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Diretor da Capes responde a questionamento sobre sistema de avaliação

Renato Janine Ribeiro afirma que não há contradição entre seu pensamento e o que hoje procura praticar no cargo de diretor da Capes

A mensagem do diretor de Avaliação da Capes responde carta do presidente da Associação dos Professores da Universidade Federal de Viçosa (Aspuv), José Maria Alves da Silva, publicada no Jornal da Ciência da SBPC em 1º de setembro.

"Senhor Professor,

Somente agora pude responder a sua carta aberta a mim dirigida, em que afirma que, "salvo engano, pens[a] que os atuais critérios da Capes de avaliação da pós-graduação não batem com as idéias que Vossa Senhoria [isto é, eu] professava antes de ocupar o cargo de diretor de avaliação", a qual carta foi publicada no Jornal da Ciência eletrônico, que eu não recebo por e-mail desde 2003, apesar de depois dessa ocasião ter-me registrado pelo menos três vezes para recebê-lo. Portanto, só tomei conhecimento tardio de sua carta aberta.

Atenho-me, na resposta, ao que V. S. afirma a meu respeito - ou seja, que haveria uma contradição entre as idéias que eu sustentava antes e as que sustento hoje, e a causa para tanto seria eu ter assumido a diretoria de Avaliação da Capes.

Ora, minhas idéias sobre a universidade e a pesquisa estão expressas em três livros: Humanidades - um novo curso na USP, Edusp, 2001; A Universidade e a Vida Atual - Fellini não via filmes, da editora Elsevier/Campus, 2003; Por uma nova política, Ateliê Editorial, 2003, que é o relato de minha campanha à presidência da SBPC naquele ano.

Mas em nenhum destes livros noto contradição com o que hoje procuro praticar no cargo de diretor da Capes.

O professor tece uma série de acusações ao sistema da Capes, e em nenhuma dessas críticas eu reconheço idéias que porventura tenha defendido anteriormente.

Penso que ele me atribui, portanto, idéias antigas que não eram as minhas. Deve haver uma confusão de pessoa.

Os pontos principais em que há convergência de minhas idéias "anteriores" e de minha prática atual são:

- a importância de que as áreas de Humanidades, e de modo geral as que publicam livros, sejam avaliadas em termos do que elas fazem de melhor, isto é, exatamente os livros. Este foi um ponto que coloquei ao Presidente da Capes quando ele me convidou para o cargo e que temos, eu e as comissões de área, procurado ingentemente trabalhar. Apenas acrescento que não é fácil;

- a convicção, que sempre sustentei, de que o acadêmico, sobretudo na Universidade pública, deve produzir cientificamente e prestar contas disso a quem entenda do assunto. (Este é um ponto fundamental em que sempre acreditei, e é por isso que penso que o prezado professor está me confundindo com outra pessoa). Jamais disse o contrário. Apenas sustentei, e sustento, que a avaliação deve ser externa, deve ser efetuada nos termos que mais permitam o avanço da área, e que deve ser realizada por conhecedores do assunto. Isto decorre de uma convicção republicana muito forte, segundo a qual a res publica está envolvida quando se paga o pesquisador, e por sinal isso também vale para as IES privadas, que recebem recursos do Estado brasileiro e, sobretudo, da Capes;

- a certeza de que o prazo de dois anos para o mestrado é exíguo em algumas áreas, como as Humanas, e a preocupação com o fato de que - sobretudo nestas - o trabalho de tese vai junto com um amadurecimento do pesquisador enquanto pessoa, o que retarda por vezes sua carreira. Neste ponto, a Capes reduziu a importância excessiva antes atribuída ao tempo de titulação. Quanto às condições específicas do trabalho em Humanas, tenho procurado de várias maneiras atender a elas, sobretudo com discussões sobre como se dão as publicações, estimulando as on line, etc.;

- a importância de que os trabalhos voltados para fora da academia sejam considerados, sempre que tenham relevo. Tratei disso em meu A universidade e a vida atual, insistindo em que as produções por exemplo tecnológicas sejam consideradas, e em especial entendendo que as instituições universitárias devem ter projetos, não partidários, para a sociedade. Defendi e defendo uma posição pró-ativa da academia em face dos grandes problemas nacionais, desde que não seja sectária.

Do restante de sua carta, não tenho muito a responder, dado que o senhor personalizou as críticas e seu foco é a possível contradição entre mim e mim.

Apenas comento que, quando o senhor condena o "publish or perish" ou fala em produtivismo, saiba que não concordo com V. S. hoje nem jamais concordei, porque essas expressões, infelizmente, em geral efetuam uma caricatura do que é a verdadeira, boa e indispensável produção. Não mudei de idéias a respeito.

E o sr. pode saber que, se há um Qualis, é justamente para fazer que o produtivismo seja inútil, porque um trabalho esmerado - e demorado - valerá mais do que dois ou três artigos apressados e superficiais."


Data: 01/12/2006