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Pesquisa gera cachaça "tipo exportação"

Método ajuda a diminuir teor de cobre na bebida, vencendo regras do mercado internacional para consumo de destilados. Brasil permite até 5 mg/l do metal na aguardente, mas Europa exige um máximo de 2 mg/l; técnica não muda sabor ou aroma do produto

Químicos da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos) podem ajudar a remover um dos obstáculos ao velho sonho brasileiro de transformar a cachaça em um destilado tipo exportação.

Eles desenvolveram e patentearam técnicas que diminuem o teor de cobre na aguardente e também ajudam a detectar o excesso do metal por meio de um teste simples.

A idéia é permitir que os produtores brasileiros consigam, sem muitos gastos, adequar seu destilado às exigências sanitárias dos mercados internacionais.

Na União Européia, por exemplo, exige-se que o teor de cobre não ultrapasse dois miligramas por litro de bebida, enquanto no Brasil o padrão é um teto de 5 mg/l.

Em princípio, o limite brasileiro já é considerado aceitável para a saúde humana, mas a cautela do mercado externo acaba impedindo a transformação da cachaça em bebida globalizada.

O risco implicado pela presença do metal engloba doenças neurodegenerativas e o fato de ele favorecer o surgimento do etilcarbamato, substância cancerígena.

É dos alambiques, onde a aguardente é destilada, que vem o cobre. A solução aparentemente óbvia (trocar o material do alambique) não é uma opção, pelo menos por enquanto, explica a química Andrea de Oliveira, doutoranda da Ufscar.

"As pessoas já tentaram usar alambiques de aço inox, por exemplo, mas as propriedades da bebida, como o buquê e o gosto, ficam prejudicadas".

Mármore salvador

Para retirar o metal da bebida, os pesquisadores usaram um truque simples: misturaram à cachaça recém-destilada mármore ou calcário em pó, ambos formados basicamente por carbonato de cálcio.

É que, na forma em que aparece dissolvido na bebida, o cobre tem mais afinidade química com o carbonato do que o cálcio. Resultado: é como se o carbonato "largasse" o cálcio e agarrasse o cobre, formando um precipitado -uma espécie de pó, que é facilmente retirado por uma filtragem.

"Conseguimos fazer com que uma bebida que tinha 20 mg/l de cobre chegue a 2 mg/l", diz Oliveira.

De quebra, outro método, envolvendo ácido ascórbico (vitamina C) e outro reagente, permite estimar se há excesso de cobre na bebida. A mistura faz com que a aguardente com concentrações altas do metal fique com forte cor amarronzada, enquanto a bebida com baixo de teor de cobre não se altera.

"O importante é que propriedades como sabor e odor também não se modificam", diz a pesquisadora. Em cachaças que já têm pouco cobre, o metal pode ser quase eliminado, reduzido a quantidades-traço, afirma.

O trabalho de Andrea de Oliveira foi orientado pelo pesquisador Eduardo Neves, que morreu recentemente, e teve co-autoria de Joaquim Nóbrega, ambos da Ufscar.


Data: 03/08/2006