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Técnica mantém embrião ao criar célula-tronco

Tecnologia desenvolvida por empresa americana evita polêmica sobre uso de embriões humanos em pesquisa

Uma
empresa de biotecnologia americana afirma ter descoberto uma maneira de criar células-tronco embrionárias usando uma única célula de embrião, sem destruí-lo, portanto.

A fórmula evitaria o debate ético e político sobre o uso de embriões em pesquisas médicas. Há duas semanas, uma equipe japonesa anunciou ter conseguido feito semelhante para evitar o uso de embriões: fez com que células adultas de camundongo agissem como células-tronco embrionárias (leia quadro ao lado).

A Advanced Cell Technology, com sede na Califórnia, divulga o método na revista científica Nature (http://www.nature.com) de hoje. "Isso tornará a oposição à pesquisa muito mais difícil", diz Robert Lanza, principal autor do estudo.

O recado tem destino certo: grupos religiosos, como a Igreja Católica, e a Casa Branca.

O presidente americano, George W. Bush, proibiu o financiamento federal de estudos com células-tronco embrionárias, que têm o potencial de formar qualquer tipo de tecido do corpo e, portanto, carregam a esperança de tratamento de doenças variadas. Bush se opõe a seu uso porque exige a destruição de um embrião de até 100 células.

A nova técnica se baseia em uma única célula. Ela é retirada quando o embrião está em um estágio bastante inicial, com apenas 8 a 10 células, e a operação não inviabiliza seu desenvolvimento em um feto saudável.

O método, chamado de diagnóstico genético pré-implantacional (DGP), já é usado com freqüência por clínicas de fertilização in vitro para o estudo genético do embrião, quando os pais querem evitar um filho com doenças crônicas debilitantes e fatais.

Revolucionário, contudo, é conseguir formar uma linhagem de células-tronco embrionárias humanas a partir dessa única semente - a mesma equipe havia obtido o feito no ano passado com embrião de camundongo.

Ela ainda enfrenta uma taxa baixa de eficiência - de 19 culturas, só 2 proliferaram em linhagens com características parecidas às das células-tronco obtidas pelo método tradicional.

A técnica precisa ser replicada por outros grupos para ter sua capacidade testada e comprovada. A empresa coloca à disposição dos cientistas as linhagens criadas, de graça.

Aposta

Ainda assim, os cientistas - especialmente os americanos - olham o estudo com atenção. Ele abriria caminho para que voltem a estudar terapias com células-tronco embrionárias sem vetos governamentais.

Mesmo onde a legislação é menos restritiva, o método pode ampliar a disponibilidade de material para a ciência. "É interessante e importante", diz John Harris, professor de bioética da Universidade de Manchester, na Grã-Bretanha.

"Acho que essa vai se tornar a maneira padronizada de produzir linhagens de células-tronco embrionárias", diz Ronald M. Green, professor de religião da Faculdade Dartmouth e conselheiro em ética da Advanced Cell Technology.

A Casa Branca diz não reconhecer o novo método como elegível para recebimento de fundos federais, mas diz ser "encorajador ver finalmente os cientistas fazerem esforços sérios para se distanciar de uma pesquisa que envolve a destruição de embriões".


Data: 24/08/2006