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Faculdade de Tecnologia Centec vai multiplicar abelhas rainhas no Ceará

As primeiras 20 rainhas selecionadas em apiários de alta produtividade da safra deste ano, que se estendeu até agosto, foram entregues nesta quinta-feira à Fatec de Quixeramobim pela Seagri

O nascimento de uma nova abelha rainha, a mãe de toda a colméia, ocorre uma a três vezes por ano, em substituição a uma que morreu ou ficou velha. É assim na natureza. Mas pela reprodução induzida por tecnologia de manejo, podem ser produzidas centenas de abelhas rainhas de uma só, escolhida por apresentar boa produtividade.

Esta técnica é adotada no projeto Abelha Rainha, financiado pelo Ministério da Integração Nacional e executado pelo Instituto Centec com apoio da Secretaria de Agricultura (Seagri). A pesquisa, que está sendo coordenada pela Faculdade de Tecnologia Centec Sertão Central (Fatec), em Quixeramobim, visa fazer a reprodução induzida de abelhas rainhas de colméias de alta produtividade e boa qualidade genética para disseminação nos apiários do Estado.

As primeiras 20 rainhas selecionadas em apiários de alta produtividade da safra deste ano, que se estendeu até agosto, foram entregues nesta quinta-feira à Fatec de Quixeramobim pela Seagri. O projeto começa com apicultores dos municípios de Mombaça, Morada Nova e da região do Cariri, acompanhados por agentes rurais.

O objetivo este ano é de receber 160 rainhas de alta qualidade genética e fornecer aos apicultores 1.600 rainhas de alta produtividade, informa o coordenador do projeto, Raimundo Maciel de Sousa, diretor da Fatec de Quixeramobim.

Agrônomo com mestrado e doutorado na exploração das abelhas, além de apicultor, ele avalia que o apiário da Fatec, com 130 colméias é suficiente para reproduzir as abelhas rainhas e aproveitar as crias.

"O produtor fornece uma rainha velha, mas que vem de uma colméia com boa produtividade, e recebe em troca pelo menos 10 rainhas filhas de rainhas de alta produtividade", informa Raimundo Maciel.

As rainhas entregues serão de origens diferentes para evitar qualquer problema de endogamia, cruzamento entre parentes, explica.

Até agosto, os agentes rurais da Seagri identificaram nos produtores as colméias de maior produtividade, onde coletaram as 20 abelhas rainhas que já estão com baixo potencial reprodutivo mas têm a bagagem genética que interessa, relata o diretor. Na Fatec, as abelhas rainhas vão fazer a postura dos favos.

"Quando os ovos postos se transformarem em larvas, essas larvas são transferidas para realeiras artificiais, que são bercinhos onde são produzidas as princesas que vão dar origem às rainhas", explica Raimundo Maciel.

Na produção induzida, a origem da larva é escolhida, diferente da produção natural em que só atuam as larvas que são da própria colméia. A larva é transferida de outra colméia para a colméia que produz, e assim vai produzir rainhas de colméias diferentes.

Em seguida, será feita a fecundação das rainhas com zangões filhos, também de boa produtividade. Depois que as rainhas estiverem fecundadas, já iniciando a postura, em pleno funcionamento, serão enviadas à equipe da Seagri para serem distribuídas novamente aos produtores, relata o coordenador.

No final do ano ou no início do ano começa o processo de distribuição das novas rainhas. "É importante que essas rainhas cheguem nas colméias até o início da safra. É o período em que elas vão começar a potencializar, em janeiro, fevereiro. Em março começa a nova safra", disse ele.

A cada semana, a Fatec de Quixeramobim vai receber 20 rainhas da Seagri, até completar 160 rainhas. Logo que elas chegam, vão para os núcleos, mini-colméias. "Com 15 dias já teremos crias à vontade para começar a multiplicar, e a produzir rainhas filhas", diz o coordenador.

A produtividade das colméias com as novas abelhas rainha será comparada pelos agentes rurais com a das colméias do mesmo apiário onde não foi feito esse trabalho. Segundo Raimundo Maciel, a produtividade mínima para ter um retorno seguro na apicultura hoje é de 35 quilos por colméia-ano.

"A média preconizada por nós, com produtividade de resultado apenas de um bom manejo é de 42 quilos por colméia-ano. A gente espera elevar a pelo menos 50 quilos nesse primeiro ano e continuar com aumentos consecutivos nos próximos 15 anos", assegura Raimundo Maciel.

O coordenador informa que a organização dos produtores foi determinante na escolha das regiões onde está sendo realizado o projeto, pela capacidade de absorver esse tipo de assistência e insumo para ter um rendimento melhor do trabalho.

Depois o trabalho vai ser expandido em mais apiários que passam a ser acompanhados pelos técnicos da Seagri.

De acordo com Raimundo Maciel, vão ser incorporados mais municípios no projeto. "Vamos procurar obter novas fontes de recursos para ter mais capacidade de produção", disse ele.

"Esse trabalho tem um resultado imediato bom de um ano para outro, a curto prazo, mas ele pode ser conduzido a longo prazo por 15 a 20 anos, sem problema".

O diretor da Fatec assinala ainda que o objetivo principal ao criar o curso de Agropecuária em Quixeramobim foi produzir um profissional que atendesse à demanda de mercado na produção animal nas condições de semi-árido.

Segundo ele, foi dada prioridade à criação de pequenos ruminantes, tanto para corte como para leite, a criação de bovinos para leite e a exploração da vegetação nativa, a caatinga, bem manejada, procurando um manejo racional, o que levou também à apicultura.

"A apicultura é a principal atividade dentro da exploração da caatinga, e entra como a terceira grande área de estudo, de preparação dos nossos alunos, de pesquisa e de extensão tecnológica", observa Raimundo Maciel.

A Faculdade procura desenvolver a atividade nas regiões onde a apicultura já é uma realidade, onde a cadeia produtiva já está organizada, para melhorar a produtividade e a qualidade dos produtos, que considera um grande entrave.

Onde a apicultura não está bem difundida, procura implantar e formar cadeias produtivas completas nesses municípios, informa.

Para Raimundo Maciel, a produtividade de mel em Quixaramobim é baixa, a atividade é pouco explorada. "No entanto, as condições naturais são ótimas", observa. Fopi formatado um projeto para acompanhar o que já foi feito com os produtores de leite.

Segundo ele, estão sendo selecionados 40 produtores com base na experiência que a Secretaria de Agricultura do Município teve com eles, que têm capacidade de absorver novas tecnologias, que aceitam mudanças e têm interesse pela atividade apícola.

Os produtores receberão uma capacitação de 80h e um kit mínimo para que se tornem apicultores, com cinco colméias, macacões, fumigadores, equipamentos básicos. Eles serão acompanhados durante o ano de 2007.

Ao final do ano, eles estarão prontos para se profissionalizar na apicultura, disse Raimundo Maciel.


Data: 14/09/2006