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Terapia Hormonal é tema de conferência durante congresso científico

Palestrante fala no 44º Congresso do HUPE sobre indicações e contra-indicações do tratamento

 

“A Universidade do Estado do Rio de Janeiro está há cerca de dez anos tentando construir um Centro de Reprodução Humana que disponibilize, além de outros serviços, a fertilização in vitro para a população em geral – serviço que é assegurado como um direito da mulher pelo Estado”. Foi com esta informação que Hildoberto de Oliveira, ginecologista da UERJ, abriu a Conferência “Terapia Hormonal do Climatério – Aspectos Atuais”  que foi apresentada por Paulo Gallo de Sá, professor assistente de ginecologia da UERJ e um dos responsáveis pelo projeto do centro.  Por enquanto, o tratamento particular que custa entre 6 a 10 mil reais ainda é uma realidade para poucas brasileiras.

 

A Terapia Hormonal, que já foi divulgada na mídia como “milagreira” capaz de manter a mulher jovem por tempo indeterminado e que já sofreu críticas severas com a difusão de que era propiciadora de câncer de mama, ainda gera muitas controvérsias, A começar pelo próprio nome, antes TRH (Terapia de Reposição Hormonal) agora apenas TH (Terapia Hormonal), que segundo o Paulo Gallo de Sá é o ideal já que não se busca elevar o nível de hormônios da mulher na menopausa ao nível que possuía antes desta fase.

 

Embora, ainda haja médicos que vêem a menopausa como uma fase natural da vida, e que por isso não necessita de TP, o palestrante considera que ela é muitas vezes necessária. Isto porque a expectativa de vida aumentou e, segundo ele, as “mulheres que antes terminavam a vida na menopausa, hoje, vivem metade dela nesta fase, já que deixam de com carência de estrogênio durante boa parte do tempo”. De acordo com o médico, o declínio de hormônio na menopausa causa desconfortos como fogachos, distúrbio de sono e humor, pele e cabelos secos e, ainda, possíveis sintomas psíquicos como depressão, atrofia do sistema urogenital e perda de massa óssea causando osteoporose.

 

É para aliviar esses sintomas e aumentar a qualidade de vida das mulheres que o  palestrante indica a terapia hormonal. No entanto, é fundamental que haja diálogo entre médico e paciente: “a mulher precisa estar ciente de todo o processo e o especialista tem que ter paciência para ouvir e esclarecer as dúvidas”, disse ele. Além disso, segundo o palestrante, é importante a adoção de medidas coadjuvantes como mudança de estilo de vida, correção nutricional e dieta, prática de exercícios físicos, controle de doenças concomitantes, redução de estresse, abandono do fumo e álcool. Na opinião de Paulo Gallo de Sá, o ginecologista tem que entender que “muitas vezes a mulher só se consulta com ele, não reocrrendo a outros médicos, como o clínico geral, por exemplo. Por esta razão, o ginecologista deve rastrear outras doenças que são exacerbadas com o climatério”, afirmou.

 

Entretanto, nem todas as mulheres podem fazer uso da terapia hormonal. De acordo com o médico, para mulheres com doença tromboembólica aguda e recorrente, doença hepática grave, câncer de mama ou sangramento vaginal  sem causa identificada o tratamento é contra-indicado. Entretanto, até algumas pacientes com contra-indicação possuem uma alternativa, que é o que ocorre com o tratamento da osteoporose feito com uma dose ultra-baixa de reposição de estrogênio.

 

Segundo o ginecologista, quanto mais cedo é iniciada a terapia hormonal, maior será a melhora da qualidade de vida das pacientes. A terapia convencional pode ser feita com estrógenos (substâncias sintéticas que têm afinidade com os receptores de estrogênio) e progestógenos (substâncias sintéticas que têm afinidade com os receptores de progesterona) orais e parentais. Os progestógenos são utilizados porque há a necessidade de prevenção de alguns problemas ocasionalmente induzidos pelo estrogênio, como a hiperplasia do endométrio. Já as outras terapias hormonais, segundo o Paulo Gallo de Sá, podem ser feitas através de implantes subcutâneos ou com implantes intra-uterinos (endoceptivo). O especialista lembrou que existem vários tipos de TH, tais como a estrogênica isolada, combinada seqüencial, combinada contínua, entre outras.

 

O médico mostrou, também, estudos que apresentavam prós e contras do uso da reposição hormonal. Ele citou como exemplo o “Nurser´s Health Study”, que mostrava uma melhora do risco de doença cardiovascular em mulheres saudáveis que fizeram uso de TH, e o HERS, que identificou que mulheres já coronariopatas não foram beneficiadas pela mesma para doença cardiovascular apresentando ainda, piora nos anos iniciais da terapia.

 

Devido as diferentes formas de recorte, algumas vezes questionáveis, ainda não se pode precisar pontos como a melhora da doença cardiovascular e o aumento da incidência de câncer de mama com relação a TH. O médico alertou, ainda, que os estudos diferem também em função do país de origem e da respectiva realidade. Por exemplo, nos EUA há uma dieta nutricional menos saudável que na Europa. Por isso, os programas de TH também são diferentes: nos EUA são padronizados com administração por via oral e hormônios combinados, já na Europa há individualização de terapia, com substâncias sintéticas praticamente iguais aos hormônios humanos.

 

Por fim, ele defendeu que uma boa terapia hormonal deve ser individualizada, iniciada logo no início do climatério, e deve utilizar hormônios mais similares aos produzidos pelo organismo humano. A mulher deve, ainda, ser reavaliada periodicamente, anualmente. Ele alertou, ainda, para os fitoestrogênios, que embora tenham feito relativo sucesso no mercado devido a sua origem “natural”, não são hormônios naturais do corpo humano e não são eficazes no tratamento dos sintomas da menopausa.


Data: 04/09/2006