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Para especialista, relação do clima com economia continua sem solução

Para o climatologista Carlos Nobre (foto), do Centro de Pesquisa do Tempo e Estudos Climáticos do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), a relação da emissão de gases de cada país com sua economia ainda procura soluções cabíveis. Nobre explicou que há um conflito econômico em países emergentes, que se sentem no direito de atingir altas taxas de emissão --mas não tão altas como a que as nações desenvolvidas mantêm há décadas-- para atingir seu desenvolvimento pleno.

"Se quisermos barrar o aquecimento global, alguma coisa muito forte e muito radical terá de ser feita. Agora, como você faz uma coisa radical sem interferir na vontade das populações da Índia e da China, por exemplo, que querem ter melhor qualidade de vida?", questionou.

"Não consigo ver uma solução mágica a vista", disse, "mas a taxa de emissão da China está crescendo em um padrão insustentável a longo prazo. Nisto, não tenho dúvida"

A pergunta que devemos fazer neste debate, afirma o especialista, é "qual é a faixa ética que um país pode emitir sem deixar de lado a qualidade de vida de seus habitantes?"

Energia nuclear esbarra na questão bélica

 

Alardeada por vários cientistas como uma fonte de energia limpa quase inesgotável, a alternativa nuclear, segundo o climatologista, ainda é problemática, sobretudo por se enrolar na geopolítica planetária.

Além da produção de dejetos radioativos, a fissão nuclear, diz Nobre, "aumenta demais o risco de disseminação de tecnologia nuclear, que pode ser aproveitada para fins bélicos". "Não precisa ter tecnologia de fazer foguete [para usá-la para fins bélicos], temos a bomba suja de plutônio, por exemplo. Esse problema geopolítico é ainda sem solução."

O especialista aposta que intervenções norte-americanas iriam se alastrar pelo mundo caso a tecnologia nuclear fosse disseminada.

"Se nós disseminarmos a energia de fissão, os EUA vão se colocar na posição de guardiões da paz do mundo, dizendo: 'Você pode, você não pode.'. Isso já acontece hoje, aliás. Daqui a pouco eles vão dizer que o Brasil também não pode."

Para o climatologista, a fusão nuclear também é questionável, principalmente por conta de seus prazos. "A engenharia e a ciência têm de perseguí-la, claro, mas não é uma tecnologia trivial. Os prazos para seu uso, vocês podem reparar, estão sempre se dilatando."

Segundo o especialista, a questão chave na transição do uso de energias fósseis para energias renováveis é a queda do consumo per capita. "Não dá para manter a longo prazo um consumo per capita como o dos cidadãos norte-americanos e britânicos."

IPCC

Nobre é presidente do Comitê Científico do Programa Internacional da Geosfera-Biosfera (IGBP) e membro do Grupo de Trabalho 2 do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática), cujo relatório sobre impactos e vulnerabilidades à mudança climática será lançado em abril.

O IPCC
é a mais alta autoridade do mundo sobre aquecimento global. Foi criado em 1988 para avaliar as informações científicas disponíveis a respeito de mudanças climáticas.

O estudo do Grupo de Trabalho 1 do IPCC deixou claro que a culpa pelo aquecimento global é mesmo da humanidade e que as conseqüências serão sentidas de qualquer forma, não importa o que façamos a partir de agora. É justamente esse estudo sobre os impactos prováveis da mudança climática que será divulgado pelo Grupo de Trabalho 2 do IPCC, do qual faz parte Carlos Nobre.


Data: 06/03/2007