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Inteligência artificial entra na vida diária

Nova leva de produtos, de câmera salva-vidas a carro robô, comprova avanço na simulação da mente humana

Carros robôs guiam a si próprios pelo deserto, olhos eletrônicos fazem o trabalho de salva-vidas em piscinas, e inimigos virtuais com comportamento parecido com o humano combatem em videogames.

Existem alguns frutos do campo de pesquisa conhecido como inteligência artificial (I. A.) em que a realidade está finalmente alcançando a ficção científica.

Meio século depois que o termo foi cunhado, tanto cientistas como engenheiros dizem que estão fazendo rápidos progressos na simulação do cérebro humano, e seu trabalho está chegando a uma nova leva de produtos do mundo real.

Os avanços também podem ser visto no surgimento de projetos arrojados para criar máquinas capazes de melhorar a segurança e a proteção, divertir e informar, ou apenas realizar tarefas do dia-a-dia.

Na Universidade de Stanford, por exemplo, cientistas da computação estão desenvolvendo um robô capaz de usar um martelo e uma chave de fenda para montar uma estante modular Ikea, além de fazer a limpeza depois de uma festa, encher uma máquina de lavar louça ou levar o lixo para fora.

Um pioneiro nesse campo está construindo um mordomo eletrônico que seria capaz de manter uma conversa com seu amo - como o HAL do filme 2001: Uma Odisséia no Espaço - ou encomendar mais comida de cachorro.

Computação cognitiva

Embora a maioria dos projetos realmente futuristas esteja provavelmente a anos do mercado comercial, cientistas dizem que depois de um período de calmaria, a inteligência artificial está se tornando rapidamente mais sofisticada.

Hoje, alguns cientistas começam a usar o termo computação cognitiva para distinguir sua pesquisa do trabalho com inteligência artificial de uma geração anterior.

O que distingue os novos pesquisadores é uma riqueza de novos dados biológicos sobre como funciona o cérebro humano.

"Houve uma nítida evolução em métodos, competência e ousadia", disse Eric Horvitz, um pesquisador da Microsoft que também preside a Associação Americana de Inteligência Artificial.

A computação cognitiva ainda é mais uma disciplina de pesquisa do que uma indústria para ser medida por receita e lucros.

E, apesar de realizações espantosas, os avanços no campo são medidos em grande parte por incrementos: sistemas de reconhecimento de voz com taxas de falhas decrescentes, ou câmeras computadorizadas que podem reconhecer mais faces e objetos do que antes.

Em muitas áreas, porém, têm havido rápidas inovações: os sistemas de controle por voz são hoje padrão em automóveis de preços médios, e técnicas avançadas de raciocínio artificial são agora rotineiramente usadas em videogames baratos para deixar as ações dos personagens mais reais.

Uma companhia francesa, Poseidon Technologies, vende sistemas de visão submarina para piscinas que funcionam como ajudantes de salva-vidas, emitindo alarmes quando pessoas estão se afogando.

Em outubro do ano passado, um carro robô projetado por uma equipe de engenheiros de Stanford percorreu 212km de uma estrada de deserto sem intervenção humana para receber um prêmio de U$ 2 milhões oferecido pela Agência de Projetos de Pesquisa Avançados de Defesa, subordinada ao Pentágono.

"Predestinação"

O feito foi particularmente notável porque 18 meses antes, durante a primeira competição do gênero, o melhor veículo não foi além de 11 quilômetros, ficando atolado ao sair de uma estrada na montanha.

Agora a agência do Pentágono aumentou a parada: no próximo ano os robôs estarão de novo na estrada, desta vez numa ambiente de tráfego simulado. Isto está sendo chamado de "desafio urbano."

Na Microsoft, pesquisadores estão trabalhando na idéia de "predestinação."

Eles imaginam um programa de software que adivinha para onde você está indo com base em viagens anteriores, e depois oferece informações que poderiam ser úteis com base em aonde o software pensa que você está indo.

Mais avanços marcantes provavelmente surgirão de novos modelos biológicos do cérebro.

Pesquisadores da Escola Politécnica Federal de Lausanne, na Suíça, estão construindo modelos de computador em grande escala para estudar como o cérebro funciona;

eles usaram um supercomputador paralelo da IBM para criar o modelo tridimensional mais detalhado até agora de uma coluna de 10 mil neurônios no neocórtex.

"O objetivo de meu laboratório nos últimos 12 anos tem sido entrar no interior dessas pequenas colunas e tentar imaginar como elas são construídas com rara precisão", disse Henry Markram, um cientista pesquisador que está na chefia do projeto Blue Brain (Cérebro Azul).

"Agora você pode dar um zoom em células individuais e observar o surgimento de atividade elétrica."

Pesquisadores do Blue Brain acreditam que a simulação fornecerá insights fundamentais que poderão ser aplicados por cientistas que tentam simular funções cerebrais.

Segunda geração

A I. A. se originou em 1950, quando o matemático Alan Turing propôs um teste para determinar se uma máquina podia ou não pensar ou ser consciente.

O teste envolvia um pessoa se postar diante de duas máquinas de telex, apenas uma delas com um ser humano por trás.

Se o juiz humano não conseguisse dizer qual terminal era controlado pelo humano, a máquina poderia ser dita inteligente.

No final dos anos 1950, surgiu um campo de estudo que tentou construir sistemas que reproduziam habilidades humanas como fala, escrita, tarefas manuais e raciocínio.

Durante os anos 1960 e 1970, os pesquisadores começaram a projetar programas de software de computador que eram essencialmente bancos de dados acompanhados por um conjunto de regras lógicas.

Eles eram prejudicados pela pouca potência dos computadores e por não contarem com a riqueza de dados que os pesquisadores de hoje reuniram sobre a estrutura e funcionamento do cérebro biológico.

Esses empecilhos causaram o colapso de uma primeira geração de empresas de I. A. ,nos anos 1980.

Recentemente, porém, surgiu uma segunda geração, com cientistas desenvolvendo teorias sobre o funcionamentos da mente.

Eles estão sendo ajudados pelo aumento exponencial no poder de processamento, que criou computadores com capacidade milhões de vezes superior à que dispunham os pesquisadores dos anos 1960 - a preços de consumo.

"Há uma nova síntese de quatro campos, incluindo matemática, neurociência, ciência da computação e psicologia", disse Dharmendra S. Modha, um cientista da computação da IBM.

"As implicações disso são admiráveis. A computação cognitiva atingiu um ponto em que está batendo à porta de aplicações potenciais no mercado."


Data: 24/07/2006