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Universitários de 40% dos cursos evoluem pouco

Segunda edição do Enade mostra que desempenho muda pouco entre o primeiro e o último ano da faculdade

A segunda edição do Exame Nacional de Desempenho do Estudante (Enade), avaliação do ensino superior que substituiu o antigo Provão, deu indícios de que as faculdades particulares, sempre muito criticadas, podem não ser tão ruins.

Pela primeira vez, o Ministério da Educação (MEC) tentou mostrar o quanto uma instituição aumenta o conhecimento de seu aluno ao longo do curso universitário, criando um índice para isso.

Nessa conta, 41,8% dos cursos das instituições federais agregaram pouco ou nenhum conhecimento a seus alunos. Nas privadas, o índice foi de 46,5%.

Diferentemente do Provão, que avaliava apenas os alunos que terminavam o curso, o Enade é aplicado a concluintes (com pelo menos 85% dos créditos) e a ingressantes (com 25% dos créditos). Dessa forma, calcula qual o avanço do conhecimento.

Para chegar aos conceitos, que variam de 1 a 5, os estatísticos do Instituto de Estudos e Pesquisas Educacionais do MEC (Inep) tiraram médias a partir do desempenho dos alunos nas áreas avaliadas e traçaram uma nota esperada para os concluintes.

Os cursos que passassem dessa nota recebiam conceitos 4 ou 5, os que tivessem exatamente a nota esperada, 3. E os que ficassem abaixo disso, conceitos 1 ou 2. A nova taxa recebeu o nome de Índice de Diferença do Desempenho (IDD).

Mais da metade das instituições federais teve IDD 3, 4 ou 5 - ou seja, seus alunos aprenderam muito. Mas a diferença entre privadas e federais é de pouco menos de cinco pontos.

"Dá para dizer, em virtude do bom trabalho feito por algumas instituições particulares, que essa distância no valor agregado diminuiu", disse o ministro da Educação, Fernando Haddad.

A avaliação feita apenas com a participação dos formandos era a maior crítica das universidades particulares com relação ao Provão. Elas argumentavam que não tinham boas notas porque seus alunos já vinham do ensino médio com menos conhecimento do que os que ingressavam nas públicas.

"A experiência de valor agregado ainda é recente no Brasil, precisamos olhar com cuidado os dados para não errar nas interpretações", adverte o educador Claudio de Moura Castro.

"Há instituições que pegam alunos bons e não sabem o que fazer com eles e há outras que pegam o mais fraco e o melhoram".

Para a ex-presidente do Inep/MEC e secretária estadual da Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico de São Paulo, Maria Helena Guimarães de Castro, a melhor maneira de medir o valor agregado seria usando a nota do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), feito pelos que terminam esse nível de ensino.

"O ideal seria ver as notas desses mesmos alunos quatro anos depois, quando saem da faculdade".

O Enade avalia grupos diferentes de ingressantes e concluintes e todos são escolhidos por amostragem. A prova feita pelos estudantes é a mesma, com questões específicas e de conhecimentos gerais.

A diferença são os pesos dados a cada pergunta para os dois grupos. A nota tirada no Enade - como no Provão - é um conceito diferente do IDD.

Os resultados divulgados ontem são da prova feita em 2005. O Enade é parte de um sistema de avaliação do MEC que ainda examina corpo técnico e docente, infra-estrutura e perfil pedagógico.

"O que pesa mais é o conceito geral da instituição no Enade. Mas um curso que tirou nota 1 e tem IDD 5 vai receber uma atenção especial porque pode não ter um resultado bom, mas conseguiu dar mais conhecimento aos seus alunos", disse Haddad.


Data: 10/08/2006