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EUA exageram perigo, mas Teerã deveria parar enriquecimento, diz líder da oposição

"A Coréia do Norte está em melhor posição agora do que a Coréia do Sul porque tem armas atômicas? Não, eles estão mendigando ajuda de outros países...", questiona Ebrahim Yazdi

Como membro do Tratado de Não-Proliferação Nuclear, o Irã tem o direito de enriquecer urânio para fins pacíficos. Mas não deveria. Pelo menos até passar a crise. Por quê? "Porque há uma intenção do governo dos EUA de exagerar o perigo de o Irã ter uma arma atômica, para justificar um eventual ataque ao país."

Quem diz isso, sob risco de ser preso por suas palavras, é um dos líderes da oposição iraniana em Teerã, Ebrahim Yazdi, 75, secretário-geral do Partido do Movimento pela Liberdade, de oposição -e ilegal.

Chanceler do governo provisório entre a queda do xá e o endurecimento do regime do aiatolá Khomeini, em 1979, Yazdi é uma figura polêmica.

Recentemente, justificou o direito do Hizbollah de se defender de Israel. O político também é acusado de ter atuado como promotor público de alguns julgamentos que levaram à execução de membros do antigo regime de Reza Pahlevi (1919-1980), logo após a Revolução Islâmica no Irã.

Era uma maneira de pelo menos garantir um julgamento aos ex-governantes, em vez da execução sumária, justificaria ele depois.

Yazdi falou sobre a crise nuclear iraniana:

- Como um dos líderes da oposição, o sr. acha que o governo atual do Irã deveria dominar a tecnologia nuclear?

- O Irã é membro do Tratado de Não-Proliferação Nuclear e, como tal, tem o direito de enriquecer urânio para fins pacíficos. Tem o direito de adquirir, de dominar a tecnologia e a energia nucleares. Ninguém pode nos dizer o que fazer. Isso é papel dos iranianos. Dentro do país, no entanto, alguns dizem que o Irã não deveria insistir em ter energia nuclear. Nós temos petróleo, gás, para que mais? Mas deixemos isso para os entendidos. Como membros do tratado, somos obrigados a seguir as normas de segurança e de cooperar internacionalmente. De alguma maneira, deixamos de seguir essas diretrizes até agora. Precisamos ganhar de novo a confiança mundial. Para superar essa crise, deveríamos cooperar com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) por alguns anos até que a situação esteja esclarecida. Mesmo que isso signifique que o Irã pare seu programa de enriquecer o urânio. Ainda assim, eu repito: isso é uma questão para os iranianos decidirem, não para os norte-americanos.

- Mas o sr. não se preocupa com o fato de que quem vai cuidar ou não para que todas as regras sejam seguidas é o presidente Mahmoud Ahmadinejad? Que estará nas mãos dele quando e como o programa vai parar, se no limite pacífico ou se nas armas nucleares?

- Não acho que no momento o Irã tenha capacidade de produzir armas nucleares, então essa é uma falsa proposição. Mas é claro que há gente dentro do Irã que acredita que nós deveríamos ter armas. Só que o governo dos Estados Unidos está mirando o alvo errado. Imaginemos por um momento que o Irã tenha capacidade de construir uma arma atômica. E daí? Qual seria o efeito colateral ou as conseqüências disso? Nenhum. Israel tem o maior arsenal atômico da região. As guerras que Israel ganhou até hoje têm alguma relação com o fato de eles terem armas atômicas? Há uma intenção do governo dos EUA de exagerar o perigo de o país ter uma arma atômica, para justificar um eventual ataque ao Irã e a atual pressão sobre Teerã. Como já disse, alguns iranianos de extrema direita também acham que nós deveríamos ter armas. Se nós tivermos, dizem, ninguém nos invadirá. Isso é errado. A Coréia do Norte está em melhor posição agora do que a Coréia do Sul porque tem armas atômicas? Não, eles estão mendigando ajuda de outros países...

- Qual sua avaliação sobre a gestão Ahmadinejad?

- O presidente Ahmadinejad faz parte da Guarda Islâmica Revolucionária. Eles gostam de dizer que libertaram o país durante a guerra com o Iraque (1980-1988), então eles deveriam mandar no país por conta disso. Pois bem, agora eles comandam o Irã. Pois eu não acho que ele saiba o que está fazendo. Na verdade, acho que não sabe tudo o que acontece, está envolvido por uma rede. Mas sei que a retórica externa que ele usa é proposital e na verdade ajuda o governo Bush e Israel. Ambos estão se beneficiando tremendamente da retórica dele. Já internamente, durante sua campanha, ele falava de justiça social. Pois algumas pessoas acreditam que ele está destruindo a economia. Alguns até o comparam com a desgraça econômica da época do xá. Foi isso que destruiu o regime do xá, aliás.


Data: 23/08/2006