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Reunião Anual da SBPC: Interdisciplinaridade é fundamental para pensar os novos dilemas do planeta

Mas a qualidade dos programas de pós-graduação interdisciplinares ainda é insuficiente, alerta a Capes

Uma das áreas que mais crescem dentro da pós-graduação no Brasil – atualmente são 176 cursos –, os estudos interdisciplinares tiveram grande espaço para discussão dentro da 58ª Reunião Anual, que justamente adotou como tema “SBPC&T Semeando Interdisciplinaridade”.

Na quarta-feira, foi a vez de discutir como o assunto vem sendo tratado dentro da pós-graduação brasileira, em encontro que reuniu especialistas da Capes, de Universidades e institutos de pesquisa.

Para Carlos Nobre, representante do Comitê de Área Multidisciplinar da Capes, os novos dilemas mundiais que se apresentam, como efeito estufa e mudanças climáticas, não serão resolvidos sem uma metodologia interdisciplinar. E esta visão, afirma, começa a entrar na pós-graduação brasileira e mundial.

Entretanto, ressalta, a qualidade das pesquisas interdisciplinares dos programas avaliados pela Capes é muito deficiente, em todas as áreas. Na última avaliação, realizada em 2004, 60% dos programas obtiveram conceito 3, o mais baixo da escala de classificação.

Cerca de 30% ficaram com o conceito 4, e apenas 10% obtiveram o conceito 5. Nenhum programa de pós-graduação interdisciplinar atingiu conceito 6 ou 7, considerados de excelência pela Capes.

E, para a próxima avaliação, que será realizada no próximo ano, Nobre disse que a Capes não percebeu uma possibilidade de melhora considerável nas avaliações. “Pode ser que a avassaladora criação de novos cursos na área esteja levando a curva de avaliação para baixo. Mas a situação é preocupante”, afirma.

Em mensagem gravada, o diretor de Avaliação da Capes, Renato Janine Ribeiro, confirmou que já se nota um crescimento da pesquisa e da formação de recursos humanos com foco na interdisciplinaridade. Ele garantiu que cursos com esse enfoque têm sido acolhidos com simpatia pela agência, ainda que seja uma das áreas com maior número de programas reprovados.

Embora considere como essencial a formação interdisciplinar no caso dos mestrados profissionais, Janine disse ainda ter dúvidas quanto aos doutorados interdisciplinares, pois ainda não está claro como garantir uma formação sólida e não fragmentada nesta modalidade.

“Existe o risco de transformar os programas de pós-graduação em simples agregados de professores de algumas áreas, principalmente no interior”, apontou.

Programas

Para Héctor Ricardo Leis, coordenador do Coordenador do Laboratório de Estudos Transdisciplinares em Filosofia e Ciências Humanas da UFSC, é preciso mudar a estrutura da Universidade para conseguir bons programas interdisciplinares. “Temos na Universidade brasileira uma camisa-de-força, que tem um nome: departamentos”.

Leis defende a importância da interdisciplinaridade também na graduação, ponto que se mostrou controverso entre os participantes do encontro.

Para Dimas Floriani, professor titular do Depto. de Ciências Sociais da UFPR, a interdisciplinaridade funciona apenas na pesquisa. “É preciso conhecer muito bem a teoria do meu campo de estudo para dialogar com alguém de outra área, e fazer isso com competência. Por isso defendo que a interdisciplinaridade aconteça no âmbito da pesquisa, e não na graduação”, explicou.

O aproveitamento dos profissionais formados em áreas interdisciplinares no mercado de trabalho é motivo de preocupação entre os participantes. Arlindo Philippi Jr., professor titular da USP, diz que algumas empresas começam a exigir formação interdisciplinar para algumas funções, mas que ainda são necessários mecanismos institucionais para contornar barreiras.

Carlos Nobre ressaltou que as agências têm investido em programas de incentivo a projetos de pesquisa no campo da interdisciplinaridade. Segundo ele, a Capes apoiou no ano passado mais de 50 eventos interdisciplinares.

O representante do Comitê de Área Multidisciplinar não defende mudanças estruturais nos programas de pós-graduação já consolidados, mas sugere que se aproveite a criação de novas instituições e campi para implementar cursos já nos moldes da interdisciplinaridade.

“Não tenho dúvidas de que podemos formar doutores com formação sólida em mais de uma disciplina, com uma produção de excelência. O desafio é conseguirmos formar doutores que cruzem as fronteiras disciplinares”, concluiu.


Data: 21/07/2006