utilizar como quiser”, explicou o cientista social Rafael Evangelista.

De acordo com um dos líderes do movimento Java no Brasil, Bruno Souza, ter acesso ao código significa ter conhecimento. “Fica muito mais fácil aprender como os programas são feitos e passar a participar da comunidade.”

Além disso, o software livre também é uma alternativa aos aplicativos proprietários como o Windows, afirmou o gerente de comunidades do projeto OpenOffice.org, Louis Suarez-Pottz. “Muita gente usa pirataria porque desconhece que há programas livres e gratuitos que funcionam bem.”

Nesse clima de liberdade, o Fisl realizou 235 palestras. A cada hora ocorriam nove palestras simultâneas, o que fez muitos correrem de um lado para o outro para não perder o início da próxima. Os temas eram os mais variados possíveis: desde discussões técnicas, como aspectos de linguagem de programação, até telefonia via internet (VoIP), inclusão digital, games e robótica.

O governo federal compareceu em peso: Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Correios, Ministério da Educação, Previdência Social, programas de inclusão digital, entre outros. Durante as discussões, os membros do governo aproveitaram para anunciar que irão migrar os computadores da Previdência para software livre e que irão disponibilizar os programas desenvolvidos pelo governo para download.

Mas a grande estrela do Fisl não foi ninguém do Planalto. Com flashes de câmeras digitais que o seguiam por todo o lugar, um velhinho com cabelos brancos e longa barba despertava a atenção. Todos queriam tirar fotos com ele.

O tal senhor era o presidente da associação Linux International e famoso peregrino na divulgação de software livre, Jon “Maddog” Hall. “Acho que me confundem com o Papai Noel”, brincou.

Enquanto isso, do lado de fora, estandes de organizações e de empresas que defendem o uso de software livre atraíam o público. O governo federal, mais uma vez, dominou a maioria dos espaços. Mas estiveram presentes empresas como Google e Sun Microsystems, que distribuíram prêmios como iPods e PCs para atrair público.

Além disso, organizações de programadores brasileiros e da Argentina e do Uruguai tentavam atrair associados.

Mas o que chamou mesmo a atenção foi o espaço da ONG Um Laptop por Criança (OLPC, na sigla em inglês). Lá foi possível ver o famoso notebook de US$ 100 – que, na verdade, custa US$ 130. O estande ficava lotado. Todos queriam tocar nas teclinhas verdes e mexer nas anteninhas para conexão sem fios à web.

O projeto prevê distribuir um laptop para cada estudante da rede pública em países em desenvolvimento. Para isso, as nações interessadas, como o Brasil, vão precisar comprar lotes com no mínimo 1 milhão de aparelhos. Os responsáveis pela iniciativa não souberam dizer se – ou quando – o micrinho vai começar a ser distribuído no País.

“Mas já estamos testando em escolas de vários países, incluindo uma em Porto Alegre e outra em São Paulo”, disse o vice-presidente de software da OLPC, Jim Gettys. “Devemos começar a produção em setembro.” É esperar para ver.


Data: 17/04/2007