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Professor da UFCG lança livro com um “meta-registro” de Campina

O fotógrafo e professor da UFCG, Paulo Matias de Figueiredo Júnior (foto) lançou na última quinta-feira o livro intitulado "Fotografia e desenvolvimento social: um recorte da realidade" (168 páginas, Editora da Universidade Estadual da Paraíba, R$ 20,00).

A obra, que pode ser adquirida pela Eduep (3315-3381), trata da importância da fotografia não apenas como registro, mas "meta-registro", ou seja, analisa os motivos que estão "por trás" das imagens, as necessidades filosóficas e sociais que impulsionaram o artista ou o fotojornalista a clicarem suas máquinas. Além disso, serve como um documento importante sobre a história da fotografia paraibana, ao fazer análises sobre a obra imagética de precursores como Euclides Vilar, Sóter Carvalho, José Cacho, João Dias, entre outros.

De acordo com Paulo, a fotografia incorporou-se de tal modo na vida social que, à força de vê-la, não mais a vemos. Seu estudo incide sobre a importância da fotografia enquanto processo de reprodução, e no papel que nos seus inícios ela desempenhou na evolução do retrato individual, em Campina Grande, depois na do retrato coletivo, quer dizer, na imprensa de toda a Paraíba. "Estudando alguns aspectos da história da fotografia, tentamos trazer à luz a história da sociedade contemporânea com o objetivo de demonstrar, através de um exemplo concreto, as relações que tornam as expressões artísticas e a sociedade dependentes uma da outra, e como as técnicas da imagem fotográfica mudaram a nossa visão do mundo", explica Paulo, que é bacharel em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo, pela UEPB e Mestre em Ciências da Sociedade. Atualmente, é professor efetivo no curso de bacharelado em Arte e Mídia da Universidade Federal de Campina Grande, nas disciplinas Oficina Básica de Fotografia, Fotografia Aplicada à Mídia, Fundamentos Científicos da Comunicação, entre outras.

A entrevista

- Como surgiu a idéia de escrever a obra e qual é o principal enfoque dela?

- O livro nasceu da dissertação de mestrado que conclui em 2002, cujo título é "Fotografia em Campina Grande: os fotógrafos e suas produções imagéticas no processo de desenvolvimento do município (1910-1960)". A ênfase do trabalho está no uso das imagens fotográficas como documento histórico, ou seja, nesta pesquisa as imagens não foram utilizadas como suporte ou anexos, e sim como colunas na construção da história da fotografia em Campina Grande no período citado. Trabalhamos as fotografias a partir dos seus elementos constitutivos: assunto (temas característicos de uma determinada época), fotógrafo (filtro cultural) e tecnologia empregada (equipamentos utilizados pelos fotógrafos).

- Como a obra trata da antiga questão entre fotografia e realidade?

- Na verdade, a fotografia é apenas um recorte da realidade, nunca a realidade. Assim, a contribuição que ela pode trazer para o desenvolvimento social vai depender muito do contexto, do recorte, dos fotógrafos. As fotografias e cartões postais de São Paulo do século 19, por exemplo, eram constantemente retocadas para passar a idéia de que a arquitetura paulista era muito próxima da arquitetura européia, o que nem sempre foi verdade. Não foi o caso em Campina Grande. As fotografias produzidas aqui não apresentam indícios de manipulação da realidade local (não esqueçamos que mesmo assim o caráter fragmentário e a interferência do fotógrafo permanecem, a colocação aqui é puramente técnica, de laboratório). A cidade era muito próspera na maior parte do período que nos propomos a pesquisar, e as imagens trabalham isso muito bem, não só em nível local, mas refletindo o que era Campina para outras regiões, do Brasil e do mundo.

- A obra também faz um passeio pelo instrumental disponível no século passado...

- Os capítulos do livro são muito próximos do ponto de vista estrutural. Histórias de vida dos fotógrafos; o contexto histórico no qual atuaram enquanto profissionais; os equipamentos utilizados; quem contratava os serviços, ou se eram pessoais; tudo isso articulado para encontrar os sentidos das imagens que eram nossas fontes primárias de pesquisa. São cinco capítulos, sendo quatro que envolvem esses tópicos, e um último que analisa os dados apresentados. No primeiro capítulo estudo o limiar da fotografia em Campina Grande; no capítulo 2, faço um imbricamento entre a cultura do algodão e o início da era dos fotógrafos "fixos"; no 3, estudo a efervescência nascente da fotografia campinense; no 4, o surgimento do fotógrafo "político"e as transformações urbanas da cidade. Os outros capítulos falam sobre a vida e a obra de quatro fotógrafos pioneiros na Paraíba: João Dias, Euclides Vilar, Sóter Carvalho e José Cacho, sendo este último o único ainda vivo. No recorte temporal (1910-1960) que nos propomos a estudar encontramos mais de trinta fotógrafos profissionais que atuaram em Campina Grande. Optamos pelos quatro já citados porque eles foram os que tiveram maior peso na formação profissional dos demais.


Data: 28/09/2005