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Reunião Anual da SBPC: Elogios ao ensino a distância

Secretário do MEC apresenta Universidade Aberta do Brasil durante reunião e recebe aplausos de participantes

A julgar pela receptividade demonstrada na 58ª Reunião Anual da SBPC, a Universidade Aberta do Brasil (UAB) tem tudo para ser um sucesso.

No último dia de atividades na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), 21 de julho, o secretário de educação a distância do MEC, Ronaldo Mota, participou da conferência "Tecnologias de informação e comunicação aplicadas à educação" e apresentou o projeto da UAB.

Criado em 2005 para a articulação e a integração de um sistema nacional de educação a distância (EaD), em caráter experimental, a proposta visa a sistematizar ações, projetos e atividades voltadas para a ampliação e interiorização da oferta do ensino superior gratuito e de qualidade no Brasil.

"É um projeto belíssimo", resumiu o presidente da SBPC, Ennio Candotti, presente ao debate. Candotti lembrou ainda o papel pioneiro da Universidade de Brasília (UnB) para a discussão e implementação de experiências em educação da distância no país.

Mota, professor ligado ao Centro Internacional de Física da Matéria Condensada da UnB, acredita que o Brasil é um país centrado essencialmente no consumo de produtos televisivos, o que pode contribuir para a assimilação de processos educativos baseados no cruzamento de ferramentas, como a internet, o vídeo ou a própria TV.

Segundo dados apresentados pelo secretário, a educação básica brasileira possui graves problemas relacionados à qualificação do corpo docente.

Vinte de cinco mil professores não concluíram o ensino médio; 350 mil não têm diplomação de nível superior; e outros 350 mil são graduados, mas não exercem atividades de ensino ligadas à área de origem.

Além disso, segundo Mota, outro um milhão de professores que já atuam no Brasil precisam ser urgentemente qualificados.

Como um dos pontos que a UAB pretende focar é a formação de docentes, é preciso, na visão do secretário, centrar esforços na construção de pólos municipais para atender, por meio da educação a distância, esse público-alvo.

A previsão é que, até 2010, mil pólos estejam em funcionamento no país, cada qual com uma média de dois mil professores cadastrados - o que atingiria um universo de dois milhões de beneficiados.

O professor do curso de Direito da Universidade Federal de Goiás (UFG) Alexandre Santos afirma ter alguns receios quanto ao funcionamento da UAB.

"É preciso saber que tipo de universidade temos e queremos ter nesse país. Não podemos cair em uma instituição corporativa", afirma ele, referindo-se aos acordos entre o governo federal e empresas brasileiras para desenvolver as atividades, como a parceria com o Banco do Brasil no primeiro curso, iniciado em junho de 2006.

Na opinião de Mota, a interlocução com o setor empresarial não compromete o nível e os objetivos. "O Banco do Brasil entrou junto no projeto-piloto. Tivemos de contar com eles para esse começo. Não é possível partir do nada", observou.

"É uma ótima iniciativa, mas é preciso estar atento e não esquecer pontos cruciais, como uma boa formação de professores nessa área e a melhoria da estrutura física das universidades", acredita Araci Hack Catapan, diretora de EaD da Pró-reitoria de Ensino de Graduação da UFSC.

Reunião ampliada

Para Candotti, a SBPC tem discutido bastante o formato da UAB. Grande entusiasta da proposta, ele considera que um dos trunfos desse novo modelo de universidade é o de considerar o ensino a distância associado a atividades presenciais e em laboratórios. "A tecnologia está ai, presente em nossas vidas, não tem como fugir", disse o presidente.

A transmissão ao vivo de até quatro atividades simultâneas realizadas na UFSC alcança 20 mil pessoas pela internet. Para a próxima edição, em Belém (PA), a previsão é estabelecer com as universidades federais da região Norte centros de teleconferência, de modo que os estudantes dos estados nortistas possam acompanhar as palestras e fazer perguntas.

Mesmo otimista em relação ao futuro da UAB, Candotti tem algumas ressalvas. Para o presidente da sociedade, um dos grandes desafios é pensar uma forma de liberar professores que já atuam em universidades brasileiras para se dedicar a atividades de elaboração de conteúdo para cursos de EaD, coordenação e tutoria de turmas.

"Essa é uma questão complicada, pois não envolve apenas as reitorias, mas também os departamentos", observa.


Data: 24/07/2006