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Unidades de conservação não livram espécies da extinção

Boa parte dos bichos ameaçados vive fora do perímetro protegido

A criação de um mosaico de unidades de conservação e terras indígenas no norte da calha do Rio Amazonas não é garantia de recuperação da fauna ameaçada de extinção no Pará, sugere um estudo feito no Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam).

Segundo suas autoras, Laura Dietzsche e Claudia Azevedo-Ramos, o local de incidência de boa parte das espécies que fazem parte da "lista vermelha" estadual não é protegido pelo zoneamento ecológico-econômico.

As autoras sobrepuseram dois mapas: do zoneamento, que deu base à criação de sete unidades de conservação no Estado ontem, e da distribuição geográfica das 11 espécies ameaçadas de mamíferos terrestres.

O resultado é que tem muito animal desguarnecido nos 35% do território voltado à expansão e à consolidação das atividades econômicas - o que legitima a derrubada se necessária.

Seis espécies de mamíferos ameaçados têm ampla distribuição no Pará. Portanto, para elas o máximo de 44% da sua distribuição se encontra dentro de alguma área protegida.

As cinco outras, entre elas algumas espécies consideradas "criticamente em perigo" (como os macacos cuxiu-preto e o cairara), têm distribuição restrita: estão principalmente no leste do Pará, onde existe grande pressão de atividades econômicas e menos áreas protegidas, presentes e futuras.

"Repetimos agora as análises para as aves ameaçadas do Pará e a tendência dos resultados é a mesma" diz Laura.

A calha norte, onde estão cinco das sete novas unidades estaduais de conservação, não sofre a pressão observada no leste e no sul para a abertura da mata.

"Para essas espécies, de 1% a 30% apenas de sua distribuição está nos limites já protegidos", afirma Claudia. "As áreas protegidas recém-decretadas, das quais grande parte está no norte do Estado, não farão diferença na proteção."

Sem diálogo

A lista vermelha integra o projeto Biota-Pará, coordenado pela Secretaria Executiva de Ciência,Tecnologia e Meio Ambiente, o Museu Paraense Emílio Goeldi e a ONG Conservação Internacional do Brasil.

Ela foi construída como um instrumento de definição das prioridades estaduais de conservação da fauna e flora, bem como dos diferentes tipos de ambientes e regiões do Estado. Para sua formulação, pesquisadores de várias instituições deram suas contribuições.

"Existem muitas razões para a criação de uma unidade de conservação, mas sob a perspectiva de proteção de espécies ameaçadas, é preciso maior sinergia entre as ações de um mesmo governo", diz Claudia.

O texto ainda precisa ser aprovado no Conselho Estadual de Meio Ambiente, órgão formado por representantes do governo e da sociedade civil, para ser incluído nas políticas estaduais. A atual administração espera deixar o governo com esta questão aprovada.

Poucos dados

Para José Maria Cardoso, vice-presidente de Ciência da ONG Conservação Internacional, o bloco protegido de florestas na calha norte funcionará como um refúgio das espécies ameaçadas.

Ele afirma que a maior parte dos animais que compõem a lista de espécies ameaçadas do Pará está no Centro de Endemismo Belém - região que tem índices de ocupação antigos e consolidados nos moldes dos Estados da mata atlântica - e não no norte da calha do Amazonas.

"No centro de Belém, vamos trabalhar na formação de reservas particulares, as RPPNs, com empresas que têm grandes propriedades de terra com mata ainda preservada", afirma.

Já na calha norte, ele diz que há amostras substanciais de espécies ameaçadas que estarão protegidas na região.

A mesma opinião tem a diretora do Museu Goeldi, Ima Vieira. "Além disso, esta é uma área do Estado pouquíssimo estudada", diz. "Temos agora a missão de conhecer melhor essas florestas e essas espécies."

Nas sete unidades de conservação criadas ontem pelo governador Simão Jatene (PSDB), os cientistas estimam que existam mais de 600 espécies de répteis, 700 de aves e 195 de mamíferos.


Data: 05/12/2006