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África do Sul: Cientistas pedem saída de ministra que receita beterraba contra Aids

Carta ao presidente sul-africano considera "imoral" sua política contra a doença

Mais de 80 cientistas e acadêmicos, de diversos países, condenaram a política da África do Sul contra a Aids, classificando-a de imoral e ineficaz, e pediram a demissão da sua ministra da Saúde, numa carta enviada ao presidente Thabo Mbeki, divulgada nesta quarta-feira.

Os especialistas afirmam que a permanência de Manto Tshabalala-Msimang no cargo é "embaraçosa" para o país. Entre os signatários do texto estão o ganhador do Nobel David Baltimore e Robert Gallo, um dos descobridores do vírus HIV. Eles pedem "a saída imediata da dra. Tshabalala-Msimang do Ministério da Saúde e o fim das políticas desastrosas e pseudocientíficas que têm caracterizado a resposta do governo da África do Sul ao HIV/Aids".

A ministra é conhecida como "dra. beterraba", por defender a ingestão do legume, alho e limão contra o vírus. O presidente também é acusado de minimizar o impacto da doença no país -ele já deu declarações pondo em dúvida a relação entre o HIV e a Aids e questionando a eficácia dos remédios anti-retrovirais.

"Negar que o HIV cause a Aids é absurdo diante das evidências científicas; promover políticas ineficazes e imorais contra o HIV/Aids põe vidas em risco; ter como ministra da Saúde uma pessoa que não tem o respeito internacional é um embaraço ao governo sul-africano", afirma o texto dos especialistas. Eles se dizem extremamente preocupados com a proliferação de tratamentos sem comprovação científica, com a anuência da ministra.

O próprio governo sul-africano estima que mais de 5,5 milhões de pessoas sejam portadoras do vírus no país, número só superado pela Índia. Cerca de 900 sul-africanos morrem por dia devido à Aids.

O governo não comentou a carta dos especialistas, mas recentemente defendeu a ministra, dizendo que eram divulgadas informações falsas sobre o tratamento da doença no país. Tshabalala-Msimang, em entrevista recente, ridicularizou críticas anteriores feitas a ela. "Minha demissão? Não pensei sobre isso e não vou pensar."

A receita prescrita pela ministra contra a Aids já havia causado protestos na Conferência Internacional sobre a Aids, no mês passado, em Toronto. Mais de 130 representantes da África do Sul no encontro pediram asilo ao governo canadense, dizendo que a política do seu país contra a Aids punha suas vidas em risco.

O governo da África do Sul, que só passou a distribuir medicamentos contra a doença após ativistas irem à Justiça, em 2002, afirma que seu programa anti-Aids é o maior do mundo. Ele estima tratar mais de 140 mil pessoas com remédios anti-retrovirais, mas os especialistas calculam que mais de 500 mil sul-africanos têm necessidade imediata dos medicamentos para sobreviver.


Data: 11/09/2006