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Agreste pernambucano: água de Jucazinho contaminada por metal pesado

De acordo com o Instituto de Tecnologia de Pernambuco (Itep), alto índice de manganês está presente na maioria das amostras

O reservatório de Jucazinho, que abastece 11 cidades do Agreste de Pernambuco, apresenta índices de manganês acima dos limites estabelecidos pela Resolução 357/2005 do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama).

De 159 amostras analisadas entre 1997 e 2005, mais da metade está acima de 0,1 miligrama por litro d'água, de acordo com pesquisa realizada no Itep.

O manganês é um metal pesado que pode provocar distúrbios neurológicos se ingerido durante período prolongado. Segundo a orientadora da pesquisa, no entanto, não há risco de intoxicação para quem bebe a água proveniente de Jucazinho.

"Uma pessoa teria que ingerir uma quantidade de água tão grande para se intoxicar com a substância que, antes, morreria afogada", diz a química Fátima Brayner, professora do mestrado em Tecnologia Ambiental do Itep e secretária de C&T e Meio Ambiente de Pernambuco.

O elemento, entretanto, é capaz de alterar o sabor da água.

Os pesquisadores ainda não sabem a origem do manganês de Jucazinho. A princípio, a equipe pensava que o mineral era proveniente de rochas da região onde o Rio Capibaribe foi barrado, em 1997, para a construção do reservatório.

Sondagens geológicas, no entanto, revelaram que o elemento não é predominante. Fátima acredita que o manganês, possivelmente, vem de fertilizantes e fungicidas.

"O minério é usado em outras atividades, como a industrial, mas na região o mais provável é que se origine da agricultura", diz.

O elemento é empregado ainda na produção de tintas, vernizes, desinfetantes, suprimentos para animais, fabricação de aço, baterias, ligas metálicas, cerâmicas e aditivos para combustíveis.

Os dados relacionados à quantidade de manganês na água foram fornecidos pela própria Companhia Pernambucana de Saneamento e Abastecimento (Compesa), responsável pelo reservatório, que abastece 352.665 pessoas.

É que a pesquisadora responsável pelo estudo, Nancy Lins Albuquerque, é funcionária da companhia.

Nancy conta que a presença de manganês na água de Jucazinho ocorre em picos anuais. Segundo ela, o elemento químico está concentrado no fundo do reservatório, de 15,9 milhões metros quadrados, e se mistura à água durante manobras operacionais da Compesa.

"As concentrações atípicas de manganês indicam que o elemento foi removido dos sedimento para a coluna d'água. O evento é ocasionado por manobras operacionais na válvula de descarga do reservatório", esclarece.

Fátima Brayner destaca o interessa da Compesa em solucionar o problema, apoiando Nancy a realizar o mestrado profissional do Itep. Na dissertação, Nancy recomenda a recuperação do entorno do reservatório.

É que a presença da mata ciliar, aquela que margeia os mananciais, ajuda a reter substâncias nocivas, a exemplo do manganês.


Data: 27/09/2006