topo_cabecalho
O novo projeto da UFBA

A substituição do vestibular pelos resultados do Enem, que começará a valer a partir de 2008, foi a principal bandeira da campanha de Naomar de Almeida Filho, reeleito reitor

Depois de destinar 45% de suas vagas para negros e índios oriundos da rede pública de ensino fundamental, a Universidade Federal da Bahia (UFBA) agora pretende acabar definitivamente com os exames vestibulares, como forma de seleção de seu corpo discente.

A idéia é selecionar os estudantes somente com base nos resultados obtidos no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).

A prova, que é nacional e gratuita, é aplicada anualmente pelo Ministério da Educação a todos os alunos da 3ª série desse ciclo.

"A tragédia do vestibular é que a pessoa decide sua vida inteira num único dia", afirma o reitor Naomar de Almeida Filho, que acaba de ser reeleito para um segundo mandato e tem o apoio do Conselho Universitário.

A substituição do vestibular pelos resultados do Enem, que começará a valer a partir de 2008, foi a principal bandeira de sua campanha.

Segundo ele, a atual forma de seleção avalia apenas o conhecimento acumulado, não o talento dos candidatos.

"Eu dificilmente passaria no vestibular. Quer dizer que não tenho condição de cursar a universidade. No Enem, eu teria nota boa", diz Almeida Filho, que é médico.

Para viabilizar essa mudança, a UFBA pretende adotar um novo projeto pedagógico, mudando a estrutura do curso de graduação. Atualmente, os alunos têm de escolher uma carreira na inscrição para o vestibular.

Como muitos não têm maturidade para fazer essa escolha, vários desistem na metade do curso, por terem feito a escolha errada. Com o novo modelo, a UFBA quer reduzir a evasão.

A idéia é oferecer um ciclo básico de três anos igual para todos os alunos, de dança e artes cênicas a engenharia e direito. Só no quarto ano é que eles escolherão um curso específico.

Nos três anos iniciais, além de mais tempo para decidir a carreira que pretendem seguir, os estudantes terão contato com as mais variadas áreas do conhecimento.

Com a mudança, o tempo de duração da graduação, que hoje varia entre quatro e cinco anos, conforme a carreira, será aumentado em mais um ano.

O modelo não é novo. No Brasil, ele foi concebido por Anísio Teixeira, um conceituado educador baiano, para a Universidade de Brasília. Mas sua implantação acabou sendo abortada após a cassação do então reitor Darcy Ribeiro, pelo regime militar.

Um modelo semelhante foi adotado em 1999 pelo "Processo de Bologna" - um projeto formulado pelos ministros da Educação da União Européia para harmonizar as estruturas e os programas de ensino superior dos 25 países membros. Nos EUA, a maioria das universidades de ponta adota o ciclo básico.

A UFBA também pretende ampliar o número de vagas. Hoje, a instituição tem 24 mil alunos e 2 mil professores - uma relação de 12 para 1. A idéia do reitor Almeida Filho é atingir até 60 alunos por docente, com a utilização mais racional das salas de aula.

A criação de vagas por meio da expansão dos cursos noturnos e do aumento do número de estudantes por sala são iniciativas que vêm sendo estimuladas desde o governo passado, porque permitem às universidades federais aumentar sua produtividade.

Muitas das medidas anunciadas pela UFBA fazem parte do debate educacional. Mas mesmo aqueles que as apóiam recomendam cautela na sua implementação.

Segundo eles, o sucesso do ciclo básico depende da articulação das matérias a serem oferecidas. Se não houver um eixo, o curso pode se tornar excessivamente generalista.

E, se o número de disciplinas opcionais for desproporcionalmente mais alto do que o número de disciplinas obrigatórias, os alunos poderão compor um currículo sem um mínimo de conexão.

Além disso, o transplante de programas adotados por universidades européias e americanas não pode ser automático, por causa das diferenças culturais.

Se tomar todos esses cuidados na formulação de seu novo projeto pedagógico e em sua nova estrutura de graduação, a UFBA realizará uma experiência que poderá servir de exemplo para as demais universidades federais, cuja grande maioria se encontra defasada em relação à realidade do País e do mundo contemporâneo.


Data: 25/09/2006