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Novos comentários sobre a proposta brasileira de construção de satélite Latino-Americano

Pierre Kaufmann e Tânia Sausen apóiam o projeto, mas advertem para o trabalho que haverá pela frente para implementá-lo

Veja o que nos disse Pierre Kaufmann, físico, pesquisador do CNPq (Nível 1A):

"Parece ser muito interessante o princípio da idéia proposta para o desenvolvimento, construção e operação de um satélite para exploração de um objetivo científico, ou mesmo aplicado, envolvendo co-participantes de comunidades técnico-científicas de paises da América Latina, com implicações em educação e formação de pessoal em ciência e tecnologia espacial.

Existem, porém, muitas peculiaridades típicas dos desenvolvimentos destas áreas, em diferentes paises, as quais deveriam ser consideradas caso a caso.

Em muitos paises, nem sequer são desenvolvidas. As definições sobre escolhas de possíveis plataformas espaciais poderiam vir daqueles paises em que já existe desenvolvimento aeroespacial, pessoal qualificado, destacando-se o Brasil e, em menor escala, a Argentina.

As motivações científicas e/ou aplicadas de dispositivos a bordo do satélite, já poderiam mobilizar comunidades interessadas de todos os paises, na proporção de suas respectivas qualificações, o que não seria muito fácil de ser medido.

Numa fase preliminar, poderiam ser mobilizados profissionais em experimentos espaciais para apresentar palestras e mini-cursos nos países em que estas atividades estejam mais carentes, para procurar nivelá-los um pouco, e assim proporcionar oportunidades de co-participação mais igualitária em um empreendimento desta natureza, propiciando um melhor aproveitamento.

São apenas algumas primeiras idéias que mereceriam maior elaboração."

E agora o depoimento de Tânia Sausen, diretora do Centro Regional das Nações Unidas de Educação em Ciência e Tecnologia Espaciais para América Latina e Caribe (Crectealc), sobre a idéia de se construir um satélite Latino Americano:

"Durante sua apresentação sobre o Programa Nacional de Atividades Espaciais, na V Conferência Espacial das Américas, o presidente da Agência Espacial Brasileira lançou a idéia da construção de um satélite Latino-Americano, do qual poderiam participar todos os paises interessados da região, e que seria testado e integrado no Brasil.

Esta idéia ele já havia mencionado durante a VI Reunião do Conselho Diretor do Centro Regional de Educação em Ciência e Tecnologia Espaciais para América Latina e o Caribe (Crectealc), em 13 de dezembro de 2005, na Cidade do México.

A proposta é que cada país contribua com uma parte do satélite, o que me parece excelente. Poucos países na região dispõem de uma infra-estrutura instalada como temos no Brasil, para construção, teste e integração de satélites.

A grande maioria deles tem condições apenas de construir satélites de pequeno porte como nano e pico satélites, e que em geral se constituem em programas de capacitação em cursos de graduação de engenharia.

Não há nenhum demérito nisto, ao contrário é assim que se formam as novas gerações e é assim que um país começa a construir a sua massa crítica no assunto.

Creio que a idéia deste satélite Latino-Americano vem atender ao desejo da região, de maior colaboração entre os países da região na área espacial.

É certo que praticamente Brasil e Argentina tem capacidade para construir um satélite, como os satélites SCD, Cbers e a séria SAC, mas, a grande maioria dos países da região tem capacidade e tecnologia para desenvolver alguma parte de um satélite.

O caso seria buscar estes países e pô-los para trabalharem juntos, no desenvolvimento de um satélite que além de servir para unir a região em torno de uma causa comum, serviria também para capacitar as equipes de pesquisadores e técnicos na área de engenharia espacial, formar novos grupos de pesquisa e criar massa crítica além de preparar a América Latina para o desenvolvimento de programas espaciais em conjunto."


Data: 03/08/2006