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Exame pode prever câncer de pulmão

Teste detecta proteínas produzidas por células cancerosas e permite tratamento antes que tumor se espalhe

Um exame de sangue para identificar câncer de pulmão em estágios iniciais poderá potencialmente salvar milhões de vidas se os resultados iniciais de testes em andamento forem confirmados.

Cientistas franceses anunciaram ontem os resultados preliminares de um novo teste para detectar câncer de pulmão num congresso anual da Sociedade Européia de Oncologia Médica.

O encontro, em Istambul (Turquia), reúne cerca de 10.500 médicos, cientistas, representantes de companhias farmacêuticas e organizações não-governamentais.

O exame distingue o câncer de pulmão de outras doenças pulmonares como enfisema.

Os fumantes desenvolvem mudanças múltiplas em seus genes. Tanto os que desenvolvem câncer como os que apresentam outras doenças pulmonares sofrem, com freqüência, o mesmo tipo de degeneração celular. A certa altura, porém, os portadores de câncer exibem transformações diferentes no nível molecular.

"O segredo desse teste é detectar pacientes no ponto de virada, antes de o câncer se espalhar", explicou Paris Kosmidis, diretor de Oncologia do Hospital Hygeia em Atenas, Grécia, que não esteve ligado ao estudo.

"Se detectarmos o câncer de pulmão mais cedo, já provamos na prática que podemos curá-lo", disse Kosmidis.

O novo teste detecta proteínas produzidas por células cancerosas no sangue. Essas células produzem tipos e quantidades diferentes de proteínas, o que lhes dá um perfil único de proteína.

Os pesquisadores teorizam que essas assinaturas de proteínas poderiam ser detectadas muito antes de aparecerem os sintomas do câncer de pulmão - e antes de o mal poder ser detectado por raio X - dando aos pacientes a possibilidade de um tratamento antecipado e aumentando assim suas chances de sobrevivência.

"As descobertas ajudariam a superar um grande problema no diagnóstico de câncer", afirmou William Jacot, o principal autor do estudo e oncologista médico do Hospital Arnaud de Villeneuve, em Montpellier, na França.

Em quase 75% dos pacientes diagnosticados com câncer de pulmão, este só é detectado nos estágios avançados, quando o câncer já se espalhou para outras partes do corpo.

Os prognósticos nesse estágio são geralmente ruins, com um máximo de 16% de pacientes sobrevivendo por ao menos cinco anos após o diagnóstico.

Mas se o câncer de pulmão for identificado no início, ainda há chances de cura. O câncer de pulmão é o tipo mais comum da doença em escala mundial, com uma média de 2 milhões de pacientes diagnosticados anualmente (cerca de 27 mil no Brasil).

Jacot e seus colegas analisaram amostras de soro de 170 pacientes (147 com câncer de pulmão e 23 com doenças pulmonares crônicas), procurando o conjunto de proteínas especificas de células cancerosas.

O teste identificou perfeitamente o câncer de pulmão em quase 90% dos pacientes testados.

"Ainda não é bom o suficiente para ser usado como ferramenta de detecção, mas é melhor que os marcadores de tumor convencionais", relatou Jacot, acrescentando que a metodologia do teste precisa ser refinada e confirmada em estudos com mais pessoas saudáveis para não distorcer os resultados.

"Se isso puder ser confirmado, terá um impacto incrível", concordou Hans-Joachim Schmoll, diretor de Hematologia e Oncologia da Universidade Martin Luther em Wittenberg, Alemanha, que não participou do estudo.

"Isso poderá revolucionar o tratamento de câncer e salvar milhões de pessoas," acrescentou.

Schmoll disse ainda que o teste sanguíneo poderia ser realizado rotineiramente com intervalos de alguns meses em pessoas com alto risco de câncer de pulmão.

Exames semelhantes para detectar câncer de ovário estão sendo estudados.


Data: 03/10/2006