topo_cabecalho
Fátima Brayner: Institutos tecnológicos buscam se recolocar como interlocutor privilegiado no sistema de C&T

Secretária de C&T de Pernambuco comenta novo papel assumido pelo Nutec e Itep

Vice-presidente da Abipti e ex-presidente do Itep, a secretária de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente de Pernambuco, Fátima Brayner, esteve em Fortaleza quarta-feira na entrega do certificado ISO 9001 ao Nutec, que tornou-se agência executiva.

Nesta entrevista, a secretária analisa o redesenho do perfil dos institutos tecnológicos no país, que há dois anos vem sendo debatido pela Abipti.

Fátima Brayner informa que os institutos estão buscando um redesenho institucional para saíram da condição de meros prestadores de serviços pequenos para se recolocarem no lugar de um interlocutor privilegiado no sistema de ciência e tecnologia.

Para ela, é preciso ter institutos fortes para vencer as barreiras comerciais, sanitárias e ambientais para o produto nacional ter competitividade no mercado externo.

- Como a senhora vê esse momento que o Nutec está vivendo, ao se tornar agência executiva e receber o certificado ISO 9001?

É um momento importante para o Nutec, com repercussão grande sobre a discussão dos institutos tecnológicos.

- A senhora, que presidiu o Itep em Pernambuco e é vice-presidente da Abipti, como avalia a realidade atual vivida pelos institutos tecnológicos?

A Abipti iniciou um processo de discussão sobre o desenho dos institutos tecnológicos cujo cerne é uma indagação: qual é hoje o seu papel? São institutos públicos, como é o caso do Itep e do Nutec, que foram criados dentro de uma conjuntura completamente diferente do ponto de vista e com recursos do Estado. O Itep foi criado na Era Vargas cm uma função de apoiar o desenvolvimento e muito ligado ao esforço de guerra e à construção civil. O Nutec e Tecpar são mais novos. Esses institutos surgem ainda demandados pelo Estado, com um determinado foco no desenvolvimento. Com os anos, eles começam a sofrer um processo de distorção, o que é muito grave. O instituto entra na estrutura do Estado como um todo sem um papel claramente definido, então é transformado num mero prestador de serviço. Serviço menor, não de transformação tecnológica. Esse momento do Nutec sinaliza ou pouco para isso. Optou-se no Ceará para transformá-lo numa agência executiva. O Itep é hoje é uma organização social. É o caminho que está sendo trilhado pelos institutos, recolocando e re-situando os institutos no contexto atual, do ponto de vista da contribuição deles no desenvolvimento científico e tecnológico, na inovação e na competitividade. Esses institutos não podem ser meros prestadores de serviços. O serviço que eles prestam é de extrema qualificação. Esse é o diferencial. Foi isso que os institutos tinham perdido. Quando eles perdem esse papel, perdem toda a auto-estima, o servidor perde também. Isso aconteceu aqui no Nutec, aconteceu no Itep, nos institutos do Brasil todo.

- Esses estudos da Abipti apontaram em que direção para os institutos?

Um esforço está sendo feito no Brasil todo, em que os institutos estão fazendo uma releitura. Não é simples, porque você tem nos institutos públicos uma herança de muitos anos, uma pseudo-estabilidade do servidor. Digo pseudo porque é uma falsa estabilidade. Uma estabilidade com um papel menor, com o salário baixo. Quando ele se recoloca, seja como OS, seja como agência, está buscando recuperar o fator original dele, como um elo importante da cadeia da competitividade.

- Nesse redesenho dos institutos, a atividade de certificação preenche esse novo perfil que está sendo buscado no novo redesenho institucional?

Claro. Do ponto de vista regional, a Abipti trabalhou nesta perspectiva e hoje temos vice-presidentes regionais. As realidades regionais são diferentes e, além disso, temos as especificidades locais. No redesenho que foi feito no Ceará para a certificação, se sai do olhar do prestador do serviço menor para um serviço mais articulado com o setor produtivo, um serviço de apoio extremamente qualificado. Muda completamente e repercute. No exemplo do Itep, também recupera nessa mesma direção. Qual é o grande problema hoje no Brasil, do ponto de vista da economia, do setor produtivo? Ele precisa ser competitivo não só mais no mercado interno mas no mercado externo. Essa competitividade vai estar atrelada a barreiras extremamente fortes de controle. Barreiras ambientais, de saúde, barreiras comerciais fortíssimas.

- Isso está acontecendo com o mel e a lagosta exportados pelo Nordeste.

Essas barreiras só podem ser superadas se você tiver uma estrutura forte para garantir a qualidade do produto nacional. Essa qualidade você só consegue com institutos fortes. Portanto, não é um prestador de serviço, ele precisa ter uma estrutura instalada extremamente sofisticada. Não é mais se falando de fazer uma análise simples de água, mas controlar a água para um consumidor que começa com uma exigência extremamente alta. Uma água que vai ser usada numa indústria que tem exigências específicas. Quem vai oferecer serviço, tem que ser muito qualificado. Isso muda. É um sinal extremamente positivo. A Abipti vem discutindo isso há dois anos com alguns seminários, e começa a ter uma sinalização, uma luz no fim do túnel. São processos. Cada um tem seu tempo. Não vai ocorrer de forma uniforme. É um redesenho que está acontecendo. É um momento importante, porque vai recuperar a auto-estima do servidor, do funcionário, e recolocar a instituição no lugar de um interlocutor privilegiado no sistema ciência e tecnologia. É fundamental.


Data: 11/08/2006