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Lula: "Os passos que demos na C&T estão fazendo a diferença do que pode vir a ser o Brasil neste próximo século"

Na abertura da reunião do Conselho Nacional de C&T, presidente reconhece que é preciso fazer mais pelo desenvolvimento do país

Leia a íntegra do discurso de Lula:

"Todo mundo recebeu uma pauta que tem uma abertura feita por mim, um balanço feito pelo nosso ministro Sergio Rezende e uma exposição sobre etanol - O Brasil produzindo energia para o mundo - do nosso querido Rogério Siqueira Leite.

Depois, tem as ações do Ministério da Saúde em C&T, o relato da comissão de acompanhamento e articulação do Conselho Nacional de C&T, a alteração da composição do Conselho Nacional de C&T e a proposta de criação do Certificado de Tecnologia Nacional.

São sete assuntos previstos na pauta, mas tem aqui um item para outros assuntos, e possivelmente apareçam mais sete. Bem, vamos ganhar tempo, Sergio, já que estamos atrasados para a reunião.

Eu, primeiro, queria cumprimentar o nosso companheiro Sergio Rezende, ministro da C&T.

A nossa ministra Dilma Roussef, da Casa Civil, Waldir Pires, da Defesa, Hélio Costa, das Comunicações, o general Félix.

E cumprimentar todos vocês, companheiros e companheiras, membros do Conselho de C&T.

Antes, eu só queria dizer para vocês que eu estou aqui como presidente mas, daqui a pouco, tenho que viajar como candidato.

Então, esta dupla personalidade que a gente tem que assumir em época de campanha não vai permitir que eu fique até o final da reunião, mas eu ouvirei uma ou duas exposições e depois, então, irei para Pernambuco.

Bem, meus amigos e minhas amigas,

Três anos se passaram desde a instalação deste Conselho, que foi revitalizado e ampliado pelo Ministério da C&T.

Neste Fórum, foram recolhidas idéias e foram feitas importantes discussões que contribuíram para a articulação das políticas públicas no setor científico, assim como no campo tecnológico e industrial.

Sabemos todos que deve haver um ciclo contínuo, sem interrupções, entre o conhecimento científico básico, tecnologias aplicadas e criação de novos produtos e processos pelas empresas.

Ciência, tecnologia e inovação são fundamentais para impulsionar o conhecimento, gerar riqueza nas sociedades, criar e distribuir o fruto das inovações que melhora a vida cotidiana das pessoas em todos os cantos.

Países sem tecnologia são países que padecem de uma incapacidade crônica de aumentar continuamente a sua produtividade. Sem tecnologia, ficam sem condições de competir num mundo cada vez mais globalizado.

Sabemos todos o que a tecnologia da Embrapa fez e continua a fazer pela agricultura do nosso país.

Sabemos o que as inovações do Centro de Pesquisas da Petrobras têm feito pela área de petróleo e gás no Brasil. Sabemos, também, o que o esforço da Embrapa e da Petrobras está fazendo pelo biocombustível no Brasil, como o biodiesel e, recentemente, o revolucionário H-Bio.

Este Conselho deu importante contribuição para que o Congresso Nacional dotasse o país de uma moderna lei de inovação. Membros deste Conselho contribuíram, igualmente, para que se definisse positivamente a Lei de Biossegurança.

Aqui se encontra um precioso ambiente de idéias formuladas por cientistas comprometidos, antes de tudo, com um olhar de futuro para o nosso país.

Da mesma forma, o governo tem procurado trilhar os caminhos que nos levam a um Brasil melhor, menos injusto socialmente e mais rico econômica e culturalmente. Ciência, tecnologia e inovação são essenciais para tanto.

Nesses quase quatro anos, ampliamos os recursos disponíveis para o conjunto do setor. Entre 2003 e 2006, foram assegurados avanços na política nacional de ciência, tecnologia e inovação.

A partir do nosso governo, a quantidade de recursos alocados para essa política foi de 6 bilhões e meio, em 2002 e, neste ano, chegaremos a um total de 10 bilhões, considerando-se todas as instituições e empresas federais.

De igual modo, houve um progresso importante na execução orçamentária do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, o mais importante instrumento para o financiamento da pesquisa no País. A execução passou de 513 milhões em 2003 para 784 milhões em 2005.

Este ano, o Orçamento prevê a aplicação de 1 bilhão e 200 milhões, aproximadamente, quatro vezes mais do que os 343 milhões executados no último ano antes de nós tomarmos posse.

Sei que precisamos fazer mais e sei que continua sendo um desafio aumentarmos o investimento do país em ciência, tecnologia e inovação, dos atuais 1,37% do PIB para 2% do PIB.

Sabemos todos, também, que precisamos estimular o aumento do investimento privado, elevando dos atuais 40% do total investido para 60%.

Estamos progressivamente nesse caminho e tenho a certeza de que a aplicação do instrumento de subvenção econômica, anunciado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia e pela Finep na última quinta-feira, vai representar um importante passo nesse sentido.

Além de números orçamentários, convém ressaltar que falar em ciência, tecnologia e inovação é falar de gente altamente qualificada, de recursos humanos e de conhecimentos que fazem a riqueza de um país.

E é com satisfação e senso de dever cumprido que chegamos ao final de 2006 tendo atingido uma das grandes metas fixadas pelo governo federal: a formação de 10 mil doutores por ano, neste ano vão ser formar 10 mil e 600 doutores, um recorde histórico.

Para tanto, somaram-se os esforços e as bolsas conseguidas por duas de nossos mais importantes instituições nessa área: o Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior.

O número de bolsas de produtividade em pesquisa, que por muitos anos esteve inalterado em cerca de 7 mil e 500, alcançará a marca de 10 mil em dezembro, com o valor da bolsa reajustado em 10% no último dia primeiro de agosto.

Esses e vários outros avanços certamente serão destacados aqui pelo meu querido companheiro Sergio Rezende.

Mas, gostaria, neste momento, de dar especial destaque para o empenho deste Ministério em realizar, no ano passado, a Primeira Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas, quando se inscreveram 11 milhões e participaram 10 milhões e meio de estudantes.

A Segunda Olimpíada, agora em curso, recebeu a inscrição de 14 milhões de estudantes, que já realizaram a primeira etapa.

É importante ressaltar que nós fomos proibidos, pela Justiça, de fazer um simples cartaz para colocar nas escolas, e nós tínhamos uma preocupação de que, por conta de não termos tido divulgação, não fossem se inscrever os mesmos 11 milhões que se inscreveram no ano passado.

E se inscreveram 14 milhões de crianças para participar, que já realizaram a primeira etapa.

Tenho a certeza de que o êxito dessa iniciativa vai representar, a cada ano, um estímulo concreto para despertar talentos e melhorar o desempenho geral dos estudantes brasileiros em matemática, bem como nas demais disciplinas.

O caminho da educação de qualidade é um caminho longo, que requer persistência e empenho, mas tenham a convicção de que poderemos buscar, todos juntos, uma revolução em nosso sistema de educação fundamental e básica.

A alta matemática e as ciências brasileiras certamente darão suas contribuições para que essa revolução aconteça. A grande mobilização pela Olimpíada de Matemática já mostra que isso é possível.

Mais de uma vez me referi ao exemplo do que o presidente Roosevelt, dos Estados Unidos, fez no Vale do Tennessee, que era uma das regiões mais pobres dos Estados Unidos, muito semelhante à pobreza do nosso Nordeste.

A decisão de Roosevelt, de que era preciso priorizar o desenvolvimento daquela região com emprego, tecnologia e políticas públicas concentradas, transformou aquele vale numa das regiões mais ricas dos Estados Unidos.

Aqui, o nosso Vale do São Francisco demonstra o poder transformador da tecnologia aplicada à fruticultura, exemplo que estamos procurando levar para outras áreas pobres e para a agricultura familiar, especialmente no Nordeste.

Da mesma forma que o Vale de Tennessee mudou, podemos ver também a incrível força que o conhecimento e a tecnologia produziram em outro vales americanos, como no Vale do Silício, na Califórnia.

Lá nasceram os chips de computadores, a indústria de software, os revolucionários sites de busca na internet e algumas da mais importantes modernidades, sem as quais ninguém vive no mundo de hoje.

Tenho a convicção, portanto, de que temos aqui, colados às nossas melhores universidades das regiões brasileiras, potenciais vales, onde a alta tecnologia pode e vai florescer na forma de uma criação contínua de novas empresas inovadoras e de base tecnológica.

A Lei da Inovação está toda ela focalizada para captar essa potencialidade e realizar essa vocação.

Tenho certeza de que o Ministério da C&T e este Conselho saberão criar os instrumentos práticos para que, junto com a Finep, com o BNDES e com o setor privado, sejam semeados no Brasil muitos vales do conhecimento, da inovação e da tecnologia.

Nossa política industrial, tecnológica e de comércio exterior está toda projetada para ajudar o país a trilhar esse caminho da inovação.

Nosso sistema nacional de ciência e tecnologia, na ponta do qual se concentra este Conselho, oferece recursos, inteligência e políticas para que o grande salto do conhecimento finalmente aconteça no nosso país.

Meu querido Sergio e meus queridos Conselheiros,

Eu só posso dizer para vocês uma coisa: nós estamos longe de fazermos tudo o que o Brasil necessita, mas certamente nós já demos passos importantes, e eu acho que esses passos, que nós demos na ciência e tecnologia, estão fazendo a diferença do que pode vir a ser o Brasil neste próximo século.

Todo mundo tem acompanhado o nosso trabalho, e eu tenho dito que o Brasil, se não cometer erros que foram cometidos no passado, poderá se transformar na grande matriz energética do mundo na primeira metade do século XXI.

Nós estamos dotados de conhecimento, de decisão política, sabemos o que precisa ser feito e sabemos o que o mundo está pensando hoje a respeito do potencial do Brasil nessa área.

Mas sabemos, também, que é preciso colocar mais dinheiro em ciência e tecnologia, que é preciso fazer mais universidades, que é preciso investir mais no ensino técnico, que é preciso melhorar o ensino fundamental.

Por isso nós definimos que, qualquer que seja o presidente da República dos próximos anos, tem três palavras-chave, para que este país dê certo: desenvolvimento, distribuição de renda e educação de qualidade. Essa educação de qualidade é, na verdade, o grande desafio para os passos que nós precisamos dar nas próximas décadas.

Eu não acredito que a gente possa resolver isso em quatro anos, mas eu acredito que a gente possa garantir que uma nova geração de brasileiros, daqui a 15 ou 20 anos, vai estar muito mais qualificada, muito mais preparada, com muito mais conhecimento do que a nossa geração.

E penso que nós temos a obrigação política e moral de criar as condições para que isso aconteça no Brasil.

Da nossa parte, nós não mediremos esforços para que isso aconteça. Nós sabemos que nem sempre, na política, se faz o que quer. Muitas vezes, se faz o que pode.

Agora, com a disposição política de fazer da educação o centro do desenvolvimento do Brasil para o século XXI, eu acho que nós poderemos construir um verdadeiro milagre, para que o Brasil tenha a chance que ele jogou fora no século XIX e jogou fora no século XX. Depende muito de nós.

E eu quero dizer para vocês, do Conselho, que se depender do governo, as coisas vão acontecer, porque se não acontecerem, nós atravessaremos mais um século sendo apenas um país emergente e não um país desenvolvido como nós queremos.

Portanto, eu quero agradecer a presença de vocês e passar a palavra para o nosso ministro Sergio Rezende fazer a sua exposição.

Muito obrigado."


Data: 06/09/2006