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Reunião Anual da SBPC: Antídoto contra o obscurantismo

Atividades de popularização da ciência são mais do que nunca fundamentais para informar o público

Num mundo em que temas como o criacionismo e o questionamento do uso de animais para pesquisa ganham espaço cada vez maior na esfera pública, é fundamental que haja cada vez mais iniciativas que promovam o conhecimento dos fundamentos científicos por trás dessas questões. “Não há dúvida que a democratização das oportunidades educacionais será um antídoto de longo prazo para esse problema. Mas é preciso fazer algo também em curto prazo, e o melhor caminho é a divulgação científica”, afirmou a socióloga Maria Lúcia Maciel, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, ao apresentar uma mesa-redonda sobre o tema realizado na Reunião Anual da SBPC.

Maciel saudou as iniciativas recentes no campo da divulgação científica promovidas no Brasil, como o aumento de reportagens sobre ciência na imprensa, a criação da semana nacional de ciência e tecnologia, que realiza este ano sua terceira edição, e a decisão do CNPq de destinar recursos a iniciativas nesse domínio. “Mas é necessário fazer mais”, afirmou a socióloga, destacando a responsabilidade dos cientistas para levar ao público os conhecimentos gerados nos centros de pesquisa.

O envolvimento dos pesquisadores com a divulgação científica foi defendido por Antônio Carlos Pavão, professor da Universidade Federal do Pernambuco e diretor do Espaço Ciência. Pavão acredita que os pesquisadores deveriam resgatar o papel histórico exercido por alguns grandes cientistas que, além de produzir o conhecimento, chamavam para si a tarefa de levá-lo ao público.

O caso do italiano Galileu Galilei (1564-1642), que expunha suas idéias em diálogos escritos em italiano, numa época em que o conhecimento circulava apenas em latim, língua elitista, foi citado como exemplo. Pavão lembrou ainda nomes como o do químico e físico inglês Michael Faraday (1791-1867), “um ícone da divulgação científica”, que fazia conferências para o grande público que tiveram continuidade e ocorrem até hoje, e o do físico de origem alemã Albert Einstein (1879-1955), “o maior divulgador da ciência no século 20”.

A especificidade do jornalismo

Uma perspectiva diferente foi destacada pelo jornalista Marcelo Leite, colunista e colaborador da Folha de S. Paulo. Ele discutiu aspectos que distinguem as reportagens sobre ciência publicadas na imprensa diária de outras iniciativas de divulgação. “O jornalismo científico é jornalismo antes de ser científico”, afirmou. “Ele se refere à notícia, que é caracterizada pelo ineditismo e pela relevância.”

Leite defendeu que os repórteres deveriam assumir uma postura mais crítica em relação à ciência – um atributo essencial para a prática do jornalismo. “Até que ponto o jornalista pode escrever com autoridade e de maneira crítica sobre ciência? Um jornalista pode ser crítico de ciência, como existem críticos de arte, música ou literatura? Esse é um ponto de atrito muito comum entre jornalistas e cientistas.“

A apreciação crítica sobre a ciência que Leite defende nos jornalistas deveria se estender ao conjunto do público, na avaliação dele – e cabe justamente às atividades de popularização desenvolver esse espírito crítico na população. “A primeira grande função da divulgação científica é despertar o público para a maravilha do conhecimento sobre a natureza – considero a ciência natural é uma das aventuras intelectuais mais fantásticas da cultura”, avalia o jornalista. “A segunda função é fazer pensar criticamente sobre ciência, levar as pessoas a entender a produção científica no seu contexto social.”


Data: 21/07/2006