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Aquecimento global exige ações vigorosas

Na hipótese moderada de uma elevação de temperatura de 2 a 3 graus centígrados, segundo relatório preparado pelo economista Nicholas Stern para o governo britânico, pelo menos 1 bilhão de pessoas serão afetadas por crescente escassez de água

As emissões de carbono e de outros gases que provocam o efeito estufa continuam a crescer e ameaçam provocar desequilíbrios ecológicos e prejuízos materiais de magnitude suficiente para tornar as sete pragas bíblicas uma profecia inofensiva.

O nível atual de concentração de dióxido de carbono na atmosfera é de cerca de 350 partes por milhão (ppm) e as projeções apontam que, no ritmo atual, até o ano 2050 se chegará a algo entre 450 e 550 ppm.

Com isso, o planeta estaria pelo menos entre dois a três graus mais quente. As consequências desse aquecimento, que já se tornam visíveis, são dramáticas.

Enquanto falta vontade política para deter as emissões, os sintomas dos males do aquecimento global são eloqüentes e se multiplicam. Os furacões crescem em número e intensidade - o Katrina, a mais destrutiva catástrofe até agora, trouxe perdas de US$ 125 bilhões de dólares, cerca de 1,2% do PIB americano.

O derretimento das geleiras polares e do gelo acumulado nas montanhas africanas e andinas se acentuou. Ondas de calor provocaram fogo nas florestas de Portugal, Espanha e França e prejuízos de US$ 15 bilhões em 2003, enquanto outras regiões da Europa foram castigadas por enchentes devastadoras.

Regiões africanas assoladas pela seca são vítima de enchentes devastadoras.

Na hipótese moderada de uma elevação de temperatura de 2 a 3 graus centígrados, segundo relatório preparado pelo economista Nicholas Stern para o governo britânico, pelo menos 1 bilhão de pessoas serão afetadas por crescente escassez de água.

Os tormentos do aquecimento serão sentidos especialmente pelos países que menos o provocam, os africanos, advertiu Nick Nuttal, porta-voz do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, durante a Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas em Nairóbi.

Por outro lado, a elevação do nível do mar, na hipótese de a temperatura da Terra subir acima de 3 graus, colocará em risco a vida de 70 milhões de pessoas que vivem nas regiões costeiras do continente, e poderá eliminar 30% da infra-estrutura instalada.

O Protocolo de Kyoto foi a mais importante iniciativa para combater as emissões, mas seus resultados são até agora limitados. A meta para os países desenvolvidos é chegar a 2012 com emissões 5% menores que as de 1990.

Os EUA, responsável por 20% da emissão de gases, está fora do acordo e os países que estão dentro, como o Canadá, não estão se comportando muito bem.

Entre 2000 e 2004 houve piora nos índices de emissão dos EUA (mais 15,8%), Austrália, outra não-signatária (25,1%), Canadá (26,6%) e Espanha (49%).

A campeã foi a Turquia, com 72%. Alemanha, Reino Unido e os países ex-comunistas da Europa Central e do Leste reduziram seus índices no período, mas eles voltaram a subir no início da década.

As principais discussões na Conferência de Nairóbi, que terminou na sexta-feira, giram em torno de como melhorar o combate às emissões e o que fazer após 2012, no que seria a segunda fase do protocolo.

Neste ponto, a China, que caminha para se tornar o maior emissor do planeta em 2009, é um exemplo das fragilidades do acordo.

Ela e outros países em desenvolvimento, como Brasil - quarto maior emissor devido ao desmatamento - e Índia, não estão submetidos a metas de redução.

Os países desenvolvidos não aceitam barreiras ao crescimento se as nações em desenvolvimento não derem maior contribuição e estabelecerem limites para os danos que provocam ao meio ambiente. A França já ameaça restringir importações de países "poluidores".

A argumentação do Brasil e outros emergentes é que os países industrializados foram os principais responsáveis pelo aumento da concentração de carbono e devem dar a maior contribuição agora - o que é justo.

Mas torna-se cada vez mais insustentável o argumento de que China e outros países em crescimento possam fazer a mesma coisa que os ricos no passado sem qualquer limite.

 A proposta brasileira de colaboração financeira e tecnológica voluntária para nações que restringem o desmatamento é de pouca eficácia. A criação de imposto para os emissores é politicamente complicada, mas conta com aceitação crescente nos países ricos.

Afinal, apenas 20 países são responsáveis por 80% das emissões. Tornar os maiores poluidores signatários do protocolo e amarrá-los às metas de Kyoto é um passo vital a ser dado - o que inclui os EUA, mas também o Brasil e a China.


Data: 21/11/2006