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Antiinflamatório traz riscos ao coração

Diclofenaco, droga comum, aumenta em 40% chance de dano cardíaco, diz revisão de estudos com 1,6 milhão de pessoas. Substância é princípio ativo de remédios como Cataflam e Voltaren, vendidos sem receita no Brasil; FDA não deve mudar status da droga

Um dos antiinflamatórios mais usados do mundo, vendido há anos sem receita no Brasil, pode ser quase tão perigoso quanto o mal-afamado Vioxx, sugere uma nova pesquisa.

A análise, envolvendo 1,6 milhão de pacientes, mostrou que o diclofenaco pode aumentar em 40% o risco de problemas cardiovasculares como ataques cardíacos e morte súbita.

O trabalho, de autoria de Patricia McGettigan, da Universidade de Newcastle, em Nova Gales do Sul (Austrália), é uma meta-análise - ou seja, ele reúne e investiga os resultados de 23 outros estudos.

O diclofenaco é o princípio ativo e o nome genérico de remédios como o Voltaren e o Cataflam.

"Acreditamos que há base para rever o seu status regulatório", escrevem McGettigan e seu colega David Henry.

Segundo o "news@nature", site de notícias da revista científica britânica "Nature", os 23 estudos não seguiram o padrão mais aceito para testes clínicos para medicamentos, que exigem, por exemplo, o chamado duplo-cego (no qual nem os médicos nem os pacientes sabem quem está recebendo o remédio e quem só obteve uma substância inócua, o placebo).

Mesmo assim, a escala sem precedentes da análise confere peso aos resultados, segundo David Graham, especialista em segurança da FDA (agência reguladora de alimentos e fármacos dos EUA).

"Eles avaliaram todas as NSAIDs [sigla inglesa para drogas antiinflamatórias não-esteróides], verificaram toda a evidência disponível sobre essas NSAIDs.

Nesse sentido, trata-se de um trabalho sem precedentes, com grande autoridade, na minha opinião", afirmou Graham, que comentou a pesquisa num editorial da revista científica "Journal of the American Medical Association", onde ela foi publicada.

Segundo Graham, uma das opções para os pacientes preocupados com o risco cardiovascular do diclofenaco seria usar, como alternativa, o naproxeno. O medicamento não tem efeitos cardíacos negativos nem positivos, segundo a análise.

A FDA afirmou numa nota que nenhuma das informações do novo estudo garante uma mudança na regulamentação dos antiinflamatórios no país.

Como os procedimentos da agência americana costumam ser seguidos no Brasil, a princípio nada muda por aqui. Grupos ligados à saúde pública relativizam o risco:

"Se algo ajudou você no passado e você não teve nenhuma reação adversa, continue com o remédio", disse Larry Sasich, do Grupo de Pesquisa de Saúde do Cidadão (EUA).


Data: 13/09/2006