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Reconstrução da pele

Pesquisadores da Unicamp publicam artigo em que descrevem criação de modelo de produção de derme e epiderme humana juntas. Aplicação clínica está próxima, afirmam

O reconhecimento público da pesquisa feita no Laboratório de Cultura de Células da Pele da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) ocorreu há pouco mais de um ano, com a premiação no 4º Congresso Mundial de Banco de Tecidos como um dos trabalhos mais inovadores.

Agora, com a publicação de um artigo na revista São Paulo Medical Journal, a comunidade científica passa a conhecer os detalhes técnicos do estudo realizado pela dermatologista Maria Beatriz Puzzi e colaboradores.

A equipe da Unicamp conseguiu desenvolver pele humana, com derme e epiderme associadas, em laboratório. A partir da cultura de fibroblastos humanos, os pesquisadores obtiveram uma quantidade suficiente de células para injetar em uma matriz de colágeno bovino tipo I.

Depois de obtida a derme, por meio de cultura de queratinócitos e melanócitos também humanos, formou-se a epiderme diferenciada.

"Aqui no Brasil isso não tinha sido feito. Mesmo internacionalmente essa técnica é inédita", explica o cirurgião plástico Luís Ricardo Souto, pós-graduando na Unicamp e primeiro autor do artigo. "Sem dúvida, o principal obstáculo para o avanço dessas pesquisas é de ordem financeira e não técnico."

Depois de provado o sucesso inicial da técnica, a equipe dirigida por Maria Beatriz continuou realizando testes com o material biológico. Segundo Souto, os novos experimentos confirmam a viabilidade do procedimento.

"Os testes histoquímicos, por exemplo, estão concluídos. Os resultados estarão no próximo artigo a ser submetido para publicação", revela.

Os desdobramentos mais imediatos do procedimento de produção de pele humana in vitro podem ser divididos em dois grupos.

"Uma das possibilidades é usar essa pele em laboratório, para o teste de drogas ou de cosméticos. Isso evitaria a necessidade de que fossem usados animais vivos nesses estudos", explica Souto. A segunda opção é o uso clínico. "Outro caminho é a utilização dessa técnica para o tratamento de queimaduras ou de feridas na pele."

Nos testes realizados na Unicamp foram usadas células da pele do abdômen ou da mama, que haviam sido descartadas após a realização de cirurgias convencionais.

Todos os protocolos éticos foram também aprovados sem maiores transtornos. "Haveria algum problema se fossem usadas células de outra pessoa. Mas, no nosso caso, os procedimentos foram feitos em um mesmo indivíduo", explica Souto.

O artigo Model for human skin reconstructed in vitro composed of associated dermis and epidermis está disponível na biblioteca eletrônica SciELO (Bireme/Fapesp).

Para ler o texto na íntegra, acesse http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-31802006000200005&lng=pt&nrm=iso&tlng=en.


Data: 02/08/2006