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20% dos paulistanos têm síndrome ligada à obesidade

Conjunto de doenças aumenta em três vezes riscos de morte por enfarte ou derrame cerebral

De cada cinco paulistanos, um sofre da chamada síndrome metabólica, um complexo conjunto de doenças decorrentes da obesidade e que aumenta em três vezes os riscos de uma pessoa morrer de enfarte ou derrame cerebral.

Preocupante, o número faz parte de uma ampla pesquisa feita pela Secretaria de Estado da Saúde em todas as regiões da cidade de São Paulo. O estudo verificou a alimentação, o hábito de fumar e o peso - os resultados, já publicados, também não foram animadores. No caso da síndrome metabólica, as conclusões foram divulgadas no mês passado, em Florianópolis, no Congresso Latino-Americano de Nutrição.

Para a pesquisa, mediram-se a circunferência da barriga, a pressão arterial e os níveis de colesterol, triglicérides e açúcar no sangue de 700 moradores de São Paulo com idade de 18 a 59 anos. O diagnóstico é de síndrome metabólica quando ao menos três desses exames dão resultado acima do normal. É o que ocorre com 20,1% dos paulistanos.

A maior parte, 30%, tem mais de 50 anos. Os jovens de 18 a 29 anos representam 8%.

Embora decorrente do acúmulo de gordura na barriga, a síndrome não é sinônimo de obesidade pura e simples. Em primeiro lugar, porque há obesos que não têm nenhum outro problema além do excesso de peso. Em segundo, porque há pessoas que não são obesas, mas têm gordura demais na região abdominal.

Círculo vicioso

A gordura impede que a insulina atue corretamente no organismo. A função desse hormônio do pâncreas é fazer com que o açúcar ingerido entre nas células e seja transformado em energia. Por causa da gordura, que anula a ação da insulina, o açúcar fica no sangue e, em vez de virar energia, se deposita no organismo na forma de mais gordura. É um círculo vicioso.

A gordura acima do normal leva às demais doenças da síndrome metabólica - excesso de açúcar no sangue (pré-diabete e diabete), colesterol e triglicérides altos e hipertensão arterial. Em comparação com uma pessoa saudável, quem sofre da síndrome tem duas vezes mais chances de morrer por qualquer tipo de doença (como câncer e complicações da diabete) e três vezes mais de morrer por algum mal cardiovascular (enfarte e derrame).

A relação entre as doenças é relativamente nova. Começou a ser feita no fim dos anos 80. "Antes acreditava-se que o paciente tinha obesidade, hipertensão e diabete por coincidência. Sabemos que não é assim. Mais que comum, a síndrome metabólica é o grande assassino do século 21", diz o endocrinologista Alfredo Halpern, do Grupo de Obesidade e Doenças Metabólicas do Hospital das Clínicas de São Paulo.

Prevenção

A mesma pesquisa mostrou que os hábitos alimentares desses paulistanos não é saudável. Inclui excesso de alimentos gordurosos, pães, massas, doces, sucos artificiais, refrigerantes e leite integral, além de poucas frutas, verduras e legumes. Muitos ainda consomem bebidas alcoólicas e adicionam sal à comida pronta.

 "Uma alimentação rica em gordura e açúcar é a principal culpada", explica África Isabel Neumann, nutricionista do Centro de Vigilância Epidemiológica da Secretaria da Saúde e responsável na pesquisa pelos dados da síndrome metabólica.

Outra forma de prevenir a doença é, além da dieta equilibrada, o hábito de fazer atividade física. Uma caminhada diária basta.

Foram essas as mudanças que o executivo de vendas Sérgio Vitório Gianetti, de 44 anos, se viu obrigado a fazer para "não morrer", como ele mesmo diz. "Eu pesava 146 kg, fumava e tinha pressão alta e diabete", lembra. Ele só se deu conta do risco no ano passado, quando seu coração precisou de pontes de safena.

 "Foi então que eu tive o estalo: ou você emagrece ou você morre." Controlou a comida e passou a fazer caminhadas. Hoje pesa 86 kg. "Foi a coisa mais difícil da minha vida. Mas valeu a pena, porque decidi que queria viver."

A endocrinologista Claudia Cozer, da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade (Abeso), recomenda ainda que se façam exames médicos com alguma regularidade, pois a síndrome metabólica não costuma apresentar sintomas visíveis além da obesidade. "É uma doença insidiosa. Às vezes só podemos descobri-la a partir das alterações mostradas pelo exame de sangue", explica.

Identificada a síndrome metabólica, o primeiro passo é perder peso. Em alguns casos, pode ser necessário o uso de remédios. "Ninguém fica curado da síndrome. Apenas consegue controlá-la", diz a endocrinologista da Abeso.


Data: 14/12/2006