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TV digital dá vida nova ao pólo industrial de Santa Rita do Sapucaí

Cidade mineira de 35 mil habitantes tem 115 empresas do setor, que devem faturar US$ 680 milhões este ano

A corrida pelas fatias do bilionário mercado brasileiro de TV digital já é intensa na pequena Santa Rita do Sapucaí, no sul de Minas, sede do chamado Vale da Eletrônica, que reúne 115 empresas de base tecnológica.

O negócio TV digital é realidade na cidade há cerca de dois anos, quando começaram os primeiros estudos para o desenvolvimento de produtos e componentes necessários para instalação do novo padrão de transmissão no país.

O município, com 35 mil habitantes, é talvez a localidade nacional onde a perspectiva de empregos e investimentos por trás do salto tecnológico é mais contundente.

O período de até dez anos estipulado para a convivência entre os sistemas analógico e digital tornou o sep top box - um receptor que converte o sinal digital para o televisor analógico convencional - o "grande filão" do primeiro momento da TV digital no Brasil.

Outra grande oportunidade para as indústrias está na fabricação de transmissores digitais e links de microondas. Produtos que estão em fase de testes no Vale da Eletrônica.

"O pólo tecnológico de Santa Rita do Sapucaí já está preparado para suportar a fabricação dos componentes para o Sistema Brasileiro de TV Digital", assegura Adonias Costa da Silveira, coordenador do projeto de TV digital do Instituto Nacional de Telecomunicações (Inatel), com sede no município.

Pesquisadores e líderes empresariais salientam, contudo, que a participação da indústria nacional nesse gigantesco mercado ainda vai depender de como o modelo nipo-brasileiro será normatizado e da oferta de incentivos para os investimentos produtivos.

O governo optou pelo padrão japonês (ISDB), mas determinou a incorporação de inovações tecnológicas nacionais.

O decreto presidencial assinado no fim do mês passado estipulou prazo de 18 meses para a operação. No caso dos conversores, o temor é que, sem incentivos fiscais, toda a produção fique concentrada na Zona Franca de Manaus.

A Phihong FIC, maior empresa de Santa Rita do Sapucaí, ganhou concorrência para a digitalização da planta TVA no Rio e já prepara a instalação de uma linha de montagem de sep top box.

O produto foi desenvolvido pela STB - em parceria com o Inatel -, empresa fundada há três anos na cidade, já com foco no mercado da "TV do futuro".

"Estamos praticamente empatando ou pagando para produzir. Mas o objetivo é ganhar a experiência industrial e logística para no ano que vem a gente estar pronto para o começo da demanda de transmissão digital em TV aberta", disse o presidente da Phihong, Luciano Lamoglia.

Lei de Informática

Ele reivindica a inclusão do conversor na Lei de Informática, o que permitiria a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e viabilizaria sua fabricação fora do parque industrial do Amazonas.

"Solicitamos que, pelo menos no sep top box, a indústria em todo país consiga participar. Incluir o produto na Lei de Informática não elimina a produção em Manaus", afirma Lamoglia.

Trata-se de "algo altamente desejável", faz coro Silveira. "É a saída para as empresas aqui do Sudeste."

O coordenador do Inatel afirma que o sep top box possui "um grande conteúdo de software" o que justificaria sua inclusão na lei. "É como um computador embarcado."

O carro-chefe da produção da Phihong atualmente são as baterias e os carregadores de celulares. Mas Lamoglia lembra que o mercado de telefonia móvel, que nos últimos anos apresentou grande expansão, já está atingindo a marca de 100 milhões de usuários e chegando à saturação.

"Continua tendo um mercado de reposição, que é bastante interessante, mas você passa a não ter mais o mercado de novos usuários, que representava 20 milhões quase todo ano", salienta.

A aposta na TV digital é tanta que ele vislumbra a possibilidade de triplicar o atual número de empregados - 2,5 mil - num prazo de quatro anos.

"Hoje você tem cerca de 115 milhões de TVs analógicas no país. Em faturamento, isso representa um mercado três a quatro vezes maior do que o mercado de celular", diz Lamoglia.

Ampliação

A empresa já reservou áreas no entorno de sua sede principal para ampliar a planta industrial. Com quatro unidades em Santa Rita, a Phihong faturou R$ 210 milhões no ano passado.

A realidade na região, porém, é de médias e pequenas empresas. As 115 indústrias de base tecnológica empregam cerca de 7,2 mil pessoas. A previsão de faturamento em 2006 é de R$ 680 milhões, contra R$ 465 milhões em 2004.

A produção do conversor e dos transmissores digitais deverá, de imediato, elevar em 20% o faturamento do pólo e gerar mais 2,5 mil postos de trabalho, acredita Roberto de Souza Pinto, presidente do Sindicato das Indústrias de Aparelhos Elétricos, Eletrônicos e Similares do Vale da Eletrônica (Sindvel).

Marcos Vinícius Borges, de 45 anos, já pode ser considerado um beneficiário da nova onda de desenvolvimento que se anuncia.

Natural de São José dos Campos, no interior de SP, e ex-bancário, ele trabalhava na prefeitura de Itajubá, também no sul de Minas, quando foi arregimentado para assumir a função de gerente de produção da STB.

Já se considera inteirado com o mundo da alta tecnologia e cursa uma faculdade à distância. "Minha escola está sendo aqui. Santa Rita está dando muita oportunidade, até para quem já passou dos 40."

Empresa fundada em 77 exporta para 40 países

Os quatro sócios da Linear Equipamentos Eletrônicos, empresa pioneira do Vale da Eletrônica, já esfregam as mãos diante da oportunidade de negócios com a TV digital.

Fundada em 1977 por cinco ex-alunos do Inatel - dando início à uma trajetória comum na constituição das indústrias de Santa Rita do Sapucaí -, a empresa é considerada a maior fabricante de transmissores de TV da América Latina, tendo produzido e instalado mais de 28 mil equipamentos em 40 países.

"Nós nos especializamos em transmissão de televisão desde o começo", conta o diretor Comercial, Robinson Gaudino Caputo, de 54 anos. Ele conta que as pesquisas na área digital começaram há quatro anos.

Desde o início de 2005, a Linear exporta transmissores digitais com o padrão americano para EUA e México. Um escritório foi aberto em Chicago. Em abril deste ano, apresentou o primeiro produto no padrão japonês produzido no Vale da Eletrônica.

"Desenvolvemos um transmissor no padrão ISDB, que está pronto, mas não podemos colocar em fabricação porque a norma não foi definida", disse a engenheira de Produtos da empresa, Vanessa Lima.

Quando começou a se falar da adoção da TV digital no Brasil existia em Santa Rita do Sapucaí a expectativa de que o governo ia optar por um padrão nacional.

A primeira transmissão digital em TV aberta no país foi feita em janeiro de 2005, do laboratório da Linear até um aparelho de alta definição no Inatel.

Na década estimada para a transição do sistema analógico para o digital, Gaudino estima um mercado de US$ 500 milhões somente na área de transmissores.

A STB também já desenvolveu um transmissor, em parceria com a Universidade Mackenzie.

"Estamos preparados para o padrão japonês, sem problema", afirma o diretor Industrial, Flávio Ricardo Brito.


Data: 07/08/2006