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A que vem uma Semana de Ciência e Tecnologia?, artigo de Roberto S. Kahlmeyer-Mertens

"Espera-se que com este evento de ciência, seus propósitos passem também a ser orgânicos, deixando de se restringir ao espaço finito de uma semana, para ser cultivado em cada ato cotidiano e merecendo, ainda mais, nome de ciência-cultura"


Roberto S. Kahlmeyer-Mertens - Professor de Filosofia do Centro Universitário Plínio Leite (Unipli)



Entre os dias 16 e 23 de outubro, ocorre em todo o país a 3.ª Semana Nacional de C&T.

Criada sob decreto em 2004 e sob coordenação do Ministério da C&T (MCT), o evento cresce a cada ano envolvendo Universidades e demais instituições de pesquisa e ensino, centros de desenvolvimento tecnológico, fundações de amparo à pesquisa, empresas públicas e privadas nas mais de 7000 atividades previstas em todo país.

Nas jornadas de iniciação científica, feiras de ciência, palestras, oficinas voltadas à comunidade vemos o incentivo à ciência, a valorização das atitudes científicas, o estímulo à descoberta e à engenhosidade e informação da população sobre a relevância dos projetos de ciência, motivando-a a participar, a seu modo, destes.

Os organizadores do evento acreditam que tal iniciativa pode constituir um primeiro passo ao letramento em ciências; permitindo à população o acesso a este campo ampliassem a divulgação do saber científico para além dos serviços prestados pela mídia; colaborando com sua elucidação.

A contribuição de um processo como este é capaz de ser observada em vários níveis:

no indivíduo, ao passo em que desperta o interesse pela pesquisa, fomentando o espírito científico motivador dos integrantes das próximas gerações de estudiosos;

nas comunidades científicas, promovendo um contato reflexivo com seu próprio fazer, consolidando laços entre os pesquisadores e suas idéias paradigmáticas, estimulando o trabalho cooperativo e estreitando a distância entre o cientista-letrado e a sociedade;

e, finalmente, em âmbito nacional, enriqUecendo a produção de ciência e, proporcionalmente, a capacidade de aplicação dos recursos técnico-científicos nas mais diversas áreas.

A Semana de Ciência e Tecnologia, ao buscar uma interface entre o fazer científico e a sociedade, parece também querer retomar alguns dos princípios modernos sobre os quais se construiriam modelos que lograram êxito, como a idéia de universidade orgânica, proposta pelo filósofo alemão J. G. Fichte (1762-1814), consciente de que: "Morta é uma matéria científica quando se encontra isolada, sem laço visível com todo o saber, entregue apenas à memória, na esperança de ser usada no futuro. A matéria viva é organizada quando está com outras entrelaçada, tornando-se assim parte indispensável de um todo maior, trazido à luz (...)".

Espera-se que com este evento de ciência, seus propósitos passem também a ser orgânicos, deixando de se restringir ao espaço finito de uma semana, para ser cultivado em cada ato cotidiano e merecendo, ainda mais, nome de ciência-cultura.


Data: 19/10/2006