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Reunião Anual da SBPC: Pesquisadores do caprino transgênico do Ceará se preparam para dominar técnica de clonagem

Laboratório de Fisiologia e Controle da Reprodução realiza Curso Internacional de Produção de Embriões Caprinos por Transferência Nuclear, de 14 a 18 de agosto

Depois de dominar as etapas do processo para produção de proteínas farmacêuticas em caprinos transgênicos, o Laboratório de Fisiologia e Controle da Reprodução (LFCR) da Universidade Estadual do Ceará (Uece) se prepara para trabalhar com clonagem. Já nasceram 10 cabritos da raça Saanen, obtidos pelo método de microinjeção pró-nuclear e inovulação em receptoras, na pesquisa que tem a colaboração da UFRJ e das pesquisadores russas Irina Serova e Liudmila Andreeva

O líder da equipe, Vicente José de Figueirêdo Freitas, aguarda a parição de mais três cabras até esta terça-feira, 25. Porém, somente depois dos dias 14 a 18 de agosto será feita a verificação da presença do transgênico, pelo exame de um pedacinho da orelha de cada animal, com a técnica chamada PCR. No período, será realizado em Fortaleza o I Curso Internacional de Produção de Embriões Caprinos por Transferência Nuclear.

Vicente disse estar ansioso para ver o resultado da pesquisa que iniciou há seis anos, mas muito ocupado com a organização do curso, que a Uece realiza em parceria com o Institut National de la Recherche Agronomique (INRA), da França, com os pesquisadores Gérard Baril, Patrick Chesné e Yves Cognié. O pesquisador prevê para o dia 25 de agosto o resultado dos testes de transgenia, a serem realizados na UFRJ, e que poderão confirmar se o primeiro cabrito transgênico da América Latina foi desenvolvido no Ceará.

Entre outros temas, o curso trata de conservação e transferência de embriões produzidos in vivo, equipamentos, técnicas e aplicações da transferência nuclear em caprinos, para capacitar equipes locais a realizar a clonagem. Para a nova etapa, Vicente José de Figueiredo Freitas, o líder da equipe que conduz o experimento, informa que novamente vai buscar a aprovação da CTN-Bio.

Vicente Feitas apresentou na sexta-feira os resultados da pesquisa na Reunião Anual da SBPC, na conferência "Caprinos transgênicos: o modelo brasileiro". A pesquisa teve por objetivo a obtenção de uma cabra que produzisse na sua glândula mamária, no leite, uma proteína para produção de medicamento de interesse em medicina humana, a hG-CSF (Fator Estimulante de Colônias de Granulócitos humano).

Um rebanho de cerca de 50 cabras transgênicas com a proteína hG-CSF poderia tornar o país auto-suficiente no medicamento, atualmente produzido por bactérias, com casos de alergia relatados na literatura. "O fato de ser recombinante com gene humano facilita a ausência de problema de rejeição. É uma estrutura bem mais próxima ou semelhante à Natural", compara.

Hoje, o Brasil importa hG-CSF, sendo 300 mg do medicamento compradas por cerca de US$ 100. A proteína é muito utilizada em casos de imunodeficiência, na recuperação de pacientes após quimioterapia e transplante de medula óssea e para mobilizar células tronco para as áreas de infarto do miocárdio, informa Vicente Freitas.

No experimento, foram superovuladas cabras doadoras e colhidos os seus embriões.Os embriões foram microinjetados com a proteína hG-CSF, e transferidos para cabras receptoras sem raça definida, das quais têm nascido os cabritos Saanem puro sangue.

"Um pequeno rebanho transgênico com uma dezenas de cabras produzindo esta proteína terapêutica no seu leite será suficiente, mesmo com relativa eficiência de purificação, para atender a demanda no Brasil. Exportar seria outro mercado", afirma Vicente Freitas.

Segundo o pesquisador se for obtido um animal transgênico que secreta no seu leite essa proteína, o objetivo é que possa ser multiplicado rapidamente para formar rebanho. "Esse animal transgênico, se for uma fêmea, durante a lactação, vai secretar no seu leite essa proteína de interesse. Se for um macho, como já está no genoma, vai transferir para sua cria, filhos ou filhas", informou.

Para Vicente Freitas, mesmo se só obtiver um animal transgênico, vai ser um grande resultado. Segundo ele, depois da obtenção de uma dezena de cabras transgênicas, a equipe vai procurar contar com outros especialistas que possam extrair e purificar a proteína, e que possam fazer testes de medicamentos. Na UFC, Odorico de Morais Filho, da Farmacologia e do Centro de Pesquisas e Desenvolvimento de Medicamentos, trabalha muito nessa área de testes, observa.

Vicente Freitas observa que não pode precisar quando a proteína estará no mercado. "É um processo lento, muito controlado, que tem de seguir regras para uso em medicina humana extremamente rígidas. Acredito que em torno de 10 anos seria um tempo médio", disse ele, ressalvando que esta não é sua especialidade.

A Rede Nordeste de Biotecnologia (Renorbio) via Banco do Nordeste, investiu R$ 600 mil na pesquisa, informou Vicente Freitas. O pesquisador disse que não foi procurado pela indústria farmacêutica e que ainda não pensou com relação à geração de patente com o conhecimento gerado.

Conforme Vicente Freitas, embora várias linhagens de animais transgênicos possam ser propostos aos consumidores humanos, nenhum deles está amplamente utilizado. "A geração de animais geneticamente modificados para o consumo humano apresenta-se lenta quando comparada à de vegetais, devido a problemas técnicos até agora não resolvidos", afirma.


Data: 24/07/2006