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O gene HAR1F nos faz seres humanos? - Artigo de Eloi S. Garcia

"Os cientistas então descobriram que o gene, conhecido como HAR1F é expresso por células nervosas especiais (neurônios de Cajal-Retzius) no cérebro humano entre 9 e 19 semanas da gestação, período que o córtex passa por um rápido desenvolvimento embrionário"

Eloi S. Garcia - Pesquisador e ex-presidente da Fundação Oswaldo Cruz, é membro da Academia Brasileira de Ciências.



Nos últimos cinco-sete milhões de anos, quando a espécie humana separou-se dos chimpanzés na árvore evolucionária, nosso cérebro tornou-se 3 vezes maior que daqueles primatas.

Este crescimento impressivo foi principalmente devido à expansão do córtex cerebral, a camada mais externa do cérebro e responsável por uma complexidade de eventos, como a linguagem e processos de informação.

Os cientistas, através do uso de uma extensiva e sofisticada análise computacional, compararam o genoma humano com os genomas de chimpanzé, cães, ratos, camundongos e frango, buscando regiões e seqüências genéticas que fossem altamente conservadas durante o processo evolutivo e assim importante funcionalmente.

Depois foram investigadas as seqüências de DNA nestas regiões que tinham mantidas conservadas naqueles animais e mudadas rapidamente nos seres humanos, o que indicava transformações importantes para a evolução humana.

Foi identificada uma pequena região do DNA que era parte de um gene expresso no hipocampo, a qual está envolvida na aprendizagem e na memória.

Esta seqüência não existia até 300 milhões de anos atrás e era muito similar em frangos e chimpanzés, com somente duas alterações no código genético composto de 118 bases nitrogenadas.

Mas investigando 49 áreas que alteraram no processo evolutivo destes animais verificaram que no DNA humano havia 18 diferenças genéticas da versão gênica do chimpanzé.

Os seres humanos de diferentes regiões do planeta apresentaram estas mesmas 18 variações neste segmento genético.

Os cientistas então descobriram que o gene, conhecido como HAR1F é expresso por células nervosas especiais (neurônios de Cajal-Retzius) no cérebro humano entre 9 e 19 semanas da gestação, período que o córtex passa por um rápido desenvolvimento embrionário.

Estes neurônios produzem uma proteína chamada de reelina que regula o crescimento dos neurônios e suas conexões. O gene HAR1F é ativo simultaneamente com o gene da reelina.

O gene HAR1F é ainda um mistério a ser desvendado. Ele codifica somente RNA, enquanto os principais genes codificam as proteínas.

Não se sabe o que ele faz e mesmo se interage com a reelina, mas a evidencia que o HAR1F é único e expresso durante o desenvolvimento do córtex cerebral entusiasma os cientistas.

Mais detalhes na revista Nature online de 16/agosto/2006.


Data: 22/08/2006