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Bebê prematuro já não é mais risco

Apesar de vulneráveis a doenças, bebês nascidos antes do tempo cada vez mais conseguem sobreviver

Todo o sangue que circula no organismo de um bebê prematuro pode caber dentro de uma xícara de café. A dimensão, mínima, dá idéia do desafio que é não deixá-lo morrer.

Ainda assim, há cada vez mais brasileirinhos que vêm ao mundo antes do tempo, com menos de 37 semanas de gestação, e sobrevivem, comprovando avanços na área da assistência neonatal de risco no país.

O menor deles nasceu dia 4, na clínica Perinatal de Laranjeiras, no Rio, com apenas 25 semanas, ou seja, menos de seis meses. Chama-se Arthur e pesava 385 gramas.

Aos 28 anos, grávida pela primeira vez, a mãe de Arthur (ela prefere não divulgar o nome) ainda não sentiu a emoção de amamentar o filho no peito, já que ele não consegue fazer o movimento de sucção.

Mas, há dez dias, o leite dela vem ajudando a aumentar as chances de vida do recém-nascido. São 80 gotinhas a cada duas horas, dadas por uma sonda gástrica.

A amamentação, associada ao aparato tecnológico e médico, tem dado resultado.

Arthur passou por uma fase crítica de redução de peso, chegando a apenas 282 gramas com três dias de vida, mas, na quarta-feira passada conseguiu finalmente ultrapassar os 385 gramas registrados no nascimento. Na sexta-feira, estava com 415 gramas.

Assim como ele, outros prematuros estão hoje vivos graças à freqüência e adequação de exames como o pré-natal, aleitamento exclusivo, além de descobertas mais recentes na área tecnológica, associadas a melhorias na especialização dos profissionais.

No Brasil, entre 6% e 7% do total de nascidos vivos são prematuros, segundo dados do governo federal relativos ao período 2000-2004.

Eles nascem no período compreendido entre a 20ª e a 37ª semana de gestação, quando há contração e dilatação precoce do útero. Ou nos casos em que problemas com a mãe ou com o bebê requerem um procedimento cirúrgico antecipado.

"As UTIs neonatais estão se ocupando de bebês cada vez menores. Isso é válido para o país inteiro", afirma a consultora do Ministério da Saúde para a área de saúde da criança, Zeni Lamy.

Zeni atribui a redução da mortalidade de prematuros a diversas ações governamentais, como o aumento de leitos de UTIs neonatais, a adoção do método canguru, que estimula o contato entre mãe e bebê, além da distribuição de surfactante, medicamento que pode reduzir em até 80% o risco de morte por síndrome do desconforto respiratório.

Segundo ela, os ganhos na taxa de mortalidade não são visíveis, pois ainda estão mascarados pela melhora na cobertura da notificação de óbito. Em 2000, 1.656 bebês morreram por causas associadas à prematuridade, ante 1.587 em 2004.

Viabilidade

Especialista em neonatologia e professor da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o diretor da clínica Perinatal, Manoel de Carvalho, destaca a importância de se ir além da redução da taxa mortalidade.

"O limite de viabilidade de um bebê prematuro já foi de 2 quilos, depois passou para 1,5, caiu para 1 e está cada vez menor. Com isso, surge um problema: estamos lidando com pacientes que são verdadeiros fetos", explica.

Segundo Carvalho, o grande desafio não é só fazê-los sobreviver, mas permitir que tenham a melhor qualidade de vida possível.

Os prematuros são mais susceptíveis a problemas respiratórios e infecções e, nos casos mais extremos, podem apresentar seqüelas neurológicas.

Quando Carvalho ajudou a fundar a maternidade particular, que dirige até hoje, não era possível salvar bebês tão pequenos, com peso inferior a 500 gramas.

Conseguia-se, porém, algum sucesso entre os nascidos na faixa de 500 gramas a 750 gramas: em 9% dos casos, eles permaneciam vivos. No ano passado, a taxa chegou a 86%.

Entre os prematuros mais pesados, variando entre 1 e 1,2 quilo, o raro atualmente é perdê-lo. A taxa de sobrevida passou de 81% para 96% nos últimos 15 anos.

Mais prematuros

De lá para cá, também tem havido um crescimento no número de prematuros. Estudo divulgado em maio revela que, em Pelotas, no Rio Grande do Sul, a proporção passou de 6,3% em 1982 para 15,3% em 2004.

Entre as prováveis razões para a explosão estão a fertilização assistida, que aumenta a chance de nascimento de gêmeos ou trigêmeos, a realização de cesáreas e a confiança excessiva nos exames de ultra-som para definir o tempo de gestação - que às vezes falham.


Data: 28/08/2006