topo_cabecalho
Câncer: Novas drogas agem após metástase

De 399 remédios contra câncer pesquisados hoje, 250 atuam no processo de alastramento da doença pelo corpo

Nunca a medicina investigou tanto o momento exato em que o câncer começa a se espalhar pelo corpo - a chamada metástase. Das 399 drogas contra câncer atualmente estudadas, 250 são contra essa fase da doença.

"O câncer primário, que ainda não se espalhou, praticamente não precisa de novos medicamentos", explica o infectologista Kald Abdallah, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e gerente médico do laboratório Bristol. "A cirurgia é eficaz na maioria dos casos."

No Brasil, pelo menos três drogas contra o câncer metastático deverão chegar até o fim do ano. Duas estão em fase de avaliação na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e uma acaba de ser aprovada.

O sunitinibe (nome comercial Sutent), do laboratório Pfizer, contra câncer de rim e gastrointestinal, recebeu o aval em maio da agência brasileira e, até o fim do ano, será comercializado.

O sunitinibe age segundo uma das mais novas estratégias estudadas contra a metástase, a de atacar diretamente o mecanismo das células tumorais que estimula seu crescimento.

Ou seja, a droga age antes mesmo da formação de vasos - uma célula tumoral com mais de um milímetro de diâmetro já estimula a fabricação de novos vasos para se alimentar e multiplicar.

O dasatinibe (nome comercial Sprycel, do laboratório Bristol), contra leucemia, tem ação parecida e acaba de ser submetido à aprovação da Anvisa.

Já o bevacizunabe (Avastin, da Roche), contra câncer de cólon e o cetuximab (Erbitux , da Merck Alemã), contra câncer de cólon, cabeça e pescoço, agem contra a formação de novos vasos.

Outra forma do remédio agir contra a difusão do câncer é pela estimulação do sistema imunológico. O ipilimumab, da Bristol, contra melanoma, um dos tipos de câncer de pele mais agressivos, é um deles. Em estudo nos Estados Unidos, ele estimula o organismo a reconhecer o tumor e, com isso, combater a doença.

Complexidade

Estudos sobre o assunto começaram a dar resultados mais eficazes de cinco anos para cá. A própria complexidade da metástase pode ter sido um dos fatores que desestimularam pesquisas anteriores. Um dos pontos mais importantes é descobrir como a célula cancerosa consegue ser suficientemente inteligente para se propagar.

Uma das teorias mais modernas sugere que uma célula de tumor aciona uma espécie de programa embrionário, fazendo com que se espalhe. Robert Weinberg, professor de Biologia do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, é um dos principais defensores da tese.

Segundo ele, um processo chamado de transição epitelial-mesenquimal é acionado em células embrionárias, permitindo que se locomovam para diferentes partes do corpo, onde montam acampamento e constroem diferentes tipos de tecido.

"As células cancerosas recorrem oportunisticamente a esse processo e, com isso, adquirem características que lhe permitem se disseminar", diz.

Alguns especialistas acreditam, no entanto, que as células-tronco cancerosas estão no centro de toda metástase.

Isso ajudaria a explicar o motivo por que milhões de células conseguem atingir órgãos distantes, mas somente algumas poucas selecionadas - aquelas com capacidades de célula-tronco, ou seja, de gerar qualquer tipo de nova célula - podem iniciar um tumor e criar colônias.

Frente de pesquisa

Células-tronco cancerígenas: de acordo com alguns estudos científicos, elas podem ser as únicas células que desencadeiam um tumor.

Os macrófagos (glóbulos brancos): antigamente, acreditava-se que eles destruíam as células cancerígenas. Hoje, sabe-se que eles podem também estimular o crescimento do tumor

A programação embrionária: uma das teorias mais modernas sobre os mecanismos da metástase diz que uma célula de tumor aciona um processo embrionário que, por sua vez, faz com que ela se espalhe pelo organismo

Genes supressores: quando são defeituosos ou inativos, esses genes permitem que a célula tumoral crie colônias de micrometástases e não afete os tumores primários. Mais de dez já foram identificados.

Genes reguladores mestres: têm o controle sobre a saída da célula cancerígena do tumor primário para instalar-se em outro órgão, criando metástase.


Data: 22/08/2006