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Instituto Butantan inaugura centro de vacinas para animais

Parceria com empresa repassará royalties à instituição, que serão gastos com vacinas para humanos

O Instituto Butantan inaugurou nesta terça-feira o Centro de Pesquisas e Desenvolvimento de Imunobiológicos Veterinários Rosalvo Guidolin, voltado à produção de vacinas para animais.

A construção do laboratório, com recursos estimados em R$ 1,7 milhão, é resultado de uma Parceria Público-Privada (PPP) firmada entre o governo e a empresa de produtos farmacêuticos para animais Ouro Fino, com sede em Cravinhos, no interior de SP.

A iniciativa permitirá a transferência de tecnologia e know-how para que a empresa produza, em sua fábrica no interior do Estado, imunobiológicos para o setor veterinário. Em troca, o instituto receberá royalties sobre os produtos comercializados nesse mercado, que movimenta anualmente US$ 890 milhões em todo o mundo.

A primeira vacina resultante do acordo será a anti-rábica, com produção estimada de 24 milhões de doses anuais.

Saúde humana

Nessa parceria, a Ouro Fino conta com o instituto de pesquisa para obter uma tecnologia a que não teria acesso, aumentará sua produção e gerará empregos e renda. O Butantan, por sua vez, poderá captar recursos para reinvestir em outras pesquisas de base e aplicadas.

Nos planos da instituição está o uso dos recursos obtidos com os royalties no desenvolvimento de novas vacinas humanas, como a contra a gripe aviária, ainda em fase de estudos, e biofármacos como o surfactante pulmonar natural, obtido de pulmões suínos.

O presidente do instituto, o médico e bioquímico Isaías Raw, destacou a importância do desenvolvimento de vacinas veterinárias. "Para que exista a saúde humana, é muito importante a saúde animal", disse.

Essa é uma iniciativa que deve ser seguida por outras instituições de pesquisa, por universidades e, principalmente, pelas empresas privadas. Mas ressaltou que nem sempre é isso o que acontece. "É mais fácil para ele (empresário) buscar no exterior essa tecnologia. No entanto, a cada quatro ou cinco anos, terá que ir lá fora buscar outra vez, pois não aprendeu a desenvolver essa tecnologia."

Raw destacou ainda o déficit de pesquisa e desenvolvimento de ciência e tecnologia no setor privado e a falta de investimentos a longo prazo como uma das razões para o baixo crescimento econômico do país e para o desemprego. "O Brasil está produzindo mais mestres e doutores do que a demanda do mercado", disse. "Estamos formando um exército de pessoas que não terão colocação na indústria privada."

Isolamento

Parcerias desse tipo são vistas como estratégicas pelos pesquisadores, atentos à corrida gerada pelo desenvolvimento do setor biotecnológico.

O diretor do Instituto Butantan, Otávio Azevedo Mercadante, acredita que esse é um importante processo para o desenvolvimento da economia.

"Hoje já existe o consenso de que as instituições têm que deixar de fazer pesquisa isoladamente", afirmou. Para ele, apesar de haver cientistas de alto padrão no Brasil, a transferência de tecnologia e conhecimento para as empresas não ocorre naturalmente. "A iniciativa privada, principalmente no setor farmacêutico, não desenvolve pesquisas no país."

Mercadante compara o Brasil a outros países emergentes, como a China e a Índia, que investem no desenvolvimento científico e tecnológico. "Estamos no limiar de perder esse salto de conhecimento gerado pela biotecnologia", observou.

Participam do projeto do novo centro, como financiadoras, a Fapesp e a Finep.

1º produto será contra a raiva

O Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Imunobiológicos Veterinários Rosalvo Guidolin, no Instituto Butantan, resultado de uma Parceria Público-Privada (PPP), produzirá em sua primeira fase de funcionamento uma vacina anti-rábica animal, com tecnologia diferente das encontradas no mercado. O processo foi desenvolvido pelo próprio Butantan.

A estrutura do laboratório, no entanto, permite a produção de outras vacinas. Um exemplo é a vacina bovina contra a clostridiose (um tipo de infecção bacteriana), já em fase de testes.

"Hoje essas vacinas são todas importadas", diz Hisako Gondo Higashi, diretora da divisão industrial do Instituto Butantan.

O centro de pesquisas atuará no desenvolvimento das vacinas e na produção em escala experimental. Após essa fase, a tecnologia será repassada para a empresa. "O mais importante é que passamos esse conhecimento para uma empresa inteiramente nacional", afirma Hisako.


Data: 06/09/2006