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Argentina retoma plano de enriquecimento de urânio

Pacote de energia nuclear prevê investimentos de US$ 3,5 bilhões em oito anos; Programa inclui instalação de duas novas usinas; governo diz que respeitará tratados internacionais e que finalidade é pacífica

O governo argentino lançou ontem, em ato na Casa Rosada, um plano nuclear que inclui a instalação de duas novas usinas para geração de energia nuclear e a retomada do processo de enriquecimento de urânio, que havia sido interrompido na década de 80. O pacote de medidas inclui investimentos de US$ 3,5 bilhões em oito anos.

"Para que o processo bilateral com o Brasil na área nuclear tenha sentido estratégico, resulta indispensável que a Argentina restabeleça suas capacidades em certas áreas tecnológicas como o enriquecimento de urânio", afirmou o ministro do Planejamento da Argentina, Julio de Vido, o homem-forte do presidente Néstor Kirchner, em discurso no início da noite.

No Brasil, o primeiro módulo da fábrica de enriquecimento de urânio da INB (Indústrias Nucleares do Brasil), em Resende (RJ), foi inaugurado em maio deste ano.

Na Argentina, a decisão sobre o urânio é mais política que econômica: o metal voltará a ser enriquecido em princípio em uma antiga fábrica, desativada há mais de 20 anos, com tecnologia mais cara do que outras existentes hoje.

De Vido -a quem, desde anteontem, também está subordinada a fabricação de equipamentos militares no país- lembrou Juan Domingo Perón como o "pai do avanço nuclear" e disse que Kirchner corrigirá agora o equívoco de o país ter abandonado o plano nuclear.

O ministro ressaltou que os recursos serão utilizados "sempre dentro do marco do uso pacífico e em cumprimento dos tratados de não-proliferação que a Argentina subscreveu". Citou duas vezes os acordos bilaterais com o Brasil e afirmou que o país continuará exigindo daqueles que importam sua tecnologia o compromisso com os tratados.

Hoje, a Argentina tem duas usinas nucleares em funcionamento. O plano inclui a finalização até 2010 de Atucha II -a terceira usina, cujas obras começaram há 26 anos, mas foram interrompidas em 1995- e a disposição de construir uma quarta usina.

Para terminar Atucha II, que teria 745 megawatts de potência instalada, a estimativa é investir cerca de R$ 1,04 bilhão. A quarta usina custaria entre US$ 1,8 bilhão e US$ 2 bilhões.

O governo também declarou de interesse nacional a construção do reator Carem, de baixa potência, que ainda é um protótipo. É o mesmo que despertou, há cerca de um ano, o interesse do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que sinalizou que poderia utilizá-lo como fonte de energia para extrair petróleo. A Argentina já vendeu reatores de outros modelos ao Egito e à Austrália.

Energia

Especialistas prevêem que a Argentina deve enfrentar uma crise energética dentro de quatro ou cinco anos.

Segundo a Fundelec (Fundação para o Desenvolvimento Elétrico), entidade sem fins lucrativos que reúne profissionais do setor elétrico na Argentina, a energia nuclear corresponde a 7% da geração elétrica do país -51% são energia térmica, e 42%, hidráulica.

Cecilia Laclau, representante da fundação, afirma que a Argentina precisa não só aumentar a oferta elétrica mas também diversificá-la. "Somos muito dependentes da energia térmica e do gás natural." A Argentina importa 5% do gás que utiliza.

Estilo K

O presidente Kirchner compareceu ao ato, mas não discursou nem falou aos jornalistas. Não se levantou nem mesmo quando representantes de estatais e de empresas privadas envolvidas no projeto se aproximaram para cumprimentá-lo.


Data: 24/08/2006