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Reunião Anual da SBPC: MCT vai realizar ainda este ano 2ª enquete nacional de percepção pública da C&T

O objetivo é entender melhor como a sociedade percebe a ciência e estimular a utilização mais freqüente deste tipo de mecanismo

Os participantes do encontro sobre percepção pública da ciência, realizado nesta quinta-feira, em Florianópolis, discutiram a importância de se conhecer e de tornar públicos valores e atitudes que a sociedade tem e explicita em relação à ciência e à tecnologia.

Para isso, é preciso que o Brasil desenvolva uma tradição de utilização de mecanismos que permitam entender melhor a relação entre a ciência e a sociedade, diagnosticaram os presentes.

Até hoje, o país realizou uma única enquete com esta finalidade, conduzida pelo CNPq em 1987. Ao assumir o Departamento de Difusão e Popularização da Ciência do MCT no governo Lula, o físico Ildeu de Castro Moreira propôs a realização da segunda enquete nacional de percepção pública da ciência. Após um ano de preparação, a enquête será realizada no segundo semestre deste ano.

No encontro, Moreira apresentou o questionário que será utilizado na enquete. São 25 perguntas, que serão respondidas por uma mostra representativa da população brasileira.

As questões visam avaliar o interesse e informação dos entrevistados em C&T, atitudes e visões que têm sobre as mesmas e o seu conhecimento sobre o estado da arte destas áreas no Brasil.

Ficaram de fora do questionário perguntas sobre conceitos e conteúdos científicos, comuns em enquetes deste tipo realizadas em outros países da América Latina. Esta foi uma decisão do grupo que preparou o questionário.

Segundo Moreira, perguntas do tipo "a Terra gira em torno do Sol ou o Sol gira em torno da terra?", tiradas do contexto, podem ser interpretadas de diferentes formas pelas pessoas. Além disso, ele frisou que o objetivo da enquete não é medir o conhecimento sobre conceitos científicos da sociedade.

Carmelo Polino, da Rede Ibero-americana de Indicadores de Ciência e Tecnologia (Rycyt), ressaltou a importância deste tipo de enquete para estimular a reflexão crítica sobre o impacto da ciência e da tecnologia na sociedade. "Tecnologias vêm sendo incorporadas sem refletirmos sobre o impacto que elas têm na sociedade".

Polino conduziu pesquisas de percepção pública de ciência na Argentina e tem ajudado outros países, inclusive o Brasil, a adaptar e utilizar este tipo de pesquisa. Para ele, não é adequado replicar este tipo de pesquisa sem antes refletir sobre a realidade social e política de cada país em que é conduzida.

Além disso, enfatizou que estas enquetes ainda são instrumentos restritos para estudar a cultura científica de cada país.

Julia Guivant, cientista social da UFSC, criticou no encontro o modelo de déficit reproduzido por pesquisas de percepção pública de ciência em todo o mundo, que considera o público um pote vazio que precisa ser preenchido com conhecimento. "Estes estudos costumam concluir que quanto mais informações tem o público, mais ele aceita a ciência e a tecnologia", afirmou.

Ela analisou os resultados de pesquisas de opinião pública realizadas pelo Ibope em 2003 e 2004 sobre os transgênicos. Embora tenham demonstrado grande rejeição dos brasileiros por estes produtos, a Monsanto, multinacional da área de biotecnologia, argumentou na época que quanto maior o nível de informação, maior é a aceitação.

Guivant condenou ainda a falta de interesse dos cientistas em saber o que a sociedade pensa sobre eles. Neste sentido, defendeu a enquête como uma forma de aproximar mais estes dois atores. "É fundamental para o cientista saber o que pensam as pessoas sobre eles."

Moreira encerrou as discussões sugerindo que a SBPC estimule as sociedades científicas a utilizarem mecanismos para avaliar a percepção pública da ciência e para possibilitar uma participação mais representativa da sociedade em decisões importantes relacionadas à ciência e tecnologia.


Data: 21/07/2006