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"Como a raça humana poderá se manter por mais 100 anos?"

Stephen Hawking lançou a questão e 25 mil contestaram. O próprio cientista diz não ter a resposta

Foi uma atitude inédita da parte de um dos mais eminentes cientistas do mundo.

Tendo construído sua carreira lançando luz sobre os mais obscuros segredos do universo, desde a essência do espaço-tempo à complexidade dos buracos negros, o britânico Stephen Hawking (foto)recorreu à Internet para obter respostas ao mais recente enigma que está ocupando seu cérebro do tamanho do planeta.

Apresentado-se na comunidade online como um físico teórico e professor de Matemática na Universidade de Cambridge, o cientista de 64 anos, que sofre de uma doença degenerativa que o mantém em cadeira de rodas, propôs uma questão em aberto:

"Num mundo política, social e ambientalmente caótico, como a raça humana poderá se manter por mais 100 anos?".

A pergunta apareceu no site da Web Yahoo Answers há um mês e imediatamente desencadeou um turbilhão na Internet, com mais de 25 mil pessoas se conectando para dar suas opiniões profundamente refletidas - ou não.

Alguns disseram que devemos apenas a aprender a nos dar bem, outros previram que a tecnologia nos levará até lá e um número maior invocou os poderes de Deus, amor e paz.

Mas o que o mundo realmente gostaria era ouvir o grande cientista responder a sua própria pergunta, pois a maioria estava convencida de que uma intervenção dele resultaria em nada menos que um tratado definitivo para a sobrevivência da espécie.

Na quarta-feira, a resposta do professor finalmente chegou. Num clipe de vídeo, a conhecida voz eletrônica anunciou: "Não sei a resposta. Foi por isso que fiz a pergunta".

Um interlocutor resolveu aplaudir a sinceridade do cientista.

"É consolador saber que esta pergunta foi feita por um dos mais inteligentes seres humanos do planeta... sem que ele mesmo já tivesse uma resposta clara", escreveu alguém de apelido Inetap.

Outros assumiram uma visão da vida mais abrangente, concluindo que os seres humanos já tiveram sua vez e está na hora de entregar o planeta, embora em estado lamentável, a uma nova espécie de curadores para ver se eles poderão fazer melhor.

"Talvez a raça humana não deva sobreviver. Vamos deixar que outras formas de vida floresçam. Somos um fiasco", disse Video-stooge.

Guia para principiantes

A franca admissão do professor Hawking de que até ele estava aturdido com a pergunta foi a introdução para a sua gravação, de quatro minutos.

Ele traçou as linhas gerais de um guia para principiantes em face das ameaças à humanidade, desde o impacto devastador de um asteróide e a guerra nuclear às alterações climáticas e o surgimento desenfreado de vírus geneticamente modificados.

A longo prazo, diz Hawking, os seres humanos somente sobreviverão se conseguirem deixar o rochedo que chamam de lar e se espalharem pelo espaço, para transformar e ocupar planetas em torno do nosso Sol e depois em torno de outros sóis.

Se isso fracassar, acrescenta ele, talvez nossa melhor aposta seja usar a engenharia genética para consertar a espécie humana e nos tornar menos propensos a travar guerras.

À réplica agora se juntou uma avalanche de mensagens de outros que tentaram responder à questão original, entre elas conselhos sucintos para todos nós comermos mais frutas e legumes, planos para vivermos debaixo d'água e um conselho funcional: para continuarmos comendo, respirando e fazendo sexo.

A mensagem do brilhante cientista dividiu a comunidade online em amplos campos: dos otimistas, dos grupos religiosos, dos que não reconhecem as mudanças climáticas e de colegas que acreditam no fim dos tempos.

Um dos interlocutores acredita que, apesar da guerra, das mudanças climáticas e da aceleração tecnológica de tirar o fôlego, a humanidade não está prestes a aniquilar a si mesma.

"As coisas se resolverão... Sem dúvida, existem problemas e catástrofes, mas nada tão devastador quanto seu pessimismo. Anime-se!"


Data: 07/08/2006