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Google Earth conquista o mundo dos cientistas

Software que surgiu como diversão mostra-se útil para pesquisar vulcões, determinar alcance da gripe aviária, mapear criminalidade...

O Google Earth, composto por milhares de fotos tiradas de satélite e imagens aéreas, nasceu como uma brincadeira.

Mas agora os cientistas estão descobrindo como o software pode ser útil, da pesquisa sobre vulcões ao resgate a vítimas de furacões, como em New Orleans após a passagem do Katrina, no ano passado.

A partir do escritório, o biólogo Erik Born mantém registros diários sobre o paradeiro de morsas no Ártico, que carregam minúsculos sensores de rastreamento. O globo digital do Google gira na tela e um marcador indica a posição de cada animal.

Com um toque de tecla, ele superpõe mapas que mostram onde o lençol de gelo está mais fino e a direção que tomam os blocos flutuantes onde as morsas pegam carona.

Todos os dados sobre o gelo, recolhidos por satélites e bóias de medição, estão disponíveis na internet. Juntando os arquivos, Born consegue detectar como o aquecimento global afeta o comportamento migratório das morsas.

Epidemiologistas, meteorologistas e planejadores urbanos também descobriram o globo virtual. Para eles, um de seus recursos mais atraentes é a capacidade de expor graficamente muitos tipos diferentes de dados sobre o planeta.

Eles podem colocar marcadores de posição para casos de gripe aviária ou locais de crimes, e sobrepor mapas de densidade populacional ou temperaturas oceânicas.

Popularização

Não é surpreendente, portanto, que o programa, disponível para um download gratuito em sua versão básica (earth.google.com/), tenha se espalhado como fogo em capim seco. Afinal, ele oferece um lugar para colocar todas as informações esparsas reunidas sobre a Terra. O globo digital exibe tudo exatamente onde está.

Existem softwares especiais capazes de gerar todo tipo de mapas. Diferentemente do Google Earth, que só é usado para exibir dados guardados em um servidor remoto, esses programas - sistemas de geoinformação (GIS, na sigla em inglês) - também servem para análises.

Mas operá-los é incrivelmente complicado. Eles exibem quantidades imensas de informações individuais, guardadas em seus supercomputadores, sem oferecer um panorama geral muito menos um globo girando diante dos olhos. Juntar as informações para gerar um mapa pode levar dias ou semanas.

Por isso, os cientistas têm unido os dados de seus GIS favoritos com o Google Earth - o que é permitido em sua versão paga, o Pro (US$ 400), ou com a ajuda de softwares gratuitos.

"O Google Earth oferece dados globalmente disponíveis de uma maneira muito direta", diz Klaus Greve, do Instituto Geográfico da Universidade de Bonn, na Alemanha.

"Ele também é muito atraente para pesquisadores que antes ficavam intimidados com outros GIS".

Greve trabalha em um dos projetos mais ambiciosos no campo de dados geográficos. Ele integra um esforço global para desenvolver uma vasta biblioteca de espécies para tudo que se arrasta, anda e cresce sobre a Terra.

Os dados são extraídos das enormes coleções de museus de história natural. "Pela primeira vez, isso nos permitirá desenvolver mapas mostrando a distribuição global de espécies", diz Greve. "O Google Earth poderá ser usado então para exibir suas localizações".

Integração

Há problemas, como a consistência entre eles. "Não existe atualmente um padrão aberto que todos compreendam", diz o cientista de geocomputação Alexander Zipf, da Universidade Técnica de Mainz. Sua equipe busca uma solução e desenvolve um software que seja tão útil para rastrear inundações catastróficas como acidentes com reatores nucleares.

Mas os cientistas precisam ter o cuidado de não ficar extasiados com as imagens. "O software produz mapas maravilhosamente coloridos", diz o ecologista Lutz Breuer, da cidade alemã de Giesse, também envolvido no projeto. "É tentador interpretar os mapas de maneiras não sustentadas pelos dados".

O Google Earth é básico demais para trabalhos mais consistentes, como modelagens ambientais com cálculos sobre ecossistemas inteiros. Mas a empresa já anunciou futuros aprimoramentos.

Ela imagina que, quanto mais a comunidade científica usar mapas digitais em seu trabalho, mais atraente se tornará a ferramenta para o público em geral.

Competição

Esse
tipo de pensamento ameaça os criadores dos antigos GIS. Um dos programas mais populares, o ArcGIS, terá uma nova versão dentro de algumas semanas, com um globo virtualmente acessível pela internet.

A firma americana Skyline criou um modelo de planeta que também é capaz de processar imagens em movimento. O modelo, Skylineglobe, insere, quase sem interrupção, imagens de vídeo ao vivo em suas visões panorâmicas do espaço, oferecendo uma experiência nova ao viajante virtual.

Quando se voa sobre um estádio de futebol, por exemplo, abre-se uma vista aérea de uma partida que acontece naquele momento. Uma câmera montada no teto do estádio transmite as imagens, enquanto o programa automaticamente ajusta o ângulo da câmera.

Não se trata apenas de mostrar cada vez mais dados em abstrações refinadas. Embora a tecnologia se limite hoje a câmeras de tráfego e alguns truques, o globo artificial se torna cada vez menos complicado e permitirá aos usuários observarem o planeta em plena atividade.

Um dia, ele será idêntico ao mundo que descreve.


Data: 09/08/2006