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Cientista "caça" mosquitos por cura de doenças

Dar o sangue pela ciência não é força de expressão, no caso da entomóloga Marilza Maia Herzog, 51, do Instituto Oswaldo Cruz

No começo da carreira, por dois anos, a pesquisadora arrastava diariamente sua cadeira de praia até a floresta da Tijuca e ficava, das 7h30 às 18h, "coletando simulídeos para fazer antropofilia". Ou: servindo de atrativo para mordida de borrachudo.

A menina que gostava de vagalume começou como estagiária do laboratório em 1977, mas os colegas não a deixavam sair a campo, pelo fato de ser mulher.

"Não me conformava com aquilo, aproveitava que morava com meus pais, pegava o salário e viajava para pesquisar".

Nas últimas décadas, correu o Brasil estudando a fauna de simulídeos. Quando o filho mais velho, de 21, tinha dois anos, viajou quatro meses. Depois, "não sem culpa", desmamou a caçula, hoje com 14, e voltou a ir atrás dos mosquitos. No Acre, de onde acaba de voltar, ficou à deriva no rio Itimari.

Especialista em parasitologia veterinária, Marilza participou da expedição da Fiocruz que descobriu, em 2004, o Simulium lobatoi, nova espécie encontrada em Mato Grosso e em Goiás.

A descoberta ajuda a pesquisa da oncocercose, doença causada pelo verme Onchocerca volulus, transmitido por mosquito. Presente entre os ianomami, na Amazônia, é uma doença cujo estudo não é do interesse de instituições privadas.

Os borrachudos estão por toda parte no Brasil, mas os focos de oncocercose são restritos. Daí a importância de conhecer bem a fauna transmissora.

Potencialmente, o S. lobatoi é um bom vetor da doença. É que, na espécie nova, o órgão responsável pela sucção é liso, ao contrário de outros simulídeos, que apresentam cerdas cortantes no órgão, localizado entre a abertura bucal e a laringe.

Os mosquitos com cerdas são maus transmissores, porque esses filamentos dilaceram as larvas do verme.

A pesquisadora-titular da Fiocruz diz adorar a ligação entre sua especialidade e a saúde pública.

"Sou contra coletar mosquito para nada. Tem que ter utilidade. É que eu vejo o inseto com o olho dele".


Data: 04/09/2006