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Emissões de CO2 chegam ao nível mais alto

Aquecimento global está perto de um ponto irreversível. Especialista diz que EUA são antiéticos

A despeito do debate internacional e de algumas medidas adotadas na luta contra o aquecimento global, as emissões de gases do efeito estufa só fazem aumentar.

Segundo dados das Nações Unidas, as emissões alcançaram, em 2004, seu volume mais alto em uma década: naquele ano foram lançadas 17,8 bilhões de toneladas na atmosfera, 1,6% a mais que em 2003.

Na análise de especialistas, se continuar assim, o mundo caminha a passos largos para uma catástrofe climática.

O novo presidente da Associação Americana para o Avanço da Ciência, John Holdren, afirmou à BBC que o clima mundial está mudando muito mais rapidamente do que o previsto e que, em breve, a situação será irreversível.

"Estamos vivenciando uma perigosa intervenção humana no clima mundial e vamos vivenciar muito mais".

Os governantes precisariam agir já e de forma bastante agressiva para tentar alterar o quadro. Sobretudo os Estados Unidos, os maiores emissores.

"O tempo de fazer alguma coisa está acabando", afirmou Don Brown, da Universidade Estadual da Pensilvânia, ex-assessor do então presidente Bill Clinton, dos EUA, no Rio para participar do debate "A dimensão ética das mudanças climáticas", organizado pela Coppe/UFRJ. "Reduzir um pouco o volume das emissões não adianta. A redução a ser feita é muito grande. Precisamos cortar de 60% a 80% das emissões."

Segundo a ONU, a maior parte do aumento de emissões em 2004 foi causada pela elevação de 1,7% do volume de gases lançados na atmosfera pelos EUA - o maior emissor do mundo, com 7 bilhões de toneladas.

"Nesse ritmo, chegaremos ao fim do século lançando 20 bilhões de toneladas por ano", denunciou Brown. "Para termos uma estabilização de fato do volume de CO2 na atmosfera, teríamos que emitir apenas 3 bilhões."

Crescimento acumulado desde 1990 é de 15% Segundo Brown, o índice de emissões dos EUA vem crescendo 1,5% ao ano. O crescimento é registrado desde 1990 e já acumula um aumento de aproximadamente 15%.

Brown, que defendeu a entrada dos EUA no Protocolo de Kioto (George W. Bush se recusou a ratificá-lo), admite que as metas do acordo são simbólicas, mas necessárias.

As leis estaduais que começam a surgir, estabelecendo limites de emissões, são importantes, diz Brown, mas uma solução mais global é indispensável.

"As emissões estão hoje 14% acima dos níveis de 1999, quando, segundo Kioto, deveriam estar 7% abaixo", apontou Brown.

Para o especialista, as justificativas usadas pelos EUA para não ratificarem Kioto ou adotarem medidas mais eficazes contra o aquecimento são antiéticas.

"Os três grandes argumentos do governo americano são condenáveis do ponto de vista ético", sustentou Brown.

Uma das justificativas de Bush é a de que não haveria provas científicas ligando as emissões ao aquecimento do planeta.

"Mesmo os cientistas mais otimistas apontam as conseqüências", afirmou Brown. "E, até esperarmos todas as certezas, o dano será irreversível".

As outras justificativas são o custo da redução à economia americana e o fato de os países em desenvolvimento não estarem incluídos nas reduções previstas por Kioto.

"É um problema para o mundo todo, não só para os EUA. E nem está claro que afetaria tanto assim. Parece que afeta, sim, interesses de grupos de petróleo poderosos", afirmou. "Também não faz sentido dizer que não vai fazer nada porque outros não estão fazendo. É o mesmo que dizer que vai roubar porque outros roubam. Não é eticamente racional."


Data: 01/09/2006