topo_cabecalho
Concorrência menor?

Censo revela queda na relação candidato/vaga das universidades e faculdades do país


Nunca foi tão fácil entrar em uma instituição de ensino superior privada. Se o estudante quiser uma chance em uma universidade pública, a relação candidato/vaga também está menor. Em 2000, o vestibulando precisava enfrentar quase nove candidatos para conseguir uma vaga em uma instituição pública. Cinco anos depois, o número caiu para 7,4. No ensino pago, a queda foi de 50%. Em 1997, eram 2,6 alunos para cada vaga. Ano passado, 1,3. “Está mais fácil entrar no ensino superior. A concorrência geral caiu significativamente”, observa o diretor de Estatísticas e Avaliação do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep/MEC), Dilvo Ristoff.

 

Os números do Censo da Educação Superior, divulgados na última semana pelo Ministério da Educação (MEC), mostram que o Programa Universidade para Todos (ProUni) influenciou fortemente o sistema de ensino superior. Pelo menos duas causas para a queda na concorrência do vestibular estão relacionadas ao programa. Com o ProUni, muitos bons alunos que tentariam concorrer a uma vaga em uma universidade pública acabam optando por um curso com bolsa integral em uma das instituições particulares que participam do programa. Além disso, o ProUni foi responsável pelo crescimento da oferta de universidades, faculdades e centros universitários pagos. Todos de olho na isenção fiscal oferecida pelo governo em troca das bolsas e de novos alunos.

 

Apesar da notícia, Artur Braga, 19 anos, não acredita que a queda na concorrência facilite o acesso ao curso superior. O jovem tenta, pela terceira vez, garantir uma vaga no curso de psicologia da Universidade de Brasília (UnB). Para ele, o problema não está na relação candidato/vaga, e sim na quantidade de vagas. “As notas de corte continuam altas, e é isso que importa. As pessoas que desistem de se inscrever no vestibular seriam eliminadas de qualquer maneira por causa da nota, elas não estavam realmente competindo”, argumenta Artur. Na avaliação do estudante, que não pretende desistir tão cedo de entrar em uma universidade pública, só o aumento das vagas poderia facilitar a entrada no curso desejado.

 

Os dados do Censo mostram que o jovem estudante está certo. Atualmente, existe uma sobra de 42% de todas as vagas. Na prática, isso quer dizer que as instituições têm professor e estrutura para receber os alunos, mas não conseguem ocupá-los. Essa sobra é quase que totalmente conseqüência do ensino privado. Enquanto apenas 1,9% das vagas de universidades federais ficam ociosas todos os anos, nas instituições pagas o número é de 47%.

 

Para se ter uma idéia, pelo terceiro ano seguido, a oferta de vagas no ensino superior foi maior do que o número de concluintes do ensino médio. Em 2005, 1,8 milhão de estudantes terminaram o ensino médio, enquanto as faculdades e universidades públicas e privadas ofereceram 2,4 milhões de novas vagas.

 

O irônico é que a expansão do ensino superior será insuficiente para que o Brasil cumpra a meta de colocar 30% dos jovens de 18 a 24 anos na universidade até 2011, como previa o Plano Nacional de Educação (PNE). Isso porque, segundo o Censo, o número de novos universitários cresce num ritmo menos acelerado do que deveria. Em 2005, o ano pesquisado, 10,9% dos brasileiros nessa faixa etária estavam na graduação. Um ano antes, o número era apenas 0,5% menor. “Isso mostra que o sistema atual chegou a um certo esgotamento”, argumenta o ministro da Educação, Fernando Haddad. “As pessoas dependem de ensino gratuito ou fortemente subsidiado.”


Confira

 

A disputa por vaga nos últimos 10 anos

 

        Públicas  Particular   Total

 

1994    7,3          2,4         3,9
1997    7,4          2,6         3,9
2000    8,9          1,9         3,9
2003    8,4          1,5         3,3
2004    7,9          1,3         2,2
2005    7,4          1,3         2,1


Data: 18/12/2006