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Má gestão trava centro de pesquisa na Amazônia

Menos da metade dos laboratórios do CBA, em Manaus, funciona. Um terço dos funcionários necessários trabalha

Já foram gastos mais de US$ 6,5 milhões em equipamentos para o Centro de Biotecnologia do Amazonas (CBA), inaugurado há quatro anos para ser o principal centro de pesquisa e produção tecnológica da biodiversidade regional.

Mas a fachada branca com vitrais azuis em formato de animais amazônicos, localizada no Distrito Industrial de Manaus, esconde 12 mil metros quadrados de salas subutilizadas, algumas vazias ou fechadas, outras com equipamentos ainda dentro de caixas.

Nem metade dos 25 laboratórios do prédio está em funcionamento. Apenas um terço da capacidade estimada de funcionários trabalha atualmente. Não é à toa que o CBA ficou conhecido em Manaus como o 'elefante branco', ou, numa paródia local, a 'anta branca'.

A ociosidade do centro é atribuída a dois problemas. O primeiro é de gestão, a cargo de três Ministérios: o do Meio Ambiente; o de Ciência e Tecnologia; e o de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.

'Por causa desta gestão dividida, o centro não pôde até hoje ter um plano de cargos e salários', afirma a secretária de Ciência e Tecnologia do Amazonas, Marilene Corrêa.

'Os primeiros cientistas puderam ser contratados graças à parceria com o governo estadual', acrescenta.

O orçamento deste ano para o CBA é de R$ 10,6 milhões. No centro trabalham hoje 9 doutores, 11 mestres, 30 graduados e 12 técnicos das mais diversas áreas da biotecnologia, todos contratados por meio de um convênio com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam).

O resto do staff administrativo é cedido pela Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), dona do prédio e responsável pela administração e implantação do CBA.

Outro problema que emperra o centro é a burocracia. As distâncias do transporte para Manaus dos equipamentos, boa parte importada, acaba gerando o que o coordenador da implantação do CBA, Imar César de Araújo, representante da Suframa, chama de 'sensação de inoperância' do centro.

Cerca de 80% dos equipamentos foram comprados, mas boa parte ainda não foi instalada. 'O equipamento mais caro que temos hoje aqui, de ressonância magnética de substâncias químicas, custou U$ 750 mil e levou um ano e meio entre a compra e a instalação', afirma Araújo.

O representante da Suframa rejeita, porém, o rótulo de elefante branco para o CBA. 'Um centro como esse em qualquer país demoraria, com as facilidades de Primeiro Mundo, dez anos para ser instalado; mas vamos fazê-lo em menos', diz Araújo.

'Hoje já temos parcerias em pesquisas com empresas, com o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e com universidades federais da Região Norte.'

Biodiversidade na porta

Outros cientistas defendem o centro. Adalberto Luis Val, diretor do Inpa, afirma que há mais de 200 pesquisas do instituto hoje em parceria com os laboratórios do CBA. 'O centro é imprescindível e, quando estiver 100% consolidado, será o maior da região e o mais privilegiado do País.

A biodiversidade está na porta.' O maior laboratório no CBA, o da Central Analítica, tem três ramificações e está em fase de implantação do Sistema de Qualidade, seguindo as normas da ABNT para conseguir o certificado ISO 17025.

Estão ainda em funcionamento o Laboratório do Núcleo de Produção de Extrato, o de Farmacologia e Toxicologia, o de Fitoquímica e Cromatografia, o de Microbiologia, o de Bioquímica, o de Biologia Molecular, de Informação Biotecnológica e a Incubadora de Empresas.

Mas nenhum deles está completo. 'Faltam equipamentos, a maioria comprados, mas que ainda não chegaram por causa da burocracia', reconhece o coordenador da Central Analítica, Massayoshi Yoshida.

O Laboratório de Farmacologia, por exemplo, opera com metade da capacidade, tanto de pessoal quanto de equipamentos.

A esperança para que o centro deslanche está na mudança no modelo de gestão. Em julho deste ano foi instituído o Conselho de Administração da Associação de Biotecnologia da Amazônia (ABA), entidade privada formada por pesquisadores, técnicos e empresários.

O conselho deve assumir a administração do CBA em 2007, por meio de um convênio de cooperação técnica e projetos compartilhados com as empresas da Suframa.

Além disso, está sendo costurado um acordo pelo qual, no ano que vem, o Ministério de Indústria e Comércio assumiria a liderança na gestão dos negócios do CBA.

Enquanto isso, o Ministério de Ciência e Tecnologia ficaria encarregado de viabilizar a contratação e remuneração de cientistas.


Data: 30/08/2006