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Amazônia tem novo vigia a partir de hoje

Imazon coloca no ar nesta segunda-feira sistema independente de monitoramento do desmatamento, que dará taxa mensal da devastação. Ferramenta foi testada com sucesso em Mato Grosso e deve cobrir toda a região Norte até o fim do ano; idéia é prever desmates futuros

Se a Amazônia acabar de fato, não há de ser por falta de vigilância. Uma organização de pesquisas de Belém lança nesta segunda-feira o primeiro sistema independente para monitorar o desmatamento em tempo real, por meio de imagens de satélite.

A idéia é ter informações sobre a devastação da floresta disponíveis na internet e atualizadas todo mês -não só para diagnosticar a situação da floresta, mas também para prever desmatamentos futuros.

O SAD (Sistema de Alerta de Desmatamento), como foi batizada a ferramenta, é uma criação de uma equipe do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia, o Imazon.

Ele deve permitir o cálculo mensal da área devastada na região Norte, uma cifra que o governo brasileiro hoje só divulga uma vez por ano -o último dado oficial, referente a 2004-2005, saiu na terça-feira passada, confirmando uma queda prevista de 31,5% na taxa de destruição.

"Assim como a inflação, que tem vários índices, esperamos ter o dado mensal do desmatamento como um indicador a mais", compara Adalberto Veríssimo, pesquisador do Imazon e um dos criadores do SAD.

A analogia é mais do que justificada. Afinal, o que os números do desmatamento divulgados anualmente pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) medem é a perda de um ativo econômico, cujo valor -em forma de seu estoque de carbono, vital para a regulação do clima- agora começa a ser reconhecido pelo governo.

Foi justamente para monitorar as emissões de carbono causadas pelo desmatamento que o SAD foi concebido, com uma doação de R$ 200 mil da Fundação Packard.

"Nós precisávamos de um sistema independente de acompanhamento, porque os dados do Deter não tinham muita regularidade", diz Carlos Souza Jr., que desenvolveu a metodologia de processamento de imagens do sistema do Imazon.

O Deter é o sistema de detecção do desmatamento em tempo real do governo, criado pelo Inpe a pedido do Ministério do Meio Ambiente. Ele usa imagens dos satélites americanos Modis para monitorar a floresta e guiar a fiscalização do Ibama sobre desmates ilegais.

O Deter foi criado em 2004 com a promessa de ter dados atualizados de desmatamento na internet todo mês, mas isso nunca aconteceu.

 O sistema também tem baixa resolução -ele foi feito para ser ágil e não preciso, e só consegue "enxergar" desmatamentos acima de 20 hectares devido a uma limitação do Modis.

Por isso o Inpe não o utiliza para calcular a área total desmatada, embora o governo o tenha utilizado para avaliar tendências de desmatamento.

Cego que vê

O novo sistema do Imazon usa as mesmas imagens que o Deter, mas processadas de outra forma. Isso amplia sua capacidade de detecção para desmatamentos acima de cinco hectares.

O SAD também permite estimar, pela visualização de pequenos desmatamentos, onde o corte raso da floresta tende a acontecer -e fazer alertas.

O primeiro teste do SAD foi feito em Mato Grosso. Até o fim do ano, toda a Amazônia deve ser coberta. Hoje, o Imazon a ONG mato-grossense ICV divulgam um boletim com uma análise da situação do Estado em 2004-2005 e em 2005-2006.

O número do SAD para este biênio é de 6.086 km2 desflorestados, algo próximo dos 5.450 km2 medidos pelo Deter.

O boletim "Transparência Florestal Mato Grosso" está na internet (http://www.imazon.org.br)

Iniciativa é bem-vinda, afirma Inpe

O Deter é feito para servir ao Ibama, e a demanda por dados dele é maior do que eu imaginava"

O coordenador de Monitoramento Ambiental da Amazônia no Inpe, Dalton Valeriano, elogiou o novo sistema do Imazon.

"É mais do que bem-vindo um levantamento paralelo de desmatamento. Será uma oportunidade para aprimorarmos o Deter".

Apesar de as imagens de satélite serem atualizadas a cada duas semanas, hoje o Deter ainda usa identificação visual, para garantir que os fiscais do Ibama não dêem de cara com um alarme falso.

Isso torna o processamento mais demorado. Valeriano reconhece há problema nas atualizações mensais do Deter na Internet (http://www.obt.inpe.br/deter).

"Isso é falha nossa. O Deter é feito para servir ao Ibama, e a demanda por dados dele é maior do que eu imaginava".

O Inpe promete resolver o problema.


Data: 11/09/2006