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Simuladores de humanos auxiliam no treinamento de profissionais de saúde

Tecnologia pode ser utilizada tanto para promover reciclagem de médicos já atuantes como para ensinar estudantes de medicina sem gerar complicações para pacientes.

 

Robôs que têm feições parecidas com as de humanos, possuem vias aéreas e são capazes de alterar a voz conforme o problema de saúde que apresentam, antes só encontrados em narrativas de ficção científica, são agora utilizados em treinamento médico. Exemplos destas máquinas foram exibidas durante o Sepse 2006 no estande do Centro de Treinamento Berkeley e montado em conjunto com a Biotest.

 

Segundo a Berkeley, os Simuladores Reais de Pacientes (SRPs) – nome dado a esses robôs – foram criados há cerca de 10 anos pelo anestesista norte-americano David Gaba, da Stanford University School of Medicine, de Palo Alto, California. Na época, ele – que tinha o hábito de pilotar aviões – ficou intrigado com o fato de que todos os pilotos tinham que fazer obrigatoriamente um determinado número de horas de simulação de vôo antes de pilotar um avião, enquanto os estudantes de medicina aprendiam o exercício da profissão no atendimento aos próprios pacientes – o que eventualmente acabava ocasionando erros e, conseqüentemente, colocava vidas em risco. Incomodado com isso, Gaba entrou em contato com os fabricantes dos simuladores da Nasa e da Boeing, sugerindo que também fosse criada uma máquina que pudesse simular pacientes e ajudar a aprimorar a prática de médicos novatos e experientes a fim de minimizar situações de risco para as pessoas.

 

Diante disto, surgiram os SRPs, uma versão aprimorada dos manequins tradicionalmente utilizados no ensino de profissionais de saúde. Ao invés de serem simuladores estáticos, esses robôs funcionam como simuladores dinâmicos, sendo capazes de apresentar pressão arterial, pulsos arteriais, reflexo pupilar fotomotor, auscultas cardíacas e pulmonares, entre outras funções humanas. “Os manequins são o primeiro estágio e só apresentam o formato humano, enquanto que os robôs são a nova geração, apresentando respostas similares a de seres humanos”, explicou Bernardo Schubsky, Gerente Geral do Centro de Treinamento Berkeley, no Rio de Janeiro, centro especializado, na América Latina, neste tipo de tecnologia.

 

De acordo com Schubsky, a idéia é que as duas ferramentas sejam utilizadas de maneira complementar na formação médica: “o manequim é utilizado num momento inicial, visando à aprendizagem mecânica, e o robô é utilizado para entender como o paciente repercute clinicamente os procedimentos adotados”. Na opinião dele, os simuladores “não só possibilitam um aprendizado mais prático e mais eficaz, como também representam um método mais ético e seguro por minimizarem os riscos para médicos e pacientes”.

 

Schubsky esclareceu que entre os SRPs encontram-se modelos que possuem uma série de funções semelhantes, mas também diferenças entre si. O robô utilizado para simulações de terapia intensiva é um exemplo disto: ele pode respirar de verdade – consumindo oxigênio e expirando CO2, exatamente como um ser humano de verdade. Outro exemplar que também se diferencia dos demais é um simulador de um bebê, utilizado para recriar o cenário de uma UTI Neonatal. O modelo permite treinar manobras de ressucitação, intubação, entre outras.

 

Entendendo como funciona um SRP

 

Ainda de acordo com o especialista da Berkeley, cada um desses robôs funciona graças a um software que corresponde a uma espécie de banco de dados, onde são cadastrados, de forma detalhada, casos reais envolvendo pacientes. “Nós descrevemos o paciente, relatamos todos os seus sintomas, informamos quais os remédios que ele utiliza e alertamos sobre histórico de doenças”, explicou.

 

Cadastrados os dados, o programa transfere todas as informações para o robô, que passa a apresentar todos os sintomas e sinais clínicos relatados no caso. A partir daí, cabe aos alunos do Centro de Treinamento Berkeley fazer uma anamnese e um exame físico em tempo real, pedir exames; levantar hipóteses diagnósticas e, por fim, tratar o paciente. Segundo Schubsky, “os resultados obtidos nos simuladores são muito semelhantes aos obtidos em pacientes reais”. Todos os procedimentos são feitos de forma supervisionada durante o curso, sempre sob os cuidados de um ou dois instrutores (médicos já atuantes) e alguns monitores.

 

Durante a simulação, os alunos têm a oportunidade de entrar em contato tanto com os procedimentos mais triviais no atendimento ao paciente quanto com uma série de complicações. Para Bernardo Schubsky, tal recurso é útil ao permitir que os alunos tenham realmente a oportunidade de enfrentar esses problemas de saúde e não fiquem mais dependendo do acaso para aprender um procedimento. “Como o ambiente é controlado, podemos fazer com que eles enfrentem todos os tipos de complicações possíveis e aprendam o quê fazer em cada caso – o que nem sempre acontece em um hospital. Nosso centro de treinamento é um dos únicos lugares em que acontece um infarto com hora marcada”, disse.

 

E assim como na vida real, nem sempre os procedimentos cirúrgicos têm um final feliz. De acordo com Schubsky, os SRPs também morrem – uma situação que, segundo ele, acaba sendo positiva para preparar os futuros médicos para as adversidades. “É muito bom que eles vivenciem esta situação pela primeira vez na vida em um robô para que, no futuro, o mesmo não aconteça com um paciente”.

 

Treinamento para novatos e para veteranos

 

Apesar de serem voltados prioritariamente para estagiários e profissionais em início de carreira das áreas de Medicina, Enfermagem e Fisioterapia, os cursos que contam com a utilização de SRPs também têm sido procurado por  hospitais do Rio de Janeiro visando a uma melhoria no atendimento. “Hoje em dia, os melhores hospitais do Rio de Janeiro nos procuram para fazer cursos com seus funcionários, não porque tenham um atendimento ruim, mas porque seus gestores têm o interesse de trabalhar com profissionais cada vez mais qualificados e capacitados”, afirmou Schubsky.

 

Segundo ele, o mesmo acontece nos Estados Unidos, onde a simulação tem sido freqüentemente utilizada como um critério para determinar o preço do seguro por erro médico. “Aqueles que passam por este tipo de treinamento têm um abatimento na taxa, porque as seguradoras subentendem que a probabilidade destes profissionais cometerem um erro médico é bem inferior a de quem nunca passou por um curso desse porte”, explicou Schubsky, lembrando que no mundo inteiro, “o erro médico ainda é uma das principais causas de morte”.

 

O Centro de Treinamento da Berkeley fica situado no 20º andar na Torre do Shopping Rio Sul e endereço do site que disponibiliza informações sobre cursos e eventos é www.treinamento-berleley.com.br.

 

Nota da redação: o Sepse 2006 aconteceu nos dias 15 e 16 de setembro no Hotel Glória e reuniu tanto pesquisadores da área de saúde como médicos de diversas especialidades para debater alternativas para o tratamento da doença e de suas complicações, como sepse grave e choque séptico. O evento foi promovido pelo setor de Terapia Intensiva da Pós-graduação em Clínica Médica da Faculdade de Medicina da UFRJ juntamente como Instituto Oswaldo Cruz e a Sociedade de Terapia Intensiva do Estado do Rio de Janeiro-SOTIERJ.


Data: 19/09/2006