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Satélite sai em busca de planetas como a Terra

Daqui a uma semana será lançado o Corot, da agência espacial francesa, em missão exploratória da qual participam pesquisadores brasileiros. O Brasil receberá seus dados graças a uma antena instalada em Alcântara, Maranhão

Descobrir planetas fora do sistema solar já virou moda. Só na última década foram encontrados mais de 200.

Mas até agora ainda não foi observado nenhum que se pareça com a Terra e que reúna as condições necessárias para abrigar vida como a conhecemos.

Na próxima quarta-feira, a ciência vai dar um passo importante para vencer esse desafio.

É quando será lançado o satélite francês Corot, que conta com participação de pesquisadores brasileiros e pela primeira vez terá a capacidade de detectar planetinhas rochosos tão pequenos quanto o nosso.

Hoje a tecnologia existente só consegue captar gigantes gasosos. Para se ter uma idéia, se um desses satélites hoje em atividade estivesse em algum ponto do Universo olhando para o nosso Sol, certamente só conseguiria ver Júpiter e Saturno.

A Terra, e toda a vida que ela contém, passariam despercebidas como um mero pontinho de luz.

Isso porque as observações atuais se baseiam na oscilação gravitacional que um planeta provoca em sua estrela. Essa força ocorre entre todos os corpos, mas é diretamente proporcional à sua massa.

A Terra, por conseqüência, exerce força sobre o Sol, mas é relativamente pequena, e as técnicas atuais não têm precisão suficiente para detectá-la.

A diferença do Corot (pronuncia-se 'corrô') é que ele deixa de lado a gravidade para analisar outras características, como pequenas variações da luminosidade de estrelas semelhantes ao Sol.
Com uma tecnologia muito sutil, ele pode medir a interferência que ocorre na intensidade da luz dessas estrelas durante o trânsito dos planetas desse sistema solar.

"A idéia é visualizar o mini-eclipse provocado pelo planeta. A sombra que ele provoca ao passar na frente da estrela é tão pequena que até hoje ninguém conseguiu observar, mas o Corot poderá fazer isso", explica o astrofísico Eduardo Janot Pacheco, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG-USP), que coordena a parte brasileira do projeto internacional.

Girando na órbita da Terra, o Corot passará seis meses do ano olhando em uma direção. Depois ele girará 180 graus e observará o outro lado por mais seis meses.

O objetivo dos pesquisadores é observar cerca de 100 mil estrelas nos próximos três anos, tempo de duração do projeto. "Esperamos com isso encontrar pelo menos mil novos planetas.

Desses, acreditamos que ao menos cem devem ser parecidos com a Terra", afirma Pacheco. "É a largada para encontrarmos algum tipo de vida fora daqui."

Zona habitável

Ao detectar a variação luminosa, o satélite poderá indicar o tamanho do corpo que está passando na frente da estrela, de onde os cientistas vão concluir se trata-se de um planeta rochoso ou não.
A idéia é observar a chamada zona habitável - distância que o planeta tem de estar da estrela para ter uma temperatura que seja compatível com a existência de água líquida, fundamental à vida.

Isso depende, claro, da temperatura da própria estrela. No caso do nosso sistema solar, apenas a Terra está na zona habitável, mas se de repente o Sol fosse mais frio, quem poderia ter vida é Vênus, ao passo que se fosse mais quente, existiriam marcianos.

"As grandes bolas de gás geladas que são Júpiter e Saturno não são propícias para abrigar vida. É necessário ter uma superfície sólida, a presença do elemento carbono e água líquida."

Segundo Pacheco, ao detectar os planetinhas, outros tipos de satélites ou instrumentos de busca por vida inteligente fora da Terra, como o Seti, poderão ajustar o foco e olhar diretamente para um local que ao menos em teoria pode abrigar seres vivos.

"Hoje o Seti procura vida tecnológica que possa emitir sinal de rádio, mas é possível que existam animais muito inteligentes que não sejam tecnológicos. Não podemos esperar que todos sejam iguais a nós. Aliás, tomara que não sejam", brinca.

Mas a verdade é que independentemente do mérito, o Seti hoje olha no escuro, não tem informação sobre onde pode estar um planeta com possibilidade de vida.

"O Corot vai dar essa informação e municiar outros satélites que serão lançados em 2012 justamente para procurar vida extraterrestre."

O projeto foi orçado em cerca de 120 milhões, dos quais cerca de 2 milhões foram pagos pelos brasileiros.

Entretanto o país colaborou com técnicos que ajudaram a desenvolver os softwares do satélite além de ter uma antena, localizada em Alcântara (MA) que vai receber os dados do espaço.

Pelo menos 80 pesquisadores brasileiros estão envolvidos no projeto.


Data: 20/12/2006