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Aquecimento pode transformar Amazônia em cerrado

A previsão foi feita pelo físico brasileiro Paulo Artaxo, um dos autores do relatório do Painel Intergovernamental para a Mudança Climática, divulgado em Paris

O aquecimento global pode ter um impacto drástico na Amazônia, região que pode sofrer um aumento de temperatura superior à média global e redução de chuvas, o que levaria à transformação de parte da maior floresta tropical do mundo em cerrado.

A previsão foi feita pelo físico brasileiro Paulo Artaxo, um dos autores do relatório do Painel Intergovernamental para a Mudança Climática (IPCC), divulgado na sexta-feira, dia 2, em Paris.

Em entrevista à BBC Brasil, o físico afirmou que a temperatura na Amazônia deve aumentar 5° C até 2100, uma elevação superior à previsão de 1,8°C a 4°C para o resto do mundo.

O cálculo foi feito por técnicos brasileiros do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), com base nas conclusões dos cientistas do IPCC.

"Este aumento de 5° C na temperatura da Amazônia entre 2090 e 2099 teria conseqüências drásticas para a sobrevivência do ecossistema amazônico, que poderia sofrer uma redução de sua área", disse o pesquisador do Instituto de Física da USP.

A redução da área da Amazônia ocorreria em razão não só do aumento da temperatura como também da redução de chuvas.

"Se a estação seca aumentar, se torna mais difícil sustentar o ecossistema amazônico como floresta tropical. Isso levaria à savanização da região, transformando o sul da Amazônia em cerrado", explicou.

Agricultura ameaçada

Além da elevação na temperatura, a região central do Brasil, como também o Norte e o Nordeste, poderiam registrar uma redução do nível de chuvas de até 20% nos meses de junho a agosto, a chamada estação seca, por conta do aquecimento global.

"Isso teria forte impacto na agricultura da região. Grandes investimentos em soja e biocombustíveis estão sendo feitos no centro do Brasil e pode ser que, em 30 ou 40 anos, esteja se iniciando, nessa área, um processo de desertificação", disse ele.

"A diminuição no nível das chuvas seria crítica para o ecossistema dessas áreas", afirma o físico, responsável pela elaboração do capítulo 11 (que trata das mudanças climáticas regionais) do primeiro volume do relatório do IPCC.

Ele lembra que também no sul da Europa, de Portugal, da França e da Espanha, já vem ocorrendo esse problema de falta de chuvas e desertificação.

"As projeções falam sobre o que ocorrerá até 2100, mas os fenômenos ligados às mudanças climáticas já estão ocorrendo e vão se intensificar em apenas 10 ou 20 anos", afirmou.

Apesar disso, Artaxo prefere não ser alarmista. "Não é o fim do mundo, mas temos de agir para diminuir o problema".


Data: 05/02/2007