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Litoral de Pernambuco abrigava monstros marinhos

Reconstituição de vertebrados marinhos mostra que choque de meteoro, há 65 milhões de anos, deu lugar a bichos menores

As mudanças climáticas provocadas pelo choque de um meteoro, 65 milhões de anos atrás, não baniram os répteis gigantes apenas dos continentes. Nos mares, monstros de até 12 metros, como o mosassauro, deram lugar a animais menores, entre eles os crocodilos. É o que comprova reconstituição dos vertebrados marinhos que habitavam a costa do Nordeste, do Recife, em Pernambuco, até Mamanguape, na Paraíba, feita pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

O trabalho, realizado a partir de fósseis de dentes de 34 animais coletados na região, revela a que espécies pertenciam, o que comiam e como era o ambiente em que viviam. Um era voador (pterossauro) e 33 marinhos (lagartos, tubarões, peixes, crocodilos e tartarugas). Entre os que sobreviveram ao cataclisma que dizimou os dinossauros, os mais numerosos são os tubarões. Somam 12 espécies na bacia geológica da Paraíba, que se estende por 250 quilômetros de costa e até 18 quilômetros continente adentro. "Eles se adaptaram às mudanças ambientais e conseguiram sobreviver, inclusive, até hoje", diz a paleontóloga Alcina Barreto, que coordenou o estudo.

Os dentes analisados são de bichos que viveram em dois tempos geológicos distintos. O primeiro, compreendido entre 83 e 65 milhões de anos atrás, pertence à Era Mesozóica. O segundo, entre 65 e 61 milhões de anos, se enquadra na Era Cenozóica. Na costa nordestina, as diferenças entre os dois deram origem a formações geológicas da Bacia da Paraíba. As mais antigas são as Formações Gramame e Itamaracá e a mais recente, a Maria Farinha.

As Formações Gramame e Itamaracá são o registro geológico de um mar de águas mais profundas, habitado não só por mosassauros, mas também por peixes ósseos e cartilaginosos (tubarões). Houve, então, uma regressão marinha e as águas ficaram mais rasas. Os vestígios geológicos desse tempo constituem a Formação Maria Farinha, em que predominam fósseis de tubarões e outros peixes cartilaginosos (raias), além de tartarugas marinhas.

"De uma forma geral, a extinção em massa ocorrida depois da queda do meteoro resultou, no oceano que banhava o Nordeste, na diminuição dos grandes répteis e no aumento dos peixes", resume Alcina.

Ela acredita que os tubarões sobrevivem há 400 milhões de anos nos oceanos por terem uma dieta menos restritiva.

"Os animais que comiam grandes quantidades de um tipo só de alimento estavam mais susceptíveis à extinção que os que se alimentavam de volumes menores e mais variados."

Os fósseis utilizados na pesquisa são das coleções da UFPE e da UFRPE. Os da UFPE foram depositados no acerco paleontológico ao longo dos últimos 50 anos.

A autora da pesquisa, a bióloga Marcia Cristina da Silva, explica que preferiu os dentes a fósseis de outras partes dos animais por serem de fácil identificação.

"Analisando uma vértebra é possível se verificar a que classe um bicho pertencia, ou seja, se era réptil ou peixe.

Mas, se a gente observa um dente, é possível dizer a que espécie pertence", esclarece Márcia, que apresentou semana passada dissertação de mestrado pela UFPE sobre o assunto.

No tempo em que os 34 animais estudados viveram, o Brasil era bem mais próximo da África do que é hoje.

Isso porque a América do Sul, a África, a Austrália, a Índia e a Antártida formavam um imenso bloco, chamado gonduana. "O ponto onde a separação ocorreu por último foi justamente aqui, na Bacia da Paraíba", explica Marcia.


Data: 16/04/2007