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Biotecnologia do bem, editorial da "Folha de SP"

Uma das mais perniciosas associações fixadas no senso comum opõe biotecnologia a benefícios ambientais


Editorial publicado na Folha de SP


Graças ao desastre de relações públicas desencadeado com transgênicos, engenharia genética tornou-se sinônimo, para desavisados, de hecatombes naturais.

Nada mais falacioso, como se percebe por um inovador empreendimento em Juazeiro (BA), a Biofábrica Moscamed. Trata-se, literalmente, de uma fábrica de moscas.

Machos estéreis de mosca-da-fruta, do mesmo tipo existente na natureza e causador de prejuízos para a fruticultura do Vale do São Francisco.

No ambiente, os machos manipulados competirão por fêmeas, fazendo com que muitas ponham ovos não-fecundados. A expectativa é diminuir até 70% a população dos parasitas.

Tal controle biológico representa uma forma de diminuir o uso de defensivos agrícolas. Deve contribuir para aumentar a competitividade de frutas brasileiras nos mercados internacionais, onde proliferam barreiras fitossanitárias.

Faz sentido que o Ministério da Ciência e Tecnologia invista R$ 5,2 milhões na Moscamed. O Vale do São Francisco responde por 90% da exportação de mangas e uvas brasileiras.

Como se vê, a biotecnologia contribui também -além de gerar ganhos econômicos- para a saúde do ambiente, limitando o uso de pesticidas.

O mesmo ainda não se pode dizer com inteira segurança da primeira geração de plantas transgênicas, mas várias linhas de pesquisa acenam com cultivares de potencial semelhante.

Por exemplo, vegetais mais resistentes a secas, o que diminuiria a demanda por um recurso escasso, a água. A biotecnologia, decerto, não encerra solução para todos os males do mundo, mas tampouco é a caixa de Pandora que seus inimigos apregoam.


Data: 15/09/2006