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Países firmam acordo para reator de fusão nuclear

O Iter, que será feito pela UE e por mais seis países, visa energia limpa e abundante. Reator tentará realizar o sonho de domar o mesmo tipo de energia que move as estrelas; seu núcleo será mais quente que o do Sol

O sonho da energia limpa e ilimitada ficou um passo mais próximo ontem, com a assinatura de um acordo internacional para construir o maior reator de fusão nuclear do mundo, que quer domar a mesma energia que movimenta o Sol.

A União Européia e mais seis países concordaram em gastar cerca de 10 bilhões (R$ 28 bilhões) nos próximos 20 anos para construir o Iter (Reator Termonuclear Experimental Internacional, na sigla em inglês), em Cardarache, França.

O acordo entre UE, China, EUA, Índia, Japão, Coréia do Sul e Rússia para tirar do papel o megarreator de fusão nuclear (cujo acrônimo também significa "o caminho", em latim) foi assinado ontem no Palácio do Eliseu, em Paris.

"A
carência cada vez maior de recursos e a luta contra o aquecimento global exigem uma revolução no nosso modo de produção e consumo", disse o presidente francês, Jacques Chirac.

"Temos o dever de começar a pesquisa que preparará soluções energéticas para nossos descendentes".

O Iter levará oito anos para ser concluído e é o primeiro experimento com fusão nuclear feito para produzir mais energia do que consome. Seus proponentes esperam que ele dê origem a reatores comerciais que possam entrar no mercado em 30 ou 40 anos.

A fusão nuclear é um sonho antigo dos cientistas, pois promete produzir energia virtualmente sem resíduos nocivos. A reação só precisa de pequenas quantidades de água do mar e lítio -um mineral abundante- como matérias-primas, e não produz gás carbônico ou outros gases de efeito estufa.

A fusão produz energia quando átomos de hidrogênio colidem sob pressão e temperatura extremas (o núcleo do reator é várias vezes mais quente que o centro do Sol).

Diferentemente de reatores de fissão nuclear, que produzem lixo radioativo pelo combustível gasto, a fusão nuclear geraria apenas pequenas quantidades de material moderadamente radioativo, que decairia para níveis seguros de radiação em um século.

No entanto, até mesmo a previsão mais otimista sugere que a fusão não deverá ser uma fonte rotineira de energia nos próximos 50 anos.

Diplomacia

A idéia do Iter surgiu em 1985, mas as negociações sobre onde construir o reator experimental (se no Japão ou na França) ficaram muito tempo travadas.

No ano passado, foi decidido que a cidade de Cardarache, na Provença, seria o local da construção -mas um japonês, Kaname Ikeda, será seu primeiro diretor-geral, e a maior parte dos componentes do reator virá do Japão.

O Brasil foi convidado a integrar o projeto, como sócio com direito a participação em patentes eventualmente geradas pelo experimento.

Recusou devido à cota de entrada, alta demais, mas montou no começo do mês uma rede de pesquisas em fusão que deve permitir alguma participação nos experimentos, no futuro.

Cientistas brasileiros poderão integrar o Iter em parceria com Portugal, que é sócio do projeto.

Martin O'Brien, gerente do programa de fusão do Reino Unido, disse que o Iter será oito vezes maior que o JET, hoje o maior reator de fusão do mundo, montado na Inglaterra.

Os experimentos no JET conseguiram produzir fusão por alguns segundos, mas ainda assim eles usaram mais energia para esquentar o gás dentro do reator do que o que foi produzido no processo.

"O ganho de escala significa que, quanto maior a máquina, mais energia sai dela do que entra", disse O'Brien.


Data: 22/11/2006