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Nova central nuclear pode ficar às margens do Rio São Francisco

Água usada para resfriar os reatores volta mais quente para o local de onde foi retirada; por isso o local é adequado

As margens do Rio São Francisco são o lugar ideal para a instalação de uma das centrais nucleares previstas no novo programa nuclear brasileiro, segundo avaliação da Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen). Com grande fluxo de água, o rio permitiria o resfriamento dos reatores das usinas sem maiores danos ao ecossistema, explica o presidente da instituição, Odair Gonçalves. O projeto prevê a instalação de uma central com até três usinas na região, carente no abastecimento de energia.

A água usada para resfriar os reatores volta mais quente para o local de onde foi retirada. Por isso, diz Gonçalves, é necessária uma fonte com fluxo suficiente para diluir a água aquecida. Em Angra, com a central localizada na costa, o resfriamento é feito com água do mar.

O programa prevê a instalação de uma terceira central, também com até três usinas, em local não definido. O número de plantas em cada uma ainda não está fechado, mas a idéia é ampliar em pelo menos 4 mil megawatts o parque nuclear brasileiro, hoje com 2 mil MW de Angra 1 e 2 mais a possibilidade de 1,3 mil MW de Angra 3.

"O Brasil pode ser totalmente auto-suficiente em energia nuclear, já que tem grandes reservas de urânio e domina a tecnologia para a produção do combustível", diz o diretor de comunicação da Associação Brasileira de Energia Nuclear, Edson Kuramoto, repetindo um dos principais argumentos dos defensores da tecnologia.

De fato, o país tem a sexta maior reserva mundial de urânio, com apenas 30% do subsolo pesquisado.

Segundo Gonçalves, as reservas atuais são suficientes para abastecer todas as usinas do programa proposto por 60 anos. "Há uma fila de parceiros internacionais querendo nos ajudar a desenvolver o setor, em troca de urânio."

Polêmica

O debate em torno do plano, porém, deve provocar polêmica. Gonçalves sabe disso e evitou falar sobre os locais propícios ao depósito dos rejeitos de alta atividade, que podem levar milhares de anos para deixarem de ser radioativos.

O executivo disse que o ideal é que sejam rochas de granito. "Definido o local, é preciso iniciar uma etapa de discussões com a sociedade sobre compensações."

Defensores da tecnologia afirmam que o volume de rejeitos gerados é muito pequeno, o que facilita a armazenagem. "Há ainda um processo em desenvolvimento, chamado de incineração, que reduz para até 100 anos o tempo de radiação", acrescenta Kuramoto.

No caso das usinas de Angra 1 e 2, os rejeitos estão estocados dentro dos reatores, em piscinas construídas especialmente para esse fim, que ainda têm capacidade para absorver os rejeitos de uma década de operação.

"Os EUA têm 104 usinas nucleares e apenas um depósito de rejeitos", ressalta Gonçalves.

A tecnologia gera dois outros tipos de rejeitos, de baixa e média atividade. Hoje, ambos são estocados nos terrenos da central de Angra, por falta de legislação específica.

A Cnen opera grande depósito de rejeito nuclear proveniente de atividades hospitalares e industriais na região metropolitana de Goiânia, onde estão os rejeitos de Césio 137 que foram encontrados por sucateiros em um hospital da cidade e contaminaram mais de uma centena de pessoas em 1987.

Pela proposta da Cnen, a construção das novas usinas seria feita pela Eletronuclear, uma vez que o setor é considerado, pela legislação brasileira, monopólio estatal. O executivo diz que a empresa está com boa saúde financeira e já poderia assumir as obras de Angra 3.

Em visita ao Brasil esta semana, a ministra de Comércio Exterior da França, Christine Lagarde, afirmou que a companhia francesa Areva pode participar do projeto, que demandará investimento de R$ 7 bilhões.

Exploração

Segundo o programa, a Indústrias Nucleares Brasileiras continua responsável pela mineração de urânio e produção dos elementos combustíveis. A empresa voltaria a explorar o subsolo brasileiro, em busca de novas reservas do mineral.

"Há 20 anos não perfuramos um poço com esse objetivo", diz o presidente da Cnen. Estima-se que o Brasil tenha ainda 800 mil toneladas de urânio a descobrir, o suficiente para quadruplicar as reservas conhecidas hoje.

Para que o plano seja posto em prática, diz Gonçalves, o governo terá de investir em mão-de-obra especializada. Segundo ele, a idade média dos funcionários da Cnen, por exemplo, está em torno dos 50 anos e há poucos jovens entrando nesse mercado.


Data: 13/02/2007