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Aquecimento: Quem pode tenta reagir a tempo

Alheios à inércia de Bush, espécies ameaçadas pela mudança climática buscam autopreservação

Enquanto o governo Bush discute o que fazer sobre o aquecimento global, borboletas, operadores de elevadores de esqui, ursos polares e técnicos de hidrelétricas entram em ação.

Cada um à sua maneira, eles respondem às mudanças climáticas que modificam rapidamente suas chances de sobrevivência, lucros e fornecimento de energia.

As borboletas abandonam o sul da Europa, rumo ao clima mais receptivo da Finlândia.

Os operadores de elevadores de esqui no oeste dos EUA fazem lobby pelo arrendamento de terras federais mais altas nas Montanhas Rochosas, tentando alcançar as linhas de neve que sobem constantemente.

Os ursos polares da Baía de Hudson perdem peso e diminuem em número à medida que a plataforma de gelo derrete e a temporada de alimentação dura menos.

Os planejadores energéticos da costa noroeste do Pacífico nos EUA, que tira três quartos de sua energia de hidrelétricas, reúnem-se em sessões de debate livre e fazem planos de contingência para o derretimento antecipado da neve, o aumento das chuvas no inverno, a menor vazão dos rios no verão e a falta de eletricidade durante os verões mais quentes e secos.

Com o aquecimento passando de previsão para a realidade, animais e plantas são obrigados a agir pela autopreservação.

Eles agem mesmo enquanto o governo Bush rejeita regulamentações, leis ou tratados internacionais limitando a emissão de gases do efeito estufa, a principal causa do aquecimento global.

Uma síntese recém-publicada de 866 estudos revisados sobre o efeito da mudança climática em plantas e animais selvagens mostrou o que sua autora, Camille Parmesan, da Universidade do Texas em Austin, descreve como uma 'conclusão clara e globalmente coerente'.

Flora e fauna, quando podem, estão migrando para o norte ou para terras mais altas, diz Parmesan, cujo ensaio está na edição de dezembro da Annual Review of Ecology, Evolution, and Systematics.

As espécies que não podem migrar estão diminuindo em número; sua saúde piora e algumas desaparecem.

Indiferença à política

'As espécies selvagens não ligam para quem está na Casa Branca', diz Parmesan. 'É óbvio que elas tentam desesperadamente mudar de lugar para responder à mudança climática. Algumas estão conseguindo. No entanto, as que já estão no topo das montanhas ou nos pólos não têm aonde ir. São as que estão em extinção.'

Entre as espécies mais afetadas, diz Parmesan, estão os anfíbios das montanhas nos trópicos. Segundo ela, mais de dois terços de 110 espécies do sapo arlequim, que habita florestas de montanha da América Central, se extinguiram nos últimos 35 anos.

Enquanto isso, muitas espécies de pragas - como baratas e pulgas - sobrevivem em número cada vez maior a invernos cada vez menos frios.

'Constatamos no Hemisfério Norte que as pragas são capazes de ter mais gerações por ano, o que permite que aumentem em número sem ser mortas por temperaturas baixas', afirma Parmesan.

Cientistas ligados ao governo federal dizem que o primeiro semestre do ano foi o mais quente já registrado nos EUA e que os cinco anos mais quentes do último século ocorreram a partir de 1998.

Em sua revisão dos estudos medindo o impacto da mudança climática sobre plantas e animais selvagens, Parmesan diz que este 'aumento repentino' das temperaturas desencadeou reações substanciais de uma ampla gama de espécies.

'A escala do impacto é tão esmagadora que muitos biólogos consideram este problema o mais importante a ser combatido', diz. 'Podemos salvar os hábitats que quisermos, mas isso não terá sentido se o clima não for bom.'


Data: 04/12/2006